2. (entre)Linhas

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Oi, bebês, voltei!

Queria agradecer a recepção do primeiro capítulo, todo mundo que comentou e votou, vocês são incríveis! Tá sendo interessante escrever essa história, relembrar tudo que aconteceu há alguns meses e tentar encaixar num enredo novo. Mas ao mesmo tempo é desafiador, explorar sentimentos nunca é fácil, né? Pois bem, trago hoje o segundo capítulo e espero de coração que vocês gostem.

⚠️ Atenção: aviso de gatilho para estado depressivo presente na primeira parte do capítulo. Se preferir, não leia. Avisarei quando for seguro ler para quem se interessar. 

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Eu seguro uma ponta e você segura a outra. Tá disposta a me (se) encontrar no meio da nossa linha? 

A uns anos atrás, Sarah conheceu de perto a escuridão.

Era frio lá. Se sentia sozinha, perdida e sem perspectiva de que encontraria um letreiro vermelho escrito "saída". Tudo a sua volta lhe dava apenas a certeza de que sua existência não valia à pena. Todos eram felizes e satisfeitos, encontravam sentido na menor das coisas, só ela que não conseguia enxergar algo que todos diziam ver, devia ser um desperdício mesmo conviver com ela. Então ela se afastou.

No início da sua vida adulta, Sarah se afastou de tudo e todos que só faziam ela ter cada vez mais convicção de que nada tinha sentido. Porque doía estar perto deles e ter um pano preto na frente de seus olhos. Doía ver que, por mais que tentassem, ninguém conseguia fazê-la enxergar através daquele pano. Então foi mais fácil se afastar naquela época. Assim, todos os dias passaram a ser iguais. 

Até aquele dia.

Era uma tarde de terça-feira rotineira quando Sarah deixou o prédio onde cursava o quarto período de Publicidade e Propaganda. Ainda era cedo, sua última aula tinha sido cancelada e os alunos foram liberados antes do horário previsto. Aproveitando isso, Sarah resolveu parar em um dos quiosques que tinha no campus para comprar açaí. Já era bem conhecida ali e o dia quente pedia a sobremesa.

Rosimar lhe deu um sorriso carinhoso quando a viu se aproximar, vinha caminhando tranquila, seus cabelos castanhos e ondulados voando com o vento e os olhos verdes que chamavam atenção. Sarah era uma moça linda e Rosimar, a dona do quiosque, sempre a recebia como se fosse da sua família. Rosimar tinha um filho que todo mundo chamava de Pipa. Era um apelido engraçado, mas famoso entre todos que frequentavam aquela parte do campus universitário. Pipa era um rapaz que todos descreviam como carismático. Ele brincava com todo mundo e estava o tempo todo fazendo piadas, algumas bem idiotas Sarah tinha que confessar, mas ele conseguia arrancar risos de quem parasse para ouvi-lo. Sarah adorava ouvi-lo. Quando tinha tempo de parar no quiosque de Rosimar, via Pipa atrás do balcão, ajudando a mãe no caixa. E ele parecia sempre ter um trocadilho pronto que arrancaria um sorriso de Sarah.

Naquele dia, Pipa não estava ali atrás do balcão. Foi a primeira coisa que Sarah questionou após realizar seu pedido, e viu imediatamente a preocupação inundar os olhos de Rosimar. 

— O Pipa deu um susto na gente ontem, Sarinha. Agora tá bem, tá em casa com a minha irmã que tá cuidando dele. Quer dizer... Bem na medida do possível. Mas ontem à noite tivemos que correr com ele pro hospital — Rosimar suspirou, e Sarah viu os olhos da senhora marejarem, pareciam agora distantes dali. — Quase não seu tempo. Meu filho não tá bem, Sarinha.

Rosimar gostava de contar histórias. Quem tivesse tempo de parar para ouvi-la, conhecia muitos aspectos de sua vida pessoal com sua irmã e filho de 19 anos. Ver aquela mulher triste era raridade. E naquele dia ela parecia desolada.

— A doutora que atendeu o Pipa ontem encaminhou ele pro psicólogo. Vamos ver se começamos esse tratamento logo. Não posso perder o meu filho.

Então Sarah entendeu. E no mesmo segundo, sentiu seu estômago revirar e o peito apertar. A dor na voz de Rosimar era palpável, e o olhar daquela senhora sempre alegre era coberto por uma camada de algo que embrulhou o estômago de Sarah. O açaí desceu com dificuldade naquele dia.

Pedras no Caminho - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora