– Flávia!
– Flávia?
– ACORDA FLÁVIA! – disse Paula, me chocoalhando com o intuito de me acordar.Acordei me sentindo de ressaca. Não uma ressaca alcóolica. Ressaca de uma festa, de um show que deu tudo errado.
– Garota, 13h40 da tarde, vamos levantar, antes que eu te atire dessa cama direto pro chão. – Paula falou, estalando os dedos, ainda me chocoalhando.
– To lembrando agora. Eu tive um sonho tão esquisito, que parece ter durado a noite toda, nem ouvi o despertador tocar. – falei, enquanto sentava na cama, com a intenção de mostrar a Paula que eu estava acordada.
– Sonhou com o que? – ela sentou ao meu lado, focada no meu rosto, que eu acreditava estar com uma expressão apavorada.
– Na verdade, não me lembro bem. – menti, pois eu lembrava. Lembrava muito bem.
O sonho nada mais foi do que o acontecimento de ontem a noite, ocorrendo em câmera lenta e várias e várias vezes. Era a imagem dos olhos amendoados de Guilherme que não saiam da minha cabeça, minhas mãos apoiadas em seu peito, depois ambos ajoelhados olhando fixamente um no olho do outro, o toque com os dedos grandes entre a minha pele. Como se não bastasse, Sparks do Coldplay ressoando durante o sonho, como estava ressoando em meus ouvidos noite passada no momento em que tudo isso aconteceu.
Olhei para minha mesa de cabeceira, procurando meu celular que berrava o som das notificações incansavelmente. Do lado do meu celular, estava meus dois fones de ouvido. Aproveitei para colocá-los na minha orelha e colocar uma música para me dispersar daquele sonho, que eu não conseguia tirar da minha cabeça, enquanto eu respondia as mensagens de Neném e Vanda, que me procuravam desesperadamente para buscarmos a grana do show de ontem na casa dos Monteiro Bragança.
– Merda. Ta sem bateria isso daqui. – bufei, enquanto procurava na minha mesa de cabeceira o carregador dos malditos fones. Meu humor definitivamente não era dos melhores hoje.
Procurei pela mesa da cabeceira, nada. Procurei pelos meus lençóis, nada. Não estava nem na minha bolsa. Tentei me recordar da última vez que o vi, já pedindo para São Longuinho me ajudar a achar, foi quando me lembrei que a última vez que vi o carregador, coloquei ele no meu bolso antes do show pirotécnico.
– INFERNO! INFERNO, INFERNO, INFERNO. Perdi o carregador dos fones justo naquele casa de gente doida. – berrei, pensando que nem dez sachês de chá camomila me ajudariam a deixar minha alma mais leve no dia de hoje.
Decidi tomar mais um banho gelado. Banhos gelados me davam a sensação de que a água corrente tiraria todos as energias ruins do meu corpo, e com certeza seria o melhor a se fazer.Entrei de baixo do chuveiro, deixando a água molhar minha cabeça e meu corpo. Fechei os olhos. E tudo que me vinha na cabeça era aquele olhar, aqueles braços musculosos por baixo daquele suéter preto. Suspirei. Ninguém se encanta por ninguém do dia pra noite, pensei. Já tive incontáveis ficantes, mas nenhum namoro sério, eram apenas... ficantes, com conversas vagas, beijos sem sentimento e sexo casual. Queria lembrar da sensação de estar apaixonada, para tentar entender o que se passava na minha cabeça desde que vi Guilherme, mas nada se passava e entendi que eu não havia mesmo me apaixonado por ninguém.
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RARE
RomanceFlávia Santana é uma garota autêntica e de espírito livre. Ela vai trabalhar como babá na mansão dos Monteiro Bragança, após perder o emprego como dançarina de pole dance na boate Pulp Fiction, onde moram irmãos que ficaram órfãos recentemente, cujo...