Talvez fosse melhor eu não me meter, eu poderia usar essa oportunidade para começar uma vida nova. Por que eu tenho que ser o Homem-Aranha? Quem no universo decidiu que um menino de 18 anos tem que arcar com essas responsabilidades? Como é justo eu ter as vidas de pessoas nas minhas mãos?
A resposta é simples, não é justo, e talvez não caiba mais a mim assumir essa responsabilidade. Ninguém sabe quem é o Homem-Aranha, e se ele sumir por tempo suficiente, ele vai cair no esquecimento. Eu posso levar tudo que eu sei para o meu túmulo, ser o Peter Parker, e viver uma vida ampla e feliz, como uma pessoa normal.
Depois dos eventos daquele dia eu me isolei do mundo, se eu não lesse as notícias e não soubesse sobre os crimes que aconteciam ao meu redor eu não precisaria agir. Eu não era mais o Homem-Aranha. O Homem-Aranha era uma celebridade, um herói. Eu passei dias pensando em hipóteses, eu poderia encenar uma cena de morte para ele, dando um fim para sua existência de forma pública, para que seus serviços nunca mais entrassem em demanda, e sua ausência, nunca mais fosse associada com culpa.
Mas se a história do mundo prova alguma coisa, é que as celebridades que morrem cedo se tornam ícones, praticamente santos, que entram em canonização com seu ato final, e são lembrados e venerados eternamente. Se eu matasse o homem aranha, ele nunca se tornaria obsoleto, ele se tornaria imortal. Eu decidi que o melhor curso de ação a ser tomado era não fazer nada, e esperar que eventualmente eu me esquecesse do homem aranha, como o resto do mundo.
Quando recordo o momento em que minha identidade foi revelada para cada uma das pessoas que eu amo, eu confesso que a validação instantânea que eu senti, superou a grandeza de qualquer temor que eu sentia. Essas descobertas nem sempre ocorreram em momentos ideais, principalmente para a minha Tia May. Mas a troca de olhares que eu tive com ela durante aqueles cinco segundos foi uma sensação insuperável. Todos os filhos querem orgulhar seus pais, é como se no momento em que isso acontece, as dificuldades que eles enfrentaram tentando nos criar fossem anuladas. Mas de certa forma, a Tia May merecia um momento maior que uma mãe, ela não tinha a obrigação de me criar, ela me escolheu.
O mais triste disso tudo é que eu não tenho mais ela comigo. A MJ também não, ninguém mais. E talvez isso seja bom, talvez eu possa orgulhar as pessoas de outra forma, eu tenho que conseguir resistir, essa vontade de recriar esses momentos, minha vontade de colocar meu uniforme e alimentar meu orgulho, sendo um herói mais uma vez. Eu tenho certeza que eu vou conseguir, não deve ser tão difícil, é claro que eu vou conseguir, eu acho que vou conseguir...eu...eu espero que eu consiga.
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Homem-Aranha: Além do Multiverso
AzioneApós os acontecimentos de No Way Home Peter tenta seguir sua vida em um rumo mais normal possível e sendo o amigo da vizinhança, porém algo o impede no caminho. *TRABALHO ACADÊMICO SOBRE O CONCEITO DE HIPERTEXTO DA MATÉRIA DE TECNOLOGIAS EM COMUNICA...