Capítulo Único

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Normalmente, depois de três dias de cio com dores, raiva e tesão, os ômegas tendem a ficar por mais três dias em um estado de carência excessiva e na Yuuei isso é muito respeitado entre alunos e professores. É normal ver um ômega nesses dias com um cobertor, um travesseiro, ursos de pelúcia, chocolate e até mesmo abraçando algum beta ou alfa. Sem intuito sexual ou romântico, só para passar a carência e receber carinho. 

Há até mesmo ômegas que se juntam em grupos para passarem esse momento juntos. Há aqueles que voltam para casa e ficam no conforto do lar com familiares. Há os que ficam grudados com os parceiros, sendo estes os mais satisfeitos pelos beijos e carinhos mais fortes por causa do vínculo, e há Kacchan.

Não foi muito normal nos primeiros meses em que ficamos nos dormitórios, mas depois todos se acostumaram, ou pelo menos tentaram se acostumar. Para mim, no início foi um choque, e agora, depois de meses, parece que estou no início, mas tento me manter calmo e com meu lobo alfa controlado sempre que Kacchan me procura nesses dias.

Como agora, eu estava estudando na mesa do meu quarto e de repente minha porta se abriu com um chute. Virei-me somente para ver o loiro que tanto me detestava com seu pijama de moletom preto, carregando em uma mão uma fronha branca e uma carranca no rosto com as bochechas e orelhas vermelhas.

– O-Oi Kacchan! – sorri para ele, nervoso. É claro que eu sabia que dia era hoje. Já estava marcado no meu calendário que Kacchan vinha.

Ele nada disse, caminhou até mim com a pior cara feia que podia fazer e se sentou no meu colo, de frente para mim e me abraçando. Eu corei, meu lobo uivou feliz com o cheiro de caramelo queimado e café que emanava do ômega loiro em meu colo. Respirei fundo, mantendo-o sob controle – mesmo que isso fizesse o cheiro de Bakugou invadir minhas narinas. Eu tinha que respeitar Kacchan, então voltei para meu estudo, a destra com o lápis e minha esquerda nos cabelos espetados de Kacchan. Tive orgulho de mim mesmo quando ouvi o ronronar que escapou de seu peito, satisfeito com o carinho.

Imagina minha surpresa na primeira vez que isso aconteceu. E pior, foi na frente de todos na sala comum. Kacchan tinha se ausentado por três dias por causa de seu cio, e quando apareceu, todo manhoso, a primeira coisa que fez foi ignorar os gritos animados de Kirishima por seu retorno, e sentar no meu colo, exigindo carinho sem perguntas. Eu travei, claro. Ele bufou e levou minha mão até sua cabeça, ameaçando todos que olhavam para ele com surpresa e descrença. No final, todos caímos na real. Ele estava naqueles dias de carência. 

Foram, ao mesmo tempo, os dias mais felizes e confusos de toda minha vida. Eu tentei falar com Kacchan depois disso quando ele voltou ao seu estado irritado de sempre, é claro. Meu lobo já era apaixonado por Kacchan, assim como eu. E depois de saber que o loiro havia nos escolhido para passar esses dias de sensibilidade, insegurança e necessidade só agravou os sentimentos que tínhamos. Mas não foi como pensamos. Kacchan me ignorou por longos dias antes de dizer, ou melhor, gritar que ele não tinha controle do corpo quando isso aconteceu e que não era nem ele nem seu ômega falando e sim as consequências de um cio idiota por ele ser um maldito ômega. 

No final, eu deixei de lado. Alguém como Kacchan nunca iria querer aceitar meus sentimentos. E mesmo que doa ter e não ter ele comigo, eu o conforto nesses dias, porque imagino o quão ruim deve ser. Lembro até hoje da minha mãe me abraçando e chorando às vezes, com saudades do meu pai. E eu não quero isso para Kacchan. Imagino como minha mãe está lidando com isso agora…

– Deku… – o sussurro de Kacchan em meu ouvido me acordou, me fazendo estremecer.

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