Capítulo 1

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RAVENA CLARK

Acordo com o despertador, são 7:30 da manhã. Faço a devida higiene matinal e coloco a roupa de academia. Vou para o andar debaixo do meu duplex, até à cozinha e começo a preparar o pré-treino, o tomando logo em seguida.

Desço do apartamento e me dirijo até a academia do meu prédio que é muito bem equipada e a essa hora está quase sempre vazia, pois as pessoas ou já estão trabalhando, ou ainda estão dormindo.

Termino meu treino diário de quarenta minutos e saio, indo até a padaria que fica na esquina da rua, quase que em frente ao meu prédio.

A Boulangerie Pierre Mulot é uma típica padaria francesa situada no coração de São Paulo. O proprietário, Pierre, é um nativo francês que já passou da meia-idade, e estabeleceu residência no Brasil há mais de quinze anos. Quando chegou, trouxe consigo um pedacinho de Paris ao criar a Boulangerie.

A padaria não é tão grande quanto às outras típicas de São Paulo, mas é tão bela, e de um tamanho requinte e aconchego, que ao entrar, qualquer pessoa realmente se sente como se tivesse sido teletransportada diretamente à Paris. Serve os mais deliciosos doces e salgados tradicionais franceses, desde quiches aos crème brûlées. Particularmente, sou louca pelos seus croissants e macarons.

— Bonjour, Ravena ma chérie! – Pierre me saúda detrás do balcão. Ele que poderia facilmente já ter se aposentado e deixado seus filhos assumirem a padaria, faz questão de ainda continuar nela atendendo seus fiéis clientes. Afinal, aquele lugar é sua maior paixão – o que posso lhe servir hoje? – me pergunta com seu sotaque francês ainda pouco carregado.

— Pierre, bom dia. Hoje estou desejando o delicioso Croque Madame, e um Earl Grey para beber, por favor – respondo com um sorriso, pela polidez em que ele me trata. Tantos anos morando no Brasil certamente lhe ensinaram a lidar com as pessoas da mesma forma calorosa com que os brasileiros o fazem.

— Claro, claro. Sente-se, por favor, logo trarei sua comida.

***

Após tomar o café da manhã na melhor padaria de São Paulo, retorno ao meu apartamento para um banho, muito necessário para tirar todo o suor do corpo, e me arrumo para o trabalho. Visto uma camisa social soltinha na cor creme e uma saia lápis na cor preta que realça muito bem as minhas curvas, que são o resultado de trabalho árduo e diário na academia, nos pés um scarpin na mesma cor. Para a maquiagem, o costumeiro rímel caprichado e brilho nos lábios, bem leve e sutil.

Em razão dos meus treinos pelas manhãs, normalmente chego no escritório por volta das 9:30, e como de costume, vou logo para a minha sala, sento em minha cadeira e chamo Cecília pelo tefefone.

Cecília é minha outra estagiária que está comigo há seis meses. Eu sempre tenho trabalhando comigo dois estagiários, um para o período da manhã e outro para o período da tarde. A praxe é que o primeiro comece o expediente às 8:00 e saia à 13:00, enquanto que o segundo entra às 13:00 e sai às 18:00.

Ela entra na sala, se encaminha até a frente de minha mesa e, sem se sentar em uma das cadeiras à frente, me pergunta com sua inerente voz melosa com um quê de falsidade:

— Pois não?

Admito que, por vezes, pode ser um tanto difícil trabalhar para mim, pois sou sempre extremamente exigente e sistemática, e preciso que as coisas saiam da forma que eu as prevejo e planejo que saiam, como a boa virginiana que sou. Por isso, diferentemente de Giulia que me enxergava como uma tutora, Cecília me vê como uma megera e sei perfeitamente que me detesta, e está tudo bem, já que não me importo. É ela quem precisa de mim, e não o contrário.

Querido EstagiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora