prólogo

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Paula sempre foi minha imagem mais próxima de fada madrinha. Ao ser abandonada na maternidade pela minha mãe biológica, e com 10 anos ser deixada aos cuidados dela pelo meu pai, me fez ver nela uma fortaleza. Ela se tornou minha casa.

Não havia maneira melhor de acordar: um beijo na testa da minha "mamãezinha querida" e um café da manhã na cama. Isso era raro e entendi que ela sabia o que havia acontecido noite passada, com certeza soube pela boca da Ingrid.


– Bom dia, garota! Acorda que antes da vida te derrubar, você tem que derrubar ela primeiro. – disse ela.

– Me deixa, Paula... Quem sabe se eu ficar mais tempo na cama, não me desintegro nos lençóis e sumo. Seria mais fácil. – falei, pretendendo continuar na cama pelo resto do meu dia.

– Ingrid me contou o que aconteceu noite passada. Garota, entenda, você fez a coisa certa! Qual era o benefício que você tirava em dançar naquela boate no quinto dos infernos e ainda se incomodar com bandido? Seu pai me deu uma missão, que era cuidar de você, e sinto que falhei. Se acontecesse algo com você, eu nunca iria me perdoar.


Eu sabia que eu não era fácil. Fui criada de forma amorosa pela Paula, porém, uma dona de empresa de cosméticos, passa muito tempo no trabalho. A minha personalidade é, de fato, muito marcada pela minha liberdade. Apesar de crescer em um ambiente estável financeiro, sempre senti que estava sendo um peso para a Paula, coisa minha mesmo... Talvez o abandono da minha mãe tenha deixado marcas que dificilmente cicatrizariam. Então, desde nova, resolvi buscar maneiras para garantir meu próprio sustento sem o auxílio de Paula, que por sua vez, permitiu por entender que eu precisava dessa liberdade para me sentir liberta do que me prendia: o ressentimento pela minha mãe e a falta que meu pai fazia em minha vida.


Dançar pole dance era uma paixão. Mas não era meu sonho, muito menos minha meta de vida. Eu danço – ou dançava? – em uma boate na Tijuca chamada Pulp Fiction... Eu sabia que, financeiramente, não precisava desse trabalho. Nem me expor a riscos dessa maneira, mas falava mais alto que eu. Até o Roni, incrivelmente irmão do Neném, meu melhor amigo, invadir a boate e se tornar, "ilegalmente", dono do local, obrigando nós, dançarinas, a dançarmos em sala privada para os clientes. Como já era de se esperar, recusei a oferta (por valorizar meu próprio corpo e entender que, dançar em sala privada para clientes poderia evoluir para algo a mais, a qual nunca estive interessada).


Roni, não aceitando um "não" como resposta, mandou eu recolher minhas coisas e não retornar mais a Pulp Fiction à trabalho. Sei que, pela Paula, eu não precisaria trabalhar! Mas anseio meu direito de ir e vir, e tomar minhas próprias decisões, uma vez que logo completarei 24 anos e sinto que não tenho mais tempo a perder.


Apesar da personalidade forte, sou sonhadora. Ambiciosa. Desejo viver um grande amor, que me tire do eixo, e sonho com uma família que eu possa chamar de minha. Crescer na ausência dos pais me faz sentir que perdi muita coisas, mas sei que irei encontrá-las. Eu preciso sair desse caminho de espinhos em que minha vida e se encontra.

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