05 - Coelhos

278 33 5
                                    

   A-Yuan ajeitou sua fita de testa uma última vez olhando-se através do espelho. Suas pequenas mãos colocaram no lugar alguns fios de cabelo desalinhados, e um suspiro baixo deixou seus lábios. Lan XiChen após banhá-lo e vesti-lo, avisou que iria até Lan Qiren para conversar sobre assuntos relacionados ao clã antes do desjejum. A-Yuan tentou passar seu tempo da forma menos tediosa possível, brincando com sua borboleta e analisando os papéis de Lan XiChen mesmo que não entendesse nada do que estava escrito. Como prometido, pouco antes do sino tocar, Lan Huan estava de volta carregando seu sorriso acolhedor no rosto. Vendo A-Yuan analisar seus manuscritos de forma cuidadosa mantendo um vinco entre as sobrancelhas, segurou o riso antes de se sentar a sua frente. 

     — O que está fazendo, A-Yuan? — Perguntou. O menino revisou mais alguns traços.

     — Seus desenhos são muito feios. — Olhou sério para Lan XiChen, apontando para rabiscos ocasionais que o homem acabou por fazer quando estava entediado. — Veja, o que é isso? Não se parece com nada, Huan-gege. 

     — Oh, você achou? — O homem fingiu extremo desapontamento. — Eu me esforcei... 

     — Hmm. — A-Yuan parecia pensar no que dizer. Então se levantou e caminhou até ele, afastando suas mãos de seu colo para sentar-se ali. Lan XiChen mantinha uma expressão surpresa no rosto pela atitude do menino, um sorriso inconscientemente cresceu em seus lábios. — Não fique triste, Huan-gege. Você pode melhorar. Vamos desenhar. — Puxou um dos papéis em branco antes de agarrar o pincel em sua pequena mão. Dando o seu melhor contornou árvores e um rio, entregando o pincel para Lan XiChen, que completou com uma bela casa traçada com delicados traços longos que fizeram os olhos de A-Yuan brilharem. — Desenhe coelhos! — Pediu animado.

     — Você gostou? — Lan XiChen sorriu. 

     — Sim, Huan-gege! Você pode desenhar coelhos, por favor? — Perguntou novamente. Pela primeira vez em meses ZeWu-Jun enxergou um traço de alegria e infantilidade em A-Yuan. Continuou a desenhar o que ele lhe pedia somente para ver o sorriso aberto como ele nunca havia visto. Havia descoberto algo que A-Yuan gostava muito de fazer, desenhar e ver bons desenhos. — Huan-gege é muito bom. Só estava sendo muito ruim. — A-Yuan elogiou ou ao menos tentou, acariciando o antebraço do outro. Lan XiChen deixou uma discreta risada ecoasse pelo cômodo, agradecendo-o e devolvendo o carinho com um afago em seus cabelos. Em seguida, o sino tocou. O sorriso antes presente nos lábios de A-Yuan diminuiu gradativamente. Lan XiChen suspirou mas lhe deu um sorriso consolador, antes de se levantar e colocá-lo de pé ao seu lado. Diante a porta, a postura do pequeno A-Yuan mudou e seu pequeno braço guiou-se para as costas. Lan XiChen sorriu com ternura, antes de caminhar ao seu lado. 

     Horas mais tarde, Lan XiChen voltou para continuar seus assuntos com Lan Qiren. Disse que A-Yuan poderia andar pelos Recantos da Nuvem contanto que não fosse tão longe. O menino caminhava pelas folhagens tentando encontrar os coelhos de Lan WangJi. Vendo-os de longe, sorriu antes de correr até eles e sentar-se ali no meio. Eles eram seus únicos amigos. Ele podia correr para longe e eles ainda o seguiriam. Ele podia pular e eles certamente fariam o mesmo, e A-Yuan achava aquilo muito engraçado. Suas risadas animadas chamavam a atenção de algumas pessoas que passavam por ali. Algumas sorriam junto, e outras retorciam o rosto pelo branco perfeito de suas vestes sendo arruinado. Mas ele não se importava, nem chegou a perceber. Uma euforia que há muito não sentia o alegrou, e ele se lembrou que costumava sentir aquilo todos os dias. Deitou-se, rindo para o coelho que avançou com lambidinhas em suas bochechas rosadas. 

     — Espere coelhinho, espere. — Ele pedia entre risadas. Ouvindo passos se aproximarem, ele se sentou novamente na grama. Um pequeno grupo de crianças com suas famílias se aproximavam, e ele sentiu sua alegria se esvair no ar. Continuou sentado esperando que eles apenas passassem por si e fossem embora, então ele ainda poderia brincar como antes. Mas eles pararam a sua frente, e continuaram o olhando. 

Desejo que se lembre Onde histórias criam vida. Descubra agora