DEZESSEIS

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SANTIAGO



Acordo com o som do celular tocando, olho o visor e já me irrito. É o segurança que deixei cuidando de Alba.



- O que aconteceu agora? - disparo.



-- Ela não está bem.



- Leve-a ao hospital então.



- Senhor, ela bebeu praticamente a adega inteira de vinhos.



- Faça um café pra ela.



- A senhorita Alba se trancou no escritório do pai.



- Certo, chego aí em vinte minutos.



Levanto e me arrumo mais rápido. Cansado dessa situação, Alba é uma responsabilidade que definitivamente estou dispensando.


Seu pai morreu de câncer, ela não tem mais ninguém. Espero que saiba se cuidar sozinha, porque eu abro mão dela.



Chego em sua casa em tempo recorde, entro direto e vou para o escritório onde ela ainda está trancada. Não perco tempo batendo na porta, sei que ela não abriria mesmo. Chuto a porta duas vezes até a maçaneta romper.


Encontro Alba sentada no chão segurando uma fotografia do pai.



- O que quer aqui? - ela mal aguenta falar.



- Sabe, eu era amigo do seu pai. Ele era um bom homem, antes dele morrer me pediu pra cuidar de você. Ele queria que você se casasse comigo, e eu aceitei. Mas você já deixou claro que não me quer.



- Não gosto de você.



- Eu sei, e eu também não gosto de você Alba.



- Então, porque não termina com essa loucura.



- Isso que vim fazer aqui.



- Sério? Vai me deixar livre?



- Eu vou. Está livre pra fazer o que quiser, estou quebrando o acordo que fiz com seu pai.



- Obrigada.



- Espero que saiba se cuidar sozinha.



- Eu sei. Só preciso da sua ajuda pra vender a casa e o terreno. Depois vou embora.



- Como eu disse, espero que saiba se cuidar sozinha. Eu não vou ajudar você.



- Mas... Eu não sei como vender tudo só.



- Você vai aprender, adeus Alba.



- Santiago, não pode ir embora assim.



- Seu pai tinha advogados entre em contato com um deles e peça ajuda.



- Não tenho como pagar.



- Aí querida, o problema já não é meu.



Um peso enorme sai das minhas costas. Ter um relacionamento com Alba nunca daria certo, somos muito diferentes.



Dentro do carro, ligo no celular da Zoe mas a ligação vai direto pra caixa postal. Retorno mais três vezes e nada. Disco o número da Lana.



- Senhor, como vai?



- Bem e você?



- Ótima, obrigada por perguntar.



- Onde está a Zoe?



- Ela ainda não desceu.



- Estão esperando ela?



- Sim, senhor.



- Não esperem. - desligo sem escutar sua resposta. Lana é outro caso que tenho que resolver, mas ela não estou disposto a deixar ir.


Volto a ligar pro celular da maldita e nada de atender.



Zoe mexe com a droga da minha cabeça, ela ainda vai acabar me deixando doido.



Assim que chego em casa, vou pro escritório. Pego a pasta com seu nome, não queria ter que ler sobre ela. Queria que contasse, mas sei que não vai fazer.


Folheie a pasta. Filha única, tem dezoito anos prestes a fazer dezenove. Leio que ela ficou um ano internada numa clínica psiquiátrica por agredir a própria mãe. Fico intrigado, porque ela machucaria a mãe dela.


Vejo a foto do seu pai, ela não se parece muito com ele.


Meu corpo trava, meu coração fica acelerado, minhas mãos tremem. É ela.


Yolanda.


A mulher que fodeu com minha mente anos atrás. Eu a amei, pensei que ela me amava também. Yolanda quis ir embora, eu não queria deixar, ela era minha.


Mas um dia cheguei no apartamento e a encontrei dentro da banheira com os pulsos cortados, corri para o hospital com ela. Yolanda, disse que estava cansada daquela vida. Se não pudesse ir embora, preferia morrer. Então, eu a deixei livre.


Não tive mais notícias.


E agora descubro isso.


Ela é a mãe da Zoe.


É a vida brincando com a minha cara.



Meu celular toca, vejo que é Apollo.



- Pronto.



- Zoe caiu no banheiro por causa de uma tontura.



- Ela está bem?



- Com o rosto um pouco vermelho, mas bem.



- Certo.



Desligo.



Passo os dedos pela foto da Yolanda. Os anos passaram mas ela ainda continua bela. Olhando a foto, percebo que já não sinto mais o mesmo por ela. Por tempos, fiquei ansioso em vê-la por acaso em algum lugar, porém, nunca aconteceu. Agora que sei onde posso encontra-la não quero. Talvez, seja porque agora eu tenho a Zoe.



Ligo para ela novamente, que resolve atender. Convido a para jantar fora, mas deixo claro que não é nada romântico. Sinto sua decepção, mas não ligo.


Quando falo minhas reais intenções, ela desconversa e diz que não quer sair. Aceito sua decisão, não iremos sair.


Só que eu ainda irei no apartamento, chegou a hora de faze-la me contar sobre ela mesmo eu já sabendo. Quero que seja verdadeira comigo. Não sou mais um adolescente, sou um homem. E não tenho tempo para joguinhos.



Mando mensagem para as meninas, informo que estarei lá hoje e quero conversar com elas. Está na hora de contar o que havia pensado mas que até o momento não tinha decidido. Com Alba fora da minha vida, irei arrumar outra mulher para ser minha esposa. Meu pai está cobrando que eu me case, ele diz que homens casados são mais respeitados. Eu acho isso uma grande merda, mas não disse a ele.


Meu pai está velho, e eu quero fazer sua vontade que é me ver casado. Darei isso a ele.


Conversei com meu filho, perguntei o que ele achava. Raphael disse que a decisão era minha.


Então, eu decidi. Vou sim me casar, e já tenho a escolhida.


Lana gosta da fazenda, ela mesma disse. Casando comigo, ela viverá onde cresceu. E tenho outra vantagem, Lana jamais achara ruim quando eu me encontrar com outras.




MINHA OBSESSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora