09 - Ponte de madeira

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    A-Yuan esperava por Lan XiChen todos os dias na entrada dos Recantos da Nuvem enquanto alimentava os coelhos junto a Lan WangJi. Seus olhinhos ansiosos sempre se direcionavam ao portal quando percebiam qualquer agitação. Pela primeira vez havia passado muitos dias longe de seu Huan-gege, e por mais que não estivesse sozinho, a presença de uma pessoa não substitui a de outra. Lan Zhan percebia isso, o repreendendo na maioria das vezes.

     — Não seja ansioso. — Pediu, A-Yuan concordou. — Me ajude.

     — Sim. — Disse indo até a cesta de Lan WangJi para pegar cenouras e repolhos, dando aos coelhos. — WangJi-gege, coelhos gostam muito de cenoura.

     — Hmn. — Concordou, assistindo A-Yuan morder uma. — Você gosta?

     — Sim. Agora sim. Não devemos ser seletivos com comida. — Repetiu o que Lan WangJi havia lhe dito uma vez, vendo o homem concordar. — HanGuang-Jun. — O menino disse. Lan WangJi lhe fitou por alguns segundos esperando que continuasse, mas aparentemente não havia nada para dizer.

     — O que? — Perguntou por fim.

     — É bonito o seu nome, gege. HanGuang-Jun. — Repetiu, arrancando um leve sorriso de Lan Zhan. Seu título forte e intimidador pronunciado pela voz infantil se tornava adorável.

     — É um título.

     — Oh, um título! — A-Yuan exclamou muito animado. — O que é?

     — Nomenclatura dada a você pela mensagem que suas ações transmitem.

     — Eu não tenho um título.

     — Terá.

     — Gege escolherá como meu nome de cortesia?

     — Não.

     — Huan-gege tem um título? — Questionou, assistindo-o assentir. — Como é?

     — ZeWu-Jun.

     — ZeWu-Jun. — A-Yuan repetiu. — Eu já ouvi antes. Os colegas chamam ele assim. ZeWu-Jun. — Imitou a voz das crianças, rindo em seguida. Suas ações extremamente parecidas com as de Wei Wuxian. Seu sorriso tão travesso quanto.

     — Não zombe. — Lan WangJi disse.

     — Desculpe. — A-Yuan tampou a boca escondendo seu sorriso que ainda estava ali. Lan WangJi sentou-se na grama ao lado dos coelhos, que logo se amontoaram ao redor de si. O sol já se punha no horizonte, e o tempo esfriava sendo possível ouvir os assovios dos ventos. As folhas das árvores ao redor se agitavam. A-Yuan afastou os coelhos para se sentar no colo de HanGuang-Jun, deitando sua cabeça em seu peito. Seus olhos sonolentos quase se fecharam a partir do momento em que o homem passou a escorregar os dedos pelas mechas de seus cabelos soltos e sem penteado, enfeitados apenas com sua fita de testa. Lan Sizhui virou seu rosto de lado antes de mergulhar num raso cochilo, da qual ainda podia ouvir o que se passava ao seu redor, mas estava disperso demais para reagir a qualquer coisa. Lan WangJi ainda deslizava seus dedos pelos longos cabelos de A-Yuan, exausto após cumprir a maioria de suas obrigações do dia antes do entardecer. O homem suspirou baixo ao sentir a cabeça do menino no exato local em que sua queimadura cicatrizava lentamente e dolorosamente, mas não o afastou. Naquele momento, Lan WangJi quis derramar lágrimas por seus olhos dourados. A emoção em seu coração e os sentimentos que afloravam em seu peito todos os dias se tornaram constantes. Ele sempre foi muito bom em lidar com seus próprios problemas internamente, mas aquilo já não cabia mais em si. Era grande demais. Avassalador demais. Destrutivo demais. Era demais até para o nobre e renomado HanGuang-Jun.

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