Capítulo 2

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BERNARDO NAVORI

— Respira meu filho, vai, você consegue – acho que estou repetindo essa frase a mim mesmo desde a hora em que acordei.

Não, hoje eu não estou no meu normal. Pela manhã atendi à todas as aulas na faculdade fisicamente. Fisicamente, sim, porque a cabeça estava em outro lugar.

Resolvo almoçar em um lugar qualquer perto da faculdade para logo partir para o escritório. É apenas 12:30 quando chego no trabalho, ótimo, cheguei meia hora antes do início do meu expediente, bela maneira para conseguir ficar menos nervoso.

Desde o dia em que descobri pelo Dr. Arthur Romanelli que eu passaria a trabalhar para Ravena Clark, há uma semana, eu tenho estado ansioso. Ok, dizer desta forma é subestimar a situação pra caralho, porque eu não sabia se eu estava vivendo ou esperando o dia de hoje chegar.

Há um ano comecei a estagiar para a Clark Advocacia. Na época, tudo que eu sabia sobre o escritório eram duas coisas: que este se tratava de uma referência no ramo, em especial na área criminal; e que sua sócia fundadora, Ravena Clark, era uma expert criminalista, famosa por ganhar casos e tribunais do júri considerados impossíveis.

Quando recebi a notícia de que havia passado na entrevista de estágio e seria admitido, eu nem soube conter minha emoção e aquele dia fui dormir bêbado. Porque, por motivos óbvios, todo estudante de direito da cidade de São Paulo daria até a bunda por uma oportunidade como essa.

Eu já possuía certa experiência na prática advocatícia por já ter trabalhado anteriormente em outro escritório, então não foi tão difícil me adaptar. No entanto, posso afirmar que o nível de exigência era outro, já que o Dr. Romanelli, pra quem eu trabalhei nesse primeiro ano, estava sempre buscando o meu melhor, demandando mais e mais do meu trabalho. Mas em compensação, a bolsa-estágio que eu recebia também era bem generosa.

Lembro até hoje quando vi Ravena pela primeira vez. Após já algumas semanas no estágio, eu estava encostado na parede bebendo água ao lado do filtro que fica no corredor, perto da área comum dos estagiários, quando ela passou. Estava distraída lendo a papelada que se encontrava em seus braços.

Tive a oportunidade de ver seu rosto enquanto ela se aproximava, já que caminhava lentamente por conta da distração e de imediato fiquei hipnotizado com sua beleza sobre-humana. Sobre-humana porque, até a presente data, eu, Bernardo Navori, jamais vi mulher mais bela que essa ao vivo, e acho que nem na tv.

Sob sobrancelhas impecavelmente desenhadas, seus grandes olhos redondos e castanhos me faziam querer que ela me encarasse de volta, só para que eu pudesse me perder dentro deles. Seus lábios eram carnudos, perfeitamente esculpidos e aquele brilho contido neles me deixou salivando. Seus cabelos caiam como ondas de chocolate em suas costas, com todos os fios no devido lugar. Uma deusa na terra.

À segunda vista, o que me chamou a atenção foi o seu corpo. Ela estava com uma saia social apertada, daquelas que se agarra no corpo e pede socorro quando se senta. As curvas dela ficavam evidentes sob aquele tecido justo, que contornava impecavelmente sua bunda gostosa e coxas definidas. Quando ela passou por mim, rebolando sobre aqueles saltos altíssimos, juro que babei um pouco da água que estava bebendo. Por sorte ela já havia passado e aparentemente ninguém tinha notado que eu estava literalmente babando por ela.

A partir dessa ocasião, eu nunca tive a coragem de estar no mesmo ambiente que Ravena Clark. Sua presença me deixava inquieto, então eu só a observava de longe, quando tinha a oportunidade. Sim, eu sou a porra de um cara tímido.

É por essa razão que Dr. Arthur percebeu algo de suspeito quando, ao me dar a notícia de iria estagiar para Ravena, fiz uma cara de espanto que mal pude disfarçar e tenho quase certeza de que a cor sumiu do meu rosto.

Querido EstagiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora