Power And Conviction

Capítulo 12

 Dois dias. 48 horas. 2.880 minutos e 172.800 segundos. Esse era o período que eu não conseguia ver Eda. Melo me ligou quando estava pronto para voltar para o hospital e anunciou uma lista de tarefas que Eda tinha designado para mim.

Entre reuniões com os colaboradores para definir os parâmetros da propaganda eleitoral e recursos eleitorais no Fórum, eu mal conseguia alguns minutos para ligar para ela durante o dia. Eda voltou a ser monossilábica quando conversávamos e eu odiava a indiferença velada que percebia em sua voz. Eu desejava desesperadamente entrar em seu apartamento à força e beijá-la até que ela voltasse a sorrir para mim.

Droga, eu realmente sentia falta do seu sorriso. E do seu cheiro. E do seu gosto... Gemi em silêncio e descansei a cabeça sobre a mesa fria, deixando minha mente se desacelerar por um momento.

-Dia ruim?

Piril me encava encostada na soleira da porta com um xícara na mão. Ela bebericou o líquido devagar enquanto me encarava com curiosidade por cima da borda da xícara.

-Semana ruim. - Eu forcei um sorriso e indiquei a cadeira para ela com um movimento rápido com a cabeça. Ela se sentou e empurrou mais alguns papéis em minha direção, me fazendo suspirar.- Desculpa, eu só estou cansado.

-Eda está se esforçando para te manter longe?

Eu a olhei e pisquei os olhos, surpreso. Normalmente nós não falávamos de nada pessoal, apesar de estarmos juntos quase o tempo todo. Piril era muito parecida com Eda, com toda sua cautela e silêncio. Eu a via me encarando algumas vezes, como se estivesse tentando decifrar algum segredo, mas ela se limitava a suspirar e sorrir de volta para mim quando eu a surpreendia.

-Desculpa, eu não.. - Franzi a testa e inclinei a cabeça para o lado, esfregando o queixo. - Eu não sei, na verdade.

Piril sorriu e foi uma das primeiras vezes que eu realmente a vi fazendo isso com sinceridade. Uma pequena covinha quase imperceptível apareceu em seu queixo e ela bebericou o liquido  que estava na xícara devagar.

-Ela é muito boa em fazer isso. - Ela murmurou. - Eu também sou porque aprendi com a melhor. - Eu continuei a mirando. - Mas estive te observando.

-É mesmo? - Ergui uma das sobrancelhas para ela.

-Você parece ser um cara decente, Serkan. - Ela me assegurou com firmeza. Não tive nenhuma reação, incapaz de confirmar que eu realmente era. Algumas semanas atrás eu teria concordado com aquela frase sem pensar duas vezes, mas naquele momento eu só podia me sentir como uma fraude.

-Eu não tenho certeza... - Enchi os pulmões de ar, tentando ignorar a pontada de dor que surgia em meu peito. - Eu não... Ultimamente...

Piril sorriu sem deixar de me encarar e seus olhos suavizaram sobre mim.

-Só por realmente se sentir envergonhado por magoar Selin já diz muito sobre você. - Senti meu pescoço começar a esquentar pelas suas palavras. Se Piril sabia, quantas outras pessoas também já tinham percebido o que estava acontecendo? - Quer dizer, não estou dizendo que o que fez é correto, eu só...

Apertei os olhos quando Piril se interrompeu por um momento e encarou as paredes além de mim.

-Eu não gostaria que vocês tivessem começado assim, mas não tenho certeza de que pudesse ser diferente. - Ela me fitou novamente, seu rosto completamente sério. - Sinto que vocês eram inevitáveis. A maneira que você se olham...

-Você tem falado com Eda?

-Algumas vezes. - Ela deu de ombros. - Mas você deveria saber que Melek é péssima em guardar segredos.