Pingos nos i's

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Eu estava encostada na mesa de frente pra cama quando ele veio na minha direção. Eu não queria falhar dessa vez. A vontade de deitar com ele e relembrar tudo que a gente viveu no programa era grande, mas não iria fazer nada assim, sem conversar.
Ele chegou perto e quando tava quase com a mão na minha nuca eu me afastei.

Jade: - PA, a gente precisa conversar.

Ele suspirou.

PA: - E a gente vai. É só que... mano, eu saí da casa tem 2 dias, ainda não consegui assimilar muita coisa que tá acontecendo, tá ligado?

Não sabia o que responder. Virei pra janela e fiquei olhando pro nada enquanto ele falava. Ele sentou na cama.

PA: - Eu não quero que você pense que eu tô fugindo de conversar, muito pelo contrário, se eu tivesse fugindo mesmo eu nem taria aqui no seu quarto agora.

Sem conseguir encarar ele, falei:

Jade: - Em todos os programas quando te perguntavam se a gente já se resolveu você responde que precisa resolver uns assuntos pessoas ainda. Que assuntos são esses?

Ele respirou bem fundo e demorou alguns segundos pra resolver.

PA: - Ai Deja, é complicado... eu sou pai, e querendo ou não, a mãe do Peazinho é uma pessoa muito importante pra mim. Não quero magoar ela. Minha família vem pro Rio amanhã e ela vem junto, já avisei a ela que precisamos conversar, talvez até amanhã mesmo, mas eu não sei qual o rumo essa conversa vai tomar...

Senti vontade de chorar.
Virei de frente pra ele, ainda sem conseguir olhar nos olhos e tomei coragem pra falar:

Jade: - PA, eu vou te fazer uma pergunta e quero que você seja muito sincero comigo, tá bom?

Ele fez que sim com a cabeça.

Jade: - Você traiu ela comigo?

Dependendo da resposta que ele daria, meu coração ia partir ali mesmo, mas eu precisava saber.

Ele deu um sorriso de lado.

PA: - Eu sabia que uma hora ou outra você ia me fazer essa pergunta. Mas não, não traí ela. Pra te mandar a real, a gente nunca teve nada sério, nem quando ela engravidou.

Mesmo sabendo que ainda ele ainda tinha mais coisa pra falar, senti um certo alívio. Enfim consegui olhar nos olhos dele.

PA: - A gente se conheceu através de... tem como você sentar aqui perto de mim pra eu terminar de falar ou vai ficar sustendo a pose de marrenta a noite toda? Nem parece que ficou quase 2 meses longe de mim.

Eu ri.
Ele sabia como me ganhar.
Esticou o braço e me puxou pela cintura.
Sentei do lado dele e ele ficou fazendo carinho na minha mão enquanto contava a história.

PA: - A gente tinha uns amigos em comum, um já seguia o outro no Instagram e pah, eu já achava ela mó gata, ai um dia numa festa de um parceiro meu ela tava, ai a gente começou a conversar. Não ficamos naquele dia, óbvio, você viu como eu sou devagar.

Jade: - Só um pouquinho.

Falei rindo.

PA: - Sou mermo. Ai a gente marcou de sair algumas vezes, íamos pra praia, shopping, cinema, ai enfim rolou. Não tinha nada sério, mas eu não sentia vontade de ficar com mais ninguém, tava de boa ficando com ela de vez em quando, sacou? Só que ai, uma dessas vezes ela engravidou. Foi foda. No dia que ela me contou que tava grávida eu pensei "caralho, fudeu", ela também ficou malzona, e ai que a gente virou amigasso. Desde o início da gravidez a gente sempre se ajudou muito, porque só a gente entendia o que tava passando. Dois novinhos sendo pais, eu me preparando pras Olimpíadas... enfim, desde que o Peazinho nasceu, a gente nunca mais ficou, zero. Quando ele tava internado e a gente ficava sozinho lá no hospital, ela vinha com uns papo torto, mas eu sempre deixei bem claro que era só amizade pra mim, a única coisa que unia a gente era o Peazinho mesmo. E é isso, por a gente ser tão amigo e ela ser a mãe do meu filho, eu sinto que devo satisfações pra ela, sacou? Ela nunca me cobrou isso, sou só eu mesmo que acho que é mínimo, questão de respeito.

Apesar de achar até um pouco exagerado ele "achar que deve satisfações" pra ela, admirei a atitude dele. Se todos os pais separados pensassem assim, filho nenhum sofreria. E mesmo sem ainda conhecer, não quero o Peazinho sofrendo por causa de desentendimento dos pais dele.
Ele terminou de falar e ficou me encarando, ainda fazendo carinho nas minhas mãos. Eu olhava pra baixo, isso tudo era muito novo pra mim. Me envolver com alguém que já é pai, já tem uma vida bem diferente antes de eu chegar... tudo muito novo, mas eu gosto de me arriscar.

PA: - Entendeu?

Jade: - Entendi.

PA: - Agora tá na minha vez de perguntar.

Sabia.

Jade: - Pode perguntar.

Coloquei os braços pra trás e me estiquei na cama.

PA: - E tu e o Medina, qual é dessa história ai?

JADRÉ | Depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora