NEGÓCIOS

1.5K 138 204
                                    

POV SARAH

Encarando o teto amadeirado do quarto de Juliette, eu tentava organizar minha cabeça de algum jeito. Fiquei quieta. Tão quieta que nem minha respiração podia ser ouvida direito. Eu ficava assim as vezes quando me sentia triste e confusa. Tentava a todo custo nem me mover pra não perder minha linha de raciocínio, pois a coisa mais complicada de se entender no mundo era Juliette.

Pisquei algumas vezes e abaixei meu olhar pra sua mão em volta da minha barriga. Não estávamos nada bem, mas por algum motivo ela achava que podia me tocar. Bufei incomodada me mexendo um pouco na cama. Não era como se eu quisesse estar ali, mas eu estava, por algum motivo que até agora eu estava tentando entender.

Continuei calada sem mover um músculo. Ela queria que eu ficasse ali, eu estava ali, mas não faria nada além disso. Não discuti mais com ela, seu estado era deplorável. Juliette literalmente só parou de chorar quando viu que eu ficaria ali. E por que eu estava aqui? Voltamos a estaca zero.

- Sarah, por Deus! Fala alguma coisa! - Senti Juliette se levantar um pouco, mas não desviei meu olhar do teto. Eu sabia que ela estava incomodada, mas eu também estava, e ainda estava adorando incomoda-la com meu silêncio. - Estou literalmente ouvindo seus pensamentos.

- E o que eu estou pensando? - A encarei finalmente vendo-a rolar os olhos.

- Está pensando que você não queria estar aqui. - Ela respondeu de forma simples. Filha da puta.

- Errou completamente. - Voltei a encarar o teto e a escutei bufar.

Não era difícil imaginar que eu estava incomodada, mas o dom dela de ler as pessoas me assustava. O que me deixava mais irritada era saber que talvez ela soubesse que eu não ia embora, talvez ela soubesse o poder que tinha nas mãos quando se tratava de mim. Eu já não sabia como controlar essa dependência emocional dela. Como se tudo que ela fizesse pudesse ser perdoado, não importa o quão filha da puta ela fosse comigo, e isso só estava me deixando ainda mais preocupada. O quão longe eu iria nessa?

- Você vai continuar assim? Quieta? - Ela se levantou da cama do nada e eu a encarei confusa. Estava perdida em pensamentos e tinha me esquecido da sua presença, o que foi bom pra mim por alguns minutos.

- Não tenho nada pra falar. - Respondi sincera. Eu realmente não tinha. Estava cansada de tentar entende-la. Não queria questiona-la mais, eu sabia quais seriam suas respostas, "eu não pensei", "eu agi por impulso", "eu fui irresponsável".

- Sarah, pode ir embora se quiser. - Ela começou a andar de um lado pro outro mexendo em suas coisas e eu respirei fundo tão forte que senti meu corpo doer. - Se não quer estar aqui, então pode ir. - Juliette se aproximou da cama e eu arquei as sombrancelhas. - Eu não vou te segurar dessa vez. Eu só queria que a gente conversasse e resolvesse isso, mas você claramente já entrou no seu mundinho paranóico e está aí pensando qual meu próximo plano maligno contra os seus sentimentos.

Ela finalmente parou de falar, ficou parada na frente da cama um pouco ofegante. Seu nervosismo estampado em seu rosto, que eu só podia ver pois o abajur estava aceso. Continuei quieta pensando se deveria responder a altura. Eu guardava tantas coisas que poderia simplesmente jogar na cara dela e derrubar todos seus argumentos. Mas a coisa mais inteligente que eu poderia fazer era ficar quieta. Sentia a raiva correndo dentro de mim e se eu abrisse a boca seria uma desgraça.

Vendo que eu não a responderia, ela saiu do quarto pisando firme e suspirei forte com o barulho alto da porta batendo. Respirei fundo, uma, duas, três vezes... Ela estava me testando. Não estava acostumada com esse jeito "birrento" que ela adquiriu depois que soube da gravidez. Se fosse antes no mínimo ela me falaria um "foda-se" e iria dormir.

STOLEN [ INTERSEXUAL ] SARIETTE Onde histórias criam vida. Descubra agora