Capítulo 12

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RAVENA CLARK

Como é mesmo aquela frase que o César adora falar? "O que é um peido pra quem tá cagado?"

Acho que é isso. E essa é a frase que melhor descreve minha atual situação.

Passei semanas construindo uma perfeita muralha entre mim e Bernardo. E bastou ele aparecer daquele jeito vulnerável, com o pé machucado e mancando na minha frente que tudo começou a ruir.

Vinha evitando qualquer contato desnecessário. Toda vez que estávamos no mesmo ambiente, tentava a todo custo não olhar em sua direção. Isso porque quando olhava para ele, meus pensamentos iam diretamente para aquele sonho e não demorava muito para o meu corpo ficar quente, e o rosto vermelho. É absolutamente ridículo, meu corpo reagindo como o de uma adolescente.

Naturalmente, tentei aliviar a tensão com alguns homens aleatórios que conhecia em noites de barzinho, mas a distração nunca durava por muito tempo. Minha mente traidora eventualmente me levava de volta para o Bernardo. E mesmo depois de semanas, este breve contato com ele, apenas me deixou com vontade de mais.

Então aqui, sentada neste carro e indo contra todos os meus princípios, estou eu ligando para um cliente importante para cancelar a reunião que teríamos em breve, dando a desculpa esfarrapada de que surgiu uma "emergência familiar".

Enquanto Bernardo está dando a volta no carro, reviro os olhos para mim mesma e penso "realmente patética".

— Obrigada por esperar, Dra., não estou incomodando? – me pergunta, após se acomodar no banco do passageiro.

— De jeito nenhum, e de qualquer forma, estamos indo na mesma direção – digo já que a casa dele, de fato, não fica distante da minha.

Dou partida no carro e saio, utilizando no caminho de volta uma velocidade bem inferior da que utilizei na ida.

— Estava pensando... É comum você ter reuniões mesmo à noite? Porque o escritório só funciona até as 18:00 – pergunta Bernardo com curiosidade.

Aprecio internamente ele ter se referido à mim como "você", e não "senhora". Relembro quando pedi à Bernardo que não me chamasse dessa forma, aparentemente ele não se esqueceu.

— Normalmente não. Mas tenho muitos clientes que possuem agendas completamente inflexíveis, e se o cliente ou a questão a ser tratada for importante, eu acabo abrindo uma exceção na minha própria agenda para eles.

— Entendo. E... – ele faz uma pausa antes de continuar – você fica sozinha com esses clientes, com o escritório totalmente vazio?

— Sim. Bem, há raras oportunidades em que coincide de algum colega advogado estar fazendo hora extra ao mesmo tempo. Por que pergunta?

— É que pode ser perigoso... O que eu quero dizer é que tem clientes que podem ser perigosos. Mas você deve saber disso melhor do que eu - diz apreensivo.

De fato, são ossos do ofício. Reconheço que a advocacia é uma profissão que causa verdadeira ojeriza na sociedade, pois há muito que já que ouvi falar. Mas o perigo verdadeiro jaz contra os advogados criminalistas, em especial, que por óbvio, lidam com criminosos. E se eu dissesse que jamais recebi ameaças desses indivíduos, estaria mentindo.

— Sim, eu sei. Obrigada pela preocupação, Bernardo, mas eu sei perfeitamente me defender – digo, pois é a mais pura verdade.

— Acredito que sim – responde com um sorriso de lado, como quem pensa o exato oposto daquilo que está falando.

Pouco me importo com o fato dele duvidar da minha palavra, porque aquele maldito sorriso conseguiu fazer minha intimidade literalmente pulsar.

Depois disso, permanecemos em silêncio enquanto minha playlist toca como música de fundo.

Querido EstagiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora