Douglas corria, vez ou outra olhando para trás. A sua amiga endemoniada ainda estava correndo atrás dele, de quatro, como um cachorro feroz.
E em uma das espiadas, Douglas acabou chocando-se contra uma pilastra e caindo no chão. O demônio parou de correr.
O menino não sabia em que parte da casa estava. Parecia um salão de festas, com várias colunas, vidraças, cadeiras e mesas espalhadas pelo local. E com dificuldade ele se pôs de pé, dando uma rápida averiguada no lugar.
A menina rosnou atrás dele e o barulho assustador fez com que Douglas vira-se, com o coração quase saltando para fora do peito. Ele já estava praticamente desistindo; o seu corpo estava muito cansado e dolorido. Mal conseguia se manter de pé, devido as fortes dores nos pés e principalmente nos joelhos.
Ele observou o corpo magro da garota levantar, ficando sobre os dois pés, sem tirar os olhos dele. A boca dela, carregada de dentes afiados, escorrendo uma baba escura, apresentou-lhe o que parecia ser um sorriso.
--- Desistiu tão rápido, menino - a voz que saía por entre os lábios do corpo endomoniado não tinha nada a ver com Sophia --- Seu corpo gordo não te deixa mais correr? - perguntou com deboche, virando a cabeça para o lado como um cachorrinho curioso.
--- Você é um espírito bem preconceituoso, sabia? - Douglas conseguiu dizer.
A gargalhada do demônio arrepiou-lhe até os pelos que ele nem tinha noção que era possível arrepiar. Estava com medo, sim. Mas a fadiga era maior. Douglas sentia o peito arder pelo quase esgotamento de ar; estava demasiadamente ofegante.
--- E agora vou alimentar-me de você, gordinho.
O menino suspirou com pesar; desistiu. Não tinha mais o que fazer; tentar correr só adiaria o inevitável. A morte era certa, e ele estava convencido desse fato.
--- Pode vim. A minha alma é sua. - entregou-se.
A boca do ser maligno aumentou de tamanho, quando ele foi se aproximando lentamente do garoto. E esse gesto causou um pavor ainda maior em Douglas. Ele percebeu que iria mesmo morrer, e então algo dentro dele foi ativado para que ele pudesse continuar tentando sair daquela casa com vida.
--- Quer saber, eu mudei de ideia. - Douglas virou-se com uma rapidez incrível e voltou a correr.
O demônio rosnou com raiva, pondo-se novamente de quatro e voltando a correr atrás do garoto. Ele era rápido, subiu numa parede para facilitar na hora de pular em cima de Douglas, que corria em círculos no salão.
--- Você corre como uma barata tonta. - falou o demônio, gozando da cara de Douglas.
O menino não disse nada, preferiu economizar o seu fôlego. Enquanto corria, tentava bolar um plano para escapar, mas nada, absolutamente nada vinha em sua mente. Ele não era o inteligente dos amigos. A pessoa mais inteligente do trio era justamente aquela que foi possuída, e ele se viu sem muitas alternativas, ou sem nenhuma.
A criatura já estava perto o bastante para pular em cima de Douglas, e assim o fez. O menino caiu no chão, batendo a boca e mordendo o próprio lábio que sangrou na mesma hora; o gosto metálico tomou a sua língua e ele sentiu enjoo.
--- Você é meu. - falou o demônio, aproximando a boca enorme da cabeça coberta por fios de cabelo lisos e loiros, para sugar-lhe a alma.
--- Deixe o meu amigo em paz, coisa desprezível.
Lucas apareceu no salão e lançou a corda no pescoço da criatura, puxando-o de cima de Douglas. O demônio debateu-se, colocando as mãos na corda, tentando tirar de seu pescoço, mas Lucas segurou firme, usando toda a sua força para não soltar.
--- Nossa, Lucas. Nunca pensei que ficaria tão feliz em te ver. - disse Douglas, levantando-se com o corpo trêmulo.
--- Também estou feliz por você estar vivo. Agora venha cá e me ajude.
O loiro logo correu até o seu amigo e o ajudou a segurar a corda. O corpo de Sophia se debatia e rosnava sem parar; estava mais forte do que o natural.
--- Caramba, para uma menina pequena e magra, ela está bem forte. - Lucas comentou, cerrando os dentes, devido a força que estava fazendo para não soltar a corda; sua pele negra suava, ao ponto de brilhar naquele lugar pouco iluminado.
--- Não é Sophia que está ali. Tem um espírito dentro de seu corpo. - Douglas explicou.
--- É, eu sei. E como faz para tirar?
--- Tenho cara de exorcista?
--- É claro que não. Mas você não tem nenhuma ideia do que podemos fazer?
--- Uma oração, talvez.
--- Eu não sei orar.
--- Todos os dias a minha avó ouve a missa pelo rádio. Aprendi algumas coisas.
--- E o que está esperando? Vamos, tente.
--- Tudo bem, tudo bem. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte.
Lucas olhou de soslaio para o seu amigo. Aquilo não estava funcionando. O demônio gritava, rosnava e ainda se debatia, tentando se libertar da corda. Os meninos já estavam ficando sem força para segurar.
--- Tenta outra coisa, Douglas! Isso não está dando certo!
Douglas choramingou, desesperado; não sabia o que fazer.
--- Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, vem a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu...
O demônio gargalhou, interrompendo Douglas.
--- Vocês acham mesmo que uma oração decorada vai me deter? Crianças tolas. Precisam de muito mais do que isso. Chega de brincadeira, eu sinto sede de alma.
E então, com um forte puxão, usando o corpo de Sophia, o espírito maligno conseguiu derrubar os meninos e libertou-se da corda.
--- Isso está sendo mais difícil do que imaginei. - disse Lucas.
--- Nós vamos morrer. - Douglas lamentou.
--- Não fale asneiras. Vamos sair daqui, prometo.
--- Como?
--- Eu não sei. Mas vamos sair daqui. Eu tenho um plano, e talvez você não goste muito dele.
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Não Olhe Para Trás (conto de terror)
Terror🥇Primeiro lugar na categoria terror. [Concurso Galáxia] 🥇Primeiro lugar na categoria conto. [Concurso Lua Produções] 🏅Classificação única na categoria terror. [Concurso Imagination] Numa aventura perigosa, Sophia, Douglas e Lucas desafiam a própr...