Prólogo: O túnel

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Os pequenos olhos daquela menina nunca tinham se arregalado tanto quanto naquele momento. Ela chorava. Gritava. Disse tudo que queria me dizer. E doeu, nossa como doeu! Mas eu merecia. Eu a troquei por minha sede de dar voz a quem não era ouvido, ao noticiar aquilo que outros poderiam fazer no meu lugar, porém eu achei que tinha que ser eu. Ao mesmo tempo que há algumas noites atrás, ela disse que a culpa não era minha. Nem dela.

Me disse que simplesmente aconteceu, que nós dois acabamos nos separando, e, quando eu fui me dar conta, a distância já estava instaurada entre nós. Mas eu não queria estar longe. Nunca quis. A verdade é que eu não sabia como quebrar as barreiras que levantei entre mim e ela.

Por isso, ao estar tomado pela raiva do momento e diante de tudo que ouvi saindo daqueles lábios que já beijei, eu a chamei.

Na Hee-do! Mas ela continuou a sua caminhada desenfreada para longe de mim.

Se fossemos apostar uma corrida, sem dúvidas, ela ganharia. Mas naquele momento ao continuar parado no final daquele túnel e segurar com força o meu terno azul marinho, suspirei pesadamente e a deixei ir. Pelo que me lembro, o dia estava até bastante ensolarado. As árvores exibindo o seu tom de verde mais vívido. Contudo, nada disso parecia importar. A minha visão ficou turva.

Dei pontapés no ar a contragosto. Sacudi o terno e com o tecido dei um tapa em uma planta próxima. Nada adiantou. Ela foi embora. Eu a perdi. E eu sabia o porquê. Ela me disse que não queria passar pelo mesmo que vem enfrentando há tantos anos.

E ela não era mesmo uma garota que merecia esperar tanto alguém e ainda se decepcionar no final. Eu não queria ser uma dor em um coração tão cheio de cicatrizes. Eu queria ser aquele que iria lhe apoiar mesmo que o resto do mundo não o fizesse. Queria ser o homem que diria que ela sempre iria conseguir chegar aonde quisesse, que ela era mais forte do que imaginava. Tinha os jeitos mais doidos de lidar com o que não tinha controle, mas era tão esperta e sabia que teria um futuro ainda mais brilhante pela frente.

Sim, era isso que eu queria ter dito a Na Hee-do. Ela deveria saber que sempre foi amada por mim desde o dia que joguei o jornal em seu quintal e quebrei a estátua de anjo.

A menina que queria me dar um arco-íris se pudesse, quando tudo que eu tinha para ela era um coração que não sabia se desfazer de suas armaduras. Eu mal dormia. Bebia mais álcool do que água. Tinha mais fumo do que oxigênio nos meus pulmões. Porém, eu queria dizer a ela que eu queria levá-la para o meu mundo e deixar que soubesse dos meus pesadelos com explosões, pessoas morrendo nos meus braços e aviões despencando dos céus.

Teria como, em algum momento do futuro, mudar o que eu fiz por achar que a minha vida era para ser feita de renúncias? Pois só agora entendi que o amor é o maior de todos os sacrifícios e que no final das contas, ele é o único que realmente vale a pena.

Tudo passa, céus, terra, oceanos, emprego, prédios em chamas. Entretanto, numa balança com a fé, a esperança e o amor lado a lado, a maior de todas as medidas continua sendo o amor.

Um Diário para Baek Yi-jin (Tatielle Katluryn)Onde histórias criam vida. Descubra agora