--- Sou eu... Sou eu, Sophia!
Era Douglas.
O menino estava cansado, completamente ofegante. Ele continuou com a mão repousada no ombro de sua amiga, enquanto tentava recuperar o fôlego.
--- Você não sabe o que eu... O que eu vi. Era horrível. - o peito largo dele subia e descia por conta da respiração forte --- Sophia, você está bem?
A menina não respondeu. Sua cabeça girou como a de uma coruja, e os olhos dela que eram castanhos estavam azuis. Essa visão fez com que Douglas afastasse a sua mão rapidamente.
--- Sophia não está aqui. - uma voz tenebrosa, masculina e multiplicada saiu dos lábios da garota.
--- O que... O que fez com a minha amiga? - Douglas conseguiu perguntar.
--- Eu a matei. Este corpo agora me pertence. - um sorriso maléfico brotou no rosto delicado da menina --- Eu sinto fome. E você me parece muito apetitoso .
O menino balançou a cabeça negativamente e começou a correr na direção oposta. Mas quando pensou que tinha escapado, o corpo possuído de sua amiga surgiu na sua frente, fazendo ele parar.
--- Aonde pensa que vai, garoto? - com uma velocidade descomunal, ela pulou na parede e andou igualmente à uma aranha --- Não deveria ter entrado aqui. A sua alma agora é minha, e eu vou me alimentar dela.
--- Não, por favor, não.
--- Siim.
Aquela voz era assustadora. Muito diferente da voz doce e aveludada de Sophia. Douglas temia o fato de sua amiga estar realmente morta.
--- Não, eu não.
Ele começou a correr novamente e ouviu uma gargalhada assustadoramente alta e grossa.
--- Pode correr, menino. Só torna tudo mais divertido para mim.
As batidas do coração de Douglas era audível, como se o órgão tivesse sido colocado na sua cabeça. A adrenalina percorria por todas as veias presentes em seu corpo, dando um pouco mais de força para que ele pudesse continuar correndo.
O corpo de sua amiga, agora abrigando um espírito demoníaco, corria atrás dele com as mãos no chão, apresentando uma postura animalesca. Dentes afiados cresceram, tão grandes, que mal cabiam na boca, o que fazia a menina babar consideravelmente.
Douglas passou correndo em frente a escada onde Lucas e aquele ser repulsivo estavam há poucos instantes, mas ali já não se encontravam mais, pois o menino desatou a correr e conseguiu entrar em um dos cômodos da casa, fechando a porta logo depois.
Entretanto, a coisa com pedaços de pele soltando do corpo, começou a dar socos na porta, com rosnados horripilantes. Lucas não sabia o que fazer. O seu cérebro entrou em pane e ele não estava conseguindo raciocinar direito. E numa tentativa de acabar com aquele tormento, ele foi até uma janela quebrada, olhou para baixo e cogitou pular. Mas era muito alto. E os seus amigos... Seus amigos ainda estavam na casa.
Contudo, a criatura ainda tentava derrubar a porta, e estava chegando perto.
--- Pensa, Lucas, pensa. - falava, enquanto dava tapas na própria cabeça.
E foi então que ele finalmente lembrou-se de que estava carregando uma mochila nas costas. Rapidamente abaixou-se e jogou a mochila no chão. Ao abrir, encontrou algumas coisas que poderiam ser últeis: uma corda de poliéster, uma faca de pesca - que ele pegou do pai - e um isqueiro.
--- Vai ter que servir.
Respirou fundo, jogou a corda nos ombros, segurou a faca com uma mão e o isqueiro com a outra.
Encarou a porta e esperou que ela viesse ao chão.
Seu âmago estava a ponto de explodir, mas ele não podia se render. Precisava salvar a sua vida, e quem sabe a dos amigos também.
Ele apertou firme o cabo da faca. Tentava enxergar alguma coisa naquele lugar pouco iluminado, com apenas a luz da lua entrando pela janela. A lanterna já tinha sido perdida e ele nem sabia onde.
Um buraco foi feito na porta e a mão do demônio passou, dessa vez, com grandes garras negras, cobertas com larvas e sangue. E dessa forma, ficou mais fácil para ele, enfim, derrubar a peça de madeira.
--- Venha cá, seu desgraçado. - Lucas rosnou.
O bicho devolveu o rosnado e passou pela porta, não se importando com as lascas de madeira rasgando a sua carne estragada. Ele correu na direção do menino, que com uma habilidade incrível, também correu e abaixou-se, passando por debaixo das pernas da criatura, deslizando com os joelhos.
--- As aulas patéticas de dança que Sophia me obrigou a fazer serviram para alguma coisa.
Lucas levantou com rapidez e aproveitou que o monstro ainda estava de costas, sem entender o que aconteceu, para correr até ele e cravar a faca no meio de sua coluna, ficando pendurado.
Aquela coisa horrenda gritou em agonia e girou, numa tentativa de tirar a faca de suas costas que causava dor, e com isso, Lucas que ainda segurava no cabo da arma branca, girou junto e o seu corpo chocou-se contra uma parede, porém ele não soltou.
O garoto com uma valentia que nem ele mesmo sabia de onde vinha, acendeu o isqueiro e encostou o fogo no pescoço do demônio. Rapidamente as chamas se alastraram e enfim Lucas soltou a faca. Ele sentiu algo em seus braços e quando olhou, gritou ao perceber algumas larvas rastejando em sua pele, e logo as tirou com as mãos.
--- Que nojo.
O ser sobrenatural gritava e girava, inquieto por conta do fogo que lhe queimava. Aquele fogo era diferente do seu fogo satânico. Aquele fogo ardia. Aquele fogo estava lhe matando; matando lentamente.
Lucas não esperou para ver o resultado final; ele correu para fora do cômodo, deixando a mochila e a faca para trás.
Agora, ele precisava achar os seus amigos e finalmente sair daquela casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não Olhe Para Trás (conto de terror)
Terror🥇Primeiro lugar na categoria terror. [Concurso Galáxia] 🥇Primeiro lugar na categoria conto. [Concurso Lua Produções] 🏅Classificação única na categoria terror. [Concurso Imagination] Numa aventura perigosa, Sophia, Douglas e Lucas desafiam a própr...