Capítulo 16

644 43 1
                                    

BERNARDO NAVORI

Ravena certamente é uma mulher de muitos artifícios. Ela tem a capacidade de me deixar de pau duro em um segundo, e estarrecido no outro. Saio de sua sala completamente frustrado e com um sério problema de bolas azuis.

Talvez eu a estivesse provocando? Talvez sim. Mas somente porque ela me deu a abertura para tanto. Bom, pelo menos eu acredito que ela tenha dado.

Não consigo esquecer que nas últimas semanas, eu estava recebendo seu tratamento frio, e não obstante estar me evitando a todo custo, hoje ela me chamou até sua sala, e ainda pediu por favor. Algo quase que inédito. Levando em conta que agora sei que Ravena não é completamente invulnerável a mim, eu considerei aquilo como uma abertura.

Talvez eu estivesse errado e ela usou daquela provocação ardilosa para me dar uma lição, para mostrar que ela não está ao meu alcance. Se ela dissesse isso na minha cara, eu nem teria como discordar. Ravena é muita areia para o caminhãozinho de qualquer um.

Mas independentemente de qualquer coisa, sua atitude me deixou irritado, sim. Porra, não se oferece mais do que pode se dar. Foi exatamente isso o que ela fez, e agora estou esperando mais do que ela pode me dar, pois sendo seu estagiário, nada poderia acontecer entre nós. E Ravena sabe disso melhor do que ninguém.

***

Felizmente eu já havia me livrado da faixa e meu pé já não doía mais. Eu apenas teria que deixar os esportes de lado pelos próximos dias e logo estaria cem por cento recuperado.

Passa pouco das 21:00 horas do sábado quando acabo de sair do banho e, verificando o celular, vejo que há uma mensagem de Santos.

"Tudo certo mano? Que horas eu passo aí?"

Rapidamente digito uma resposta.

"Acabei de sair do banho, só vou colocar uma roupa. Pode vir já se quiser"

Nem um minuto depois, meu celular vibra duas vezes. Leio as mensagens, enquanto escolho o que vestir.

"Que isso cara, muita informação 😖🤢🤮"

"Tô saindo"

Reviro os olhos e jogo o celular em cima da cama. Fecho o guarda-roupa, decidindo usar uma calça jeans preta pouco justa, uma camisa branca com botões despojada, e tênis na mesma cor.

Passo a toalha no cabelo molhado, para tirar o excesso de água, e em seguida esborrifo um pouco de perfume no pescoço. Pego uma jaqueta jeans e jogo por cima do ombro.

Após alguns minutos ouço buzinas, e sei que só pode ser Santos. Naturalmente, ele é daquelas pessoas que preferem buzinar para rua toda ouvir, do que mandar uma simples mensagem avisando que chegou.

Pego a carteira e o celular, e os enfio nos bolsos da calça. Rapidamente saio, trancando a porta e guardando a chave, para assim descer, rumo ao carro do desesperado lá embaixo.

Abro a porta e me acomodo no banco do carona.

— Porra, é pedir muito que você aprenda de uma vez a mandar mensagem igual gente normal? – pergunto irado, já que ele continuou buzinando até mesmo depois de ter me visto saindo pelo portão do prédio.

— Sim, buzinar é mais divertido – dá de ombros, fazendo com que eu revire os olhos e balance a cabeça. Logo ele abaixa o freio de mão e sai com o carro.

Não, não estou sendo ingrato. Muito pelo contrário, estou fazendo um favor à Santos. Porque hoje serei o motorista da vez, então apesar de estar precisando de uma bebida, não poderia ingerir nada de álcool.

Querido EstagiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora