𝙱𝚛𝚊𝚜𝚒𝚕, 𝚍𝚎𝚣𝚎𝚖𝚋𝚛𝚘 𝚍𝚎 1990
𝙻𝚊𝚠𝚛𝚎𝚗𝚌𝚎 𝙹𝚘𝚗𝚎𝚜— SAIU!
Um jornal de papel caindo fortemente de encontro com a madeira da minha mesa me faz saltar de susto da cadeira e a caneca de café quente tremer em meus dedos com o impacto do movimento.
Por sorte, não molha a papelada.
Com alguma relutância, eu olho para o lado, suspirando baixo, um lado só do meu olho tremulando.
Meus ouvidos compadecidos se perturbam por conta do tom de voz do todo-poderoso, alta para um ambiente zen feito a minha zona de escritório. Com alguma audácia acumulada em todos esses anos trabalhando em “harmonia”, penso em apontar para a placa que sugere “Silêncio” na parede do relógio, embora desista da ideia na mesma velocidade por ainda precisar desse emprego.
Dou uma espiada no jornal preto e branco descartado com euforia sob minha bancada, lendo agilmente o título tendencioso, mas não me aprofundando na leitura que se estende.
Ao lado direito da mesa, há um mundo de pastas, relatórios, apresentações e roteiros para envelopar, concluir e arquivar. Só esta manhã tenho para desenvolver uma matéria que ainda não consegui pensar em 15% do carro-chefe dela, então o que faz meu chefe pensar que terei tempo ou capacidade para dar conta de outro afazer?
O que ele tem em mente agora?
Volto minha concentração para a matéria incompleta, digitando e incluindo palavras sob as lacunas até perceber que ele espera por mim, aguardando que eu pare meus dedos velozes para comprar sua ideia. Abro as pernas para aliviar a tensão, a meia calça roçando em meu terninho sóbrio me dá uma sensação de desconforto. Salvando o andamento da matéria, viro meu corpo ético de coluna sempre ereta e ergo minha cabeça num gesto formal e simpático.
— O que saiu, senhor Lacerda?
Paul Lacerda me dá uma olhada ligeira, investigando a falta de empolgação na minha expressão, e sem me dar bom dia ou perguntar se há um tempo sobrando, ele começa a discursar seu novo projeto, marchando ao redor de minha mesa:
— Guns N’ Roses está cotado para a edição do Rock In Rio deste ano que vem.
Posiciono o óculos no osso da nariz, me esforçando para não fazer nenhuma careta de descompromisso.
— Eles são Os Caras do momento, são inéditos, um estouro mundial, não há ninguém que não ouviu falar deles nos próximos 195 países e a MTV deseja mais que tudo fazer a cobertura da passagem deles pela América latina — Diz sua voz, imersa de deslumbro.
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𝐂𝐎𝐍𝐒𝐏𝐈𝐑𝐀𝐂𝐘 - 𝐀𝐱𝐥 𝐑𝐨𝐬𝐞
FanfictionA americana abrasileirada, Lawrence Jones, jornalista da MTV, se vê em um empecilho implacável quando Guns N' Roses faz sua histórica passagem pelo Rock in Rio II, no Brasil. Isto porque seu chefe rigorosamente meticuloso quer, a todo custo, a imag...