Capítulo 6

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Eu contemplei o céu através das grandes janelas de vidro da cafeteria mais uma vez antes de bebericar o líquido quente. Eu odiava aquele ar frio e todas as lembranças que o inverno me trazia.

Meus olhos correram pelo ambiente mais uma vez e depositei a xícara sobre a mesa quando uma mulher morena passou pela porta e deixou uma lufada de ar frio entrar para dentro. Era alta e seus cabelos deslizaram pelas costas quando ela desenrolou o cachecol de volta de seu pescoço e posicionou sobre seu braço. Seu rosto se voltou na minha direção quando o garçom se aproximou dela e apontou para mim discretamente. Ela se aproximou com o semblante impassível e eu gostei dela imediatamente.

-Senhorita Yildiz. - Seu tom de voz era firme e baixo, mas ela não desviou os olhos do meu rosto. - Como posso ajudá-la?

-Na verdade, senhorita Sari, gostaria de dizer como eu posso ajudá-la. - Apontei para a cadeira à minha frente e Rachel me encarou por alguns segundos, sem se mover. - Não gostaria de sentar?

-Não. - Ela deu de ombros. - Gostaria de tomar meu café em paz sem me preocupar em ser associada à mulher que gerencia a campanha da oposição do meu tio.

-Deveria aproveitar para sentar-se e se alimentar adequadamente, senhorita Sari. - Eu sorri zombeteira antes de levar a xícara até meus lábios. - É o que uma mulher na sua condição deveria fazer.

Eu comemorei em silêncio quando vi a surpresa aparecer em rosto por alguns segundos, antes que ela voltasse a me encarar calmamente. Rachel se sentou com a elegância que apenas as pessoas das classes mais favorecidas conseguiam possuir. Ela se virou para deixar o cachecol e o casaco sobre o encosto da cadeira, só então me encarou com os grandes olhos verdes.

-Presumo que esteja me esperando na minha cafeteria preferida para discutirmos sobre a minha condição atual. - Ela apontou discretamente para sua barriga e meus olhos acompanharam o movimento com atenção. - Estava me perguntando quanto tempo demoraria até que Ozan pedisse que você viesse resolver essa situação. - Rachel suspirou quase imperceptivelmente. - Você até demorou, eu acho.

-Achei melhor dar um tempo para que resolvesse isso você mesma.

-E como soube que eu não resolvi isso sozinha, resolveu que era hora de nos encontramos. - Ela semicerrou os olhos para mim e apontou novamente para sua barriga com sarcasmo. - Devo me preocupar por estar sendo seguida por aquele homem ou agradecer pela gentileza de disponibilizar um segurança para me acompanhar o dia todo?

Merda, eu realmente gostava da garota e precisei me esforçar para não rir. Rachel parecia ligeiramente assustada, apesar de estar se esforçando para não deixar transparecer. Suas mãos se contorciam sobre suas pernas e seu peito se movimentava rapidamente enquanto ela respirava.

-Não temos a intenção de te machucar. Ou assustar. - Eu lancei um olhar sincero para ela. - Mas é necessário que entenda que eu sempre sei de tudo, senhorita Sari. Achei que esse assunto tinha sido resolvido quando você agendou um horário na clínica de aborto na semana passada. O que mudou?

Ela arfou ao me encarar. Uma pequena rusga de insatisfação apareceu entre suas sobrancelhas e Rachel balançou a cabeça de um lado para o outro.

-Você não tem filhos, não é? - Ela sorriu com desgosto quando neguei com um meneio de cabeça. - Então não pode entender.

Eu me mantive em silêncio quando o garçom se aproximou de nós e depositou uma xícara na frente dela. Rachel o agradeceu com a voz baixa e um sorriso sincero nos lábios. Ela bateu a ponta dos dedos na mesa enquanto me observava com um misto de curiosidade e discrição.

-Como Ozan pode ter tanta certeza de que o filho é dele? - Ela me perguntou depois de beber um gole do que deveria ser algum tipo de chá, que reconheci pela coloração.

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