Nunca acreditei em amor à primeira vista. Sempre acreditei que o amor era efêmero, que as pessoas apenas se acomodavam àquilo que estavam acostumadas a experienciar e que eu, por acreditar muito na minha liberdade, não aguentaria uma pessoa por mais de 48h.
Estava com meus Airpods quando me aproximei do local do "pequeno" show pirotécnico. Gael segurava minha mão com força, como se eu fosse uma espécie de protetora para aquela criança claramente carente e inofensiva, olhei de relance para baixo e dei um sorriso para ele.
O show começou e, de fato, estava lindo! Olhávamos todos para o alto, com uma distância aparentemente de onde saía os fogos, admirados com as cores e formas deles. Nos meus fones tocava "Fix You" e por algum breve minuto me senti em paz, como se estivesse no local onde eu deveria estar, como se o destino tivesse pregado algumas "peças" na minha vida para ser direcionada até ali. E eu gostei dessa perspicácia dele.
Como é de lei do Universo, tudo que acontece de bom na minha vida, logo em seguida se transforma em algo ruim, enquanto eu olhava para o céu de boca aberta e agradecendo de todas as formas pela noite sossegada que eu acreditava estar sendo, senti uma movimentação estranha assim que vi o Gael soltar minha mão. Tirei o fone esquerdo do meu ouvido e guardei apressadamente na caixinha do meu Airpods quando ouvi uma gritaria do pessoal que estava próximo a solta de fogos.
— CORRE!!! VAI EXPLODIR — gritou um dos meninos, enquanto corria.
— Os fogos se descompassaram e vão explodir para todos os lados — Murilo vinha em minha direção, eufórico, solicitando que eu saísse de perto do local — Saiam daqui. AGORA — ele gritou.
Enquanto isso eu olhava para todos os lados, procurando pelo Gael e não o encontrava naquela multidão, nem mesmo perto de Odailson, Deusa e os irmãos que estavam atentos a um carro preto que chegava em direção a garagem da mansão. Em questão de segundos, escutei o barulho dos fogos descompassados explodirem em minha direção, sem me machucar, como se fosse alguma espécie de milagre ou algo do tipo. Saí do local apavorada, claro, quando vejo um corpo pequeno estático no meio das explosões coloridas e percebi que era Gael, em uma maneira de se proteger, com os braços entre os olhos. Tratei de correr até o local, próximo de mim, e agarrar ele no colo, a fim de sair daquele lugar que emitia sons insuportáveis, misturado com Fix You terminando no fone do lado direito da minha orelha e minha visão já embaralhada pelas enormes faíscas vindas dos fogos.
Enquanto corria com Gael nos meus braços, lembrei por um instante da minha peruca, da peruca da Pink, que deixei em cima da cadeira onde os fogos explodiam. Era só uma peruca, pensei. Mas era minha peruca que meu pai, Juca, me presenteou na última vez que eu o vi. Apesar da ausência dele em tantos anos, ele sabia que o meu maior sonho era me tornar uma cantora de sucesso, ele era o único que entendia o quanto eu almejava isso, principalmente para poder dar uma vida melhor pra ele, que era, sem sombra de dúvidas, a pessoa que eu mais amava nesse mundo.
Larguei o Gael no chão, no mesmo local em que estava meus companheiros de banda, e Neném, ao ver que eu retornaria para o meio das explosões, me agarrou pelo braço.
— Flávia, não vale a pena. É só uma peruca. — falou, enquanto meu rosto me direcionava às explosões, que a cada momento pareciam mais estrondosas, danificando os instrumentos da banda e consequentemente minha peruca.
— Eu vou. — eu disse, enquanto eu ia, com os braços esticados para frente, com receio de me machucar.
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Eu pensava muito no amor. Por que o amor doía tanto? Por que amar as pessoas, sem outras pretensões, machucava? Por qual motivos as pessoas que eu amava tanto resolviam ir embora?
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RARE
RomanceFlávia Santana é uma garota autêntica e de espírito livre. Ela vai trabalhar como babá na mansão dos Monteiro Bragança, após perder o emprego como dançarina de pole dance na boate Pulp Fiction, onde moram irmãos que ficaram órfãos recentemente, cujo...