Capítulo 1

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-De jeito nenhum que essa reportagem vai ao ar hoje!

Eu rosnei andando de um lado para o outro dentro do escritório amplo, decorado com elegância. O chão de madeira escura ecoava o barulho dos meus saltos conforme me movimentava com uma das mãos apertando o alto do nariz tentando controlar a raiva que borbulhava dentro de mim.

-Eda, você mais do que ninguém sabe como a imprensa daqui é sensacionalista. É exatamente isso que eles querem, se tentarmos abafar...

-Melek, nem por cima do meu cadáver que vão colocar o rosto do imbecil do Ozan na televisão hoje. - Eu sibilei, encarando minha assessora de imprensa. - Não importa o que precisar fazer, só faça!

Melo sorriu de canto, sabendo que eu conseguiria exatamente o que queria não importando quais cabeças rolariam por isso. Ter crescido junto comigo dava à ela uma ligeira vantagem de como a minha mente implacável funcionava e, modéstia a parte, nenhuma mente funcionava tão bem e tão rápido quanto a minha quando era forçada a resolver um problema.

-O que quer eu faça?

Eu estendi o dedo indicador na direção dela e imediatamente Melo soube que eu precisava de um minuto. Pude sentir como se uma dose de adrenalina tivesse sido injetada diretamente em minhas veias e meus olhos brilharam de satisfação quando a solução pulsou em minha frente.

-Diga que Ozan vai responder algumas perguntas para ele, entrevista exclusiva para o fim de semana. - Suspirei, mas meu rosto permaneceu impassível. - Ofereça uma lista com as perguntas que estarão previamente autorizadas

-Acha mesmo que um canal de fofocas vai querer entrevistar Ozan? - Melo riu, debochada. - Ele é quem mantém aquele canal no ar com todas as polêmicas que se envolve.

Eu a ignorei deliberadamente enquanto procurava o arquivo que Hakan tinha me enviado há alguns dias atrás. Eu balancei a cabeça em aprovação quando encontrei exatamente o que estava procurando e um pequeno sorriso triunfante estava em meus lábios quando levantei os olhos para Melo.

-Diga para Akif que é tudo o que vai conseguir de nós essa semana. - Depositei o celular em cima da mesa despreocupadamente e dei de ombros. - E antes que ele possa recusar, peça para conferir o email que enviei para ele.

-O que você fez? - Melo indagou com o cenho franzido.

-Quem fez foi ele. - Eu sorri tão inocentemente que, se Melo não conhecesse o diabo que habitava em baixo das roupas de grifes, até mesmo ela acreditaria na honestidade que brincava em meus lábios. - Diga que se aquela reportagem for para o ar hoje, o vídeo estará no email da esposa dele no mesmo horário.

Melo fez uma careta. Ao contrário de mim ela normalmente procurava resolver os problemas com bons argumentos e sua usual simpatia. Mas ela tinha que concordar que não existia no mundo pessoa melhor para resolver qualquer inconveniente do que eu. Não era a toa que eu fui convidada para ser responsável pelo gerenciamento da campanha de Kemal Özcan, candidato à governador de Istambul. E mesmo que Melo não concordasse com tudo que eu fazia, era impossível negar que no momento eu era a mulher de maior influência em meu ramo e nada, absolutamente nada, me abalava.

Nós tivemos uma infância em comum difícil e isso tornou nossa amizade ainda mais valiosa. Eu fui a irmã mais velha que o destino colocou no caminho de Melo e ela nunca me viu protestar sobre posto que eu ocupava. Ao contrário, fui sua maior protetora enquanto éramos duas crianças soltas pelas ruas e continuei sendo até que Melo se sentiu forte o suficiente para assumir a responsabilidade de ser quem era. O único período que passamos separadas foi quando ela se mudou para Amsterdã para cursar a faculdade de Comunicação Social e eu continuei nos Estados Unidos para cursar Direito em Harvard.

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