Sophia sabia que era um erro invadir a casa do falecido senhor Joaquim. Mas entre ser chamada de amarelona ou talvez, quem sabe, morrer... Ela escolheu brincar com a sorte.
Juntamente com os seus amigos, Lucas e Douglas, na madrugada de uma terça feira chuvosa, Sophia se preparou para uma das maiores aventuras — ou loucuras — da sua vida.
O trio de amigos parou em frente a grande casa de dois andares e refletiram por alguns minutos antes de seguir em frente. Eles entraram na casa por uma janela quebrada, tomando cuidado para não se cortarem com o vidro afiado.
— Estamos dentro. — disse Lucas.
— Por onde começamos? — Douglas perguntou.
— Vamos nos separar.
Sophia tremeu ao ouvir a sugestão. Ficar sozinha naquela casa estava fora de cogitação.
— Acho uma péssima ideia. Vamos ficar juntos. — ela contestou.
— Está com medo? — Lucas perguntou com um tom zombeteiro na voz.
— É claro que não. — disse ela com a voz trêmula — Mas se um de nós acabar se machucando?
— Grita, oras.
— No meio da madrugada?
Ele suspirou, impaciente.
— Se tomarem cuidado, nada vai acontecer. Agora vamos.
O garoto de estatura média e corpo magro ligou a sua lanterna e seguiu para a escada que levava para o segundo andar.
Sophia revirou os olhos e pegou o caminho da direita, enquanto Douglas o da esquerda.
A casa era aparentemente normal. Os móveis ainda estavam em seus devidos lugares, porém cobertos de poeira. O corredor o qual Sophia escolheu explorar era extenso e estreito, com muitas portas em ambos os lados. Ela ainda não tinha decidido em qual arriscaria entrar. Apenas continuou caminhando, como se fosse encontrar alguma coisa no final do corredor.
E de repente, ela parou. Um par de olhos azuis surgiu na escuridão, como num passe de mágica. A mão suada e trêmula de Sophia apertava a lanterna com força. Ela não sabia se o seu coração estava batendo rápido demais ou parado de vez.
— Quem... Quem está aí?
🕸🕷🕸
No andar de cima, Lucas vasculhava tudo, em busca de algo valioso. Segundo os adultos daquela cidade, o Senhor Joaquim guardava um tesouro na casa, mas que estava tão bem escondido que ninguém foi capaz de encontrá-lo.
As poucas pessoas que tentaram, contaram histórias sobre a casa ser amaldiçoada, abrigando o espírito do antigo dono.
Para Lucas, eram apenas histórias para assustar criancinhas. E para provar a sua tese, ele fez questão de entrar na casa e conhecer todos os cômodos. Se achasse o tal tesouro, sairia no lucro.
Ele abriu a primeira porta que encontrou e entrou no recinto. Tateou a parede em busca de um interruptor, e o encontrou, mas este não funcionou. Quando direcionou a lanterna para o teto, percebeu que não tinha lâmpada.
— Ótimo. — sussurrou com ironia.
O garoto adentrou ainda mais no local e em questão de segundos a porta fechou com força, assustando ele , fazendo-o deixar a lanterna cair. Com rapidez, ele abaixou e pegou o aparelho, iluminando a porta velha e gasta. Algumas marcas de arranhões — provavelmente de unhas — deixavam uma vibe meio macabra.
— Que palhaçada é essa?
O medo era perceptível em sua voz. Na maneira em como fala, trêmulo e ofegante.
— Sophia? Douglas?
O silêncio foi a sua resposta.
Lucas foi até a porta e quando tocou na maçaneta, sentiu a sua mão queimar como se estivesse pegando no próprio fogo. Ele se afastou imediatamente e assoprou a mão numa tentativa de esfriar-la e aliviar o ardor.
Então, virou-se, girando a lanterna para todos os lados, à procura de uma outra saída. O raciocínio quase parando de funcionar, devido ao barulho alto das batidas de seu coração. Ele conseguiu visualizar um guarda roupas, uma penteadeira, uma cama vazia, alguns pufes e uma janela de vidro. Lucas podia jurar que viu marcas de dedos no vidro, e assustado, girou a lanterna para outra direção.
E deparou-se com um rosto! Velho e enrugado. A boca estava murcha pela falta de dentes. Os olhos caídos e avermelhados. E no lugar de um nariz, havia apenas dois orifícios fundos.
Lucas entrou em pânico, ainda mais quando a lanterna simplesmente parou de funcionar. Numa falha tentativa de fazê-la ligar, ele começou a dar tapas no aparelho, enquanto andava de costas, com medo de perder aquele ser de vista - porque, por mais que não estivesse enxergando no escuro, ele sentia a presença.
— Porcaria, liga. — resmungou, quase chorando.
Sussurros incompreensíveis fizeram-se ouvir, colocando Lucas num estado de alerta misturado com pavor, que só piorou quando ele sentiu suas costas baterem em algo duro, a parede talvez; ele não teve coragem de verificar.
E aquele rosto mortificado que mexia e sussurrava coisas difíceis de entender, começou a se mover na direção do menino, que tremia da cabeça aos pés, assim como também suava.
Lucas já estava se conformando com a sua morte. A esperança de que conseguiria sair daquela casa evaporou como água no fogo.
Mas como alguns acreditam, sempre existe uma luz no fim do túnel. Um grito alto e assustador ecoou por toda a casa, a lanterna finalmente voltou a funcionar e aquele rosto sumiu. O garoto soltou um suspiro de puro alívio. Por um momento, ele acreditou que aquela não seria a sua hora. Até ouvir o grito novamente.
Talvez aquele seria sim o dia da sua morte, mas ela estava apenas brincando com ele antes de devorá-lo de uma vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não Olhe Para Trás (conto de terror)
Terror🥇Primeiro lugar na categoria terror. [Concurso Galáxia] 🥇Primeiro lugar na categoria conto. [Concurso Lua Produções] 🏅Classificação única na categoria terror. [Concurso Imagination] Numa aventura perigosa, Sophia, Douglas e Lucas desafiam a própr...