Capítulo 13

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BERNARDO NAVORI

Estupefato. É assim que fico quando Ravena diz que "adoraria entrar" em minha casa, e acabo até perdendo novamente a chave que tinha acabado de encontrar dentro da mochila.

Ravena está caminhando em minha direção, com passos firmes em cima daqueles saltos que deixam suas pernas torneadas em evidência. Especialmente na posição em que me encontro, posso afirmar que daqui, é uma verdadeira paisagem.

Eu sequer havia me movido, estou agachado com o peso sobre o pé bom, enquanto que minha mão direita está dentro da mochila revirando tudo em busca do chaveiro.

ACHEI! Ô gloria. Fecho o zíper e levanto brevemente a cabeça, somente para encontrar Dra. Clark parada bem à frente, com suas coxas justamente na minha linha de visão.

— Tem certeza... que não tem problema eu entrar? – pergunta, agora com uma pontada de insegurança na voz.

Sem qualquer autocontrole e pudor da minha parte, vou levantando meu olhar lentamente, apreciando cada centímetro do seu corpo perfeito, até que encontro seus olhos. Ravena me encara firmemente, aguardando uma resposta.

— Absoluta – digo a primeira coisa que vem na cabeça. Então jogo a mochila de volta nas costas com a chave em mãos, e finalmente me levanto – Quer dizer, não tem problema algum.

— É que não sei se seria apropriado – comenta, e em seguida desvia o olhar.

De certo a Ravena dessas últimas semanas, ou até mesmo a Ravena de hoje de manhã, pensaria que isso é tudo, menos apropriado. Ir para a casa de um estagiário estaria o mais distante possível do profissionalismo que ela tanto preza, por mais que os motivos sejam inocentes.

Percebo que ela está travando uma luta interna consigo mesma, por isso resolvo tranquiliza-la.

— Dra., você somente vai esperar um tempo até que consertem a falha com o seu prédio. Não tem problema nenhum nisso – termino de falar ao mesmo tempo que destranco o portão e o abro – entre – digo, complacente, gesticulando para dentro.

— Tudo bem – se limita a responder, dando um sorriso rápido.

Ravena entra primeiro, passando pelo portão e o pequeno hall de entrada do prédio de 5 andares. Todos os andares são compostos por kitnets, e basicamente todos os moradores são estudantes universitários.

Chegamos à minha kitnet, que fica no quarto andar, e dou graças à deus pelos elevadores, pois meu pé está latejando.

— Fique à vontade – digo assim que adentramos.

— Obrigada – agradece enquanto comtempla brevemente o local à sua volta.

Deixo minha mochila de lado e jogo a sacola com medicamentos em cima do sofá, já ansiando demasiadamente por um banho. Após o incidente de hoje, sequer tive tempo de me banhar decentemente, e eu havia jogado basquete, então o suor está acumulado.

— Dra., você se importaria se eu tomasse um banho agora?

— Imagina Bernardo, fique à vontade – responde sorrindo, repetindo as palavras que acabei de usar.

— Serei rápido – comento, já indo em direção ao banheiro.

***

Somente ao terminar o banho é que me dou conta de que esqueci de trazer roupas limpas para colocar, pois não tenho o costume de me vestir no banheiro.

Fico contemplando a maçaneta da porta por um minuto inteiro, pensando se devo sair desse jeito com a toalha na cintura para pegar as roupas, ou só ficar aqui mesmo, até que ela pense que eu morri e vá embora.

Querido EstagiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora