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PROLOGUE O. love you to the moon and to saturn
outono de noventa e dois.
James apenas percebeu a gravidade da discussão entre seus pais quando levantou os olhos do gibi e encontrou sua mãe com um lábio inchado e os dentes ensanguentados. A mulher cambaleou para trás, com as mãos sobre o rosto, e o homem foi em sua direção. Por um momento, James pensou que ele iria bater nela novamente, mas seu pai tinha um semblante preocupado, como se não tivesse sido ele que havia a estrangulado. A mãe rejeitou o toque e o xingou de palavras muito feias. James estava tão assustado que não conseguia mover nem um músculo, nem mesmo respirava. Tinha seus olhos abaixados e grudados no gibi, torcendo para que seu pai não notasse que ele também estava na sala.
Em um movimento brusco, William pegou um pequeno vaso de cerâmica e o jogou contra a parede. Os estilhaços atingiram James, que colocou as mãos na cabeça e se encolheu no chão — assim como sua mãe havia aconselhado fazer quando as brigas ficassem físicas. Seu pai saiu de casa em seguida, pisando forte, e a porta batendo atrás de si assustou James, que tremeu na posição que estava. A mulher e o garotinho continuaram imóveis, em cantos opostos da sala de estar. Os ombros da mãe tremiam, revelando que ela estava chorando. Já James, não derramou nenhuma lágrima, estava estático demais para realizar qualquer ação.
Depois de alguns minutos — que pareceram horas para os dois — James levantou e foi até sua mãe. Ela ainda estava chorando e sua calça de moletom estava manchada pelo sangue escorrendo do seu lábio. Ele tentou limpar um pouco do sangue com a manga da sua camiseta mas ela recuou, porque todo o seu rosto pulsava de dor.
— Mamãe. — Sua voz saiu engasgada. — Me deixa ajudar.
A mulher abriu e fechou a boca algumas vezes, ponderando o que iria responder. Ela estava uma bagunça. Sangue quente escorria junto de muco e lágrimas salgadas por cima de um grande hematoma roxo em seu pescoço. Seu cabelo seco e de um tom loiro fosco estava bagunçado e embaraçado. Seus olhos verdes brilhavam enquanto passeavam pela sala, evitando contato visual. James notou novamente o quanto sua aparência era diferente da de sua mãe. Pelo contrário, ele era a cópia exata de seu pai. As vezes, na calada da noite, ele fantasiava sobre ter seu rosto queimado e completamente desfigurado. Assim, ninguém poderia dizer que ele é a "cara do papai" de novo.
— Você vai se atrasar, querido. — A mãe finalmente se pronunciou, com sua voz rouca, como se aquelas palavras tivessem arranhado sua garganta.
James estava confuso. O que poderia ser mais importante do que cuidar de sua mãe?
Ela gentilmente segurou a mão de seu filho e o conduziu até o banheiro. James pensou que ela iria lavar seu rosto na pia mas ao invés disso, ela começou a procurar algo na gaveta. Ela parecia uma lunática com seu rosto maluco e sua mão enfiada entre os itens de higiene, derrubando alguns no chão no processo.
