"Ela une todas as coisas
Como eu poderia explicar
Um doce mistério de rio
Com a transparência de um mar
Ela une todas as coisas
Quantos elementos vão lá
Sentimento fundo de água
Com toda leveza do ar
Ela está em todas as coisas
Até no vazio que me dá
Quando vejo a tarde cair
E ela não está
Talvez ela saiba de cor
Tudo que eu preciso sentir
Pedra preciosa de olhar
Ela só precisa existir
Para me completar"A setlist do show estava incrível. A primeira música que cantamos, foi "Ela Une Todas As Coisas" de Jorge Vercillo, que é, sem sombras de dúvidas, minha música favorita da vida.
Os convidados eram, em sua maioria, colegas da Tina de escola e amigos de Murilo. Todos prestavam atenção ao show e cantarolavam as músicas que cantávamos, me deixando de coração quentinho ao perceber que estavam realmente curtindo.
Finalizamos o show com aplausos da platéia. Aproveitei para tirar minha peruca e descer do palco, cumprimentando um por um, e fui em direção ao Murilo, que estava com um sorriso satisfeito.
─ Caraca Flávia, cês tavam demais! Você canta muito. ─ Murilo falou, me dando um abraço.
─ Obrigada pela oportunidade, Murilo! Acho que o pessoal curtiu, e sério, é o nosso primeiro show fora da nossa zona de conforto. ─ falei, olhando para o pessoal, que vinham em direção a nós.
─ Demais, demais, demais!!! ─ Ingrid chegou dando pulinhos de felicidade e o sorriso mais iluminado que já vi.
Vi um homem de terno se aproximando até nós junto a uma mulher com uniforme, e deduzi que fossem os funcionários da mansão, que Murilo havia comentado mais cedo.
─ Deusinha, esse show tava demais, visse? Só poderia ser uma banda Tijucana. ─ ele falou, em ritmo acelerado e parecendo muito feliz com o fato de sermos tijucanos.
─ Seu "Murilinho" arrasou na escolha da banda, olha aqui, to toda arrepiada! ─ a mulher falou, mostrando os pelos do braço, que realmente estavam arrepiados.
─ Deusa, Odailson, esses são Flávia, Ingrid, Vanda, Cabeça e claro, Neném, o craque da camisa 10! ─ Murilo disse, apontando um por um.
─ Neném, autografa aqui? ─ Deusa tirou uma caneta do bolso e entregou para Neném assinar em seu pulso.
Enquanto via a cena bizarra de Deusa "tietando" Neném, fui surpreendida com um puxão na barra do meu vestido. Olhei para o lado e não vi ninguém, olhei para baixo e estava Gael, sorrindo para mim enquanto comia um picolé de uva, com o rosto todo lambuzado e uma cara de sapeca que eu só soube rir.
─ Você sabia que fica uma gracinha até com esse rosto todo sujo de picolé? ─ me agachei para ficar com a mesma altura dele. ─ O que você ta fazendo aqui? Sabia que uma hora dessas você deveria estar dormindo? ─ sorri enquanto limpava o bigode dele sujo do picolé com meus dedos e acabei sugerindo irmos ao banheiro da casa para limpar o rosto dele.
Me direcionei até a porta dos fundos da casa e o menino me guiou até o banheiro.
─ Tia, qual seu nome? ─ ele falou enquanto eu pegava uma toalha qualquer para limpar aquela sujeira toda.
─ Flávia!! O seu é Gael, né? Um passarinho me contou. ─ olhei para ele com cara de paisagem.
─ Será que dá para você pedir para esse passarinho deixar eu ficar na festa para ver o próximo show? ─ Gael disse.
─ Que show? Vai ter outra banda aqui? Murilo não me falou nada. ─ eu disse, com tom de dúvida, porque, de fato, não estava entendendo nada.
Gael pegou minha mão e me guiou novamente ao jardim da mansão. Vi que havia uma agitação diferente de quando saí do local e fui até o pessoal da banda, que estava com uma expressão de terror.
─ O que foi? ─ eu disse aos quatro.
─ Tina, com aprovação do Murilo, decidiu fazer um pequeno show pirotécnico aqui no jardim mesmo. O problema é que não sei se o local é "adequado" assim para esse tipo de show. ─ Neném me falou de canto, como se fosse um segredo ou algo do tipo.
─ Isso vai dar problema, já to vendo! ─ Vanda falou com tom de desaprovação.
Estávamos afastados do local e podíamos ver a movimentação dos prováveis amigos de Tina organizando o local que o ocorreria o show pirotécnico, e de longe, aquilo já não parecia certo e muito menos seguro.
Foi nesse momento que Odailson, que estava no "meio" da muvuca, se aproximou de nós, atendendo a uma ligação.
─ Doutor Guilherme? É o senhor mesmo? ─ ele falou com o sotaque evidente ─ O doutor ta conseguindo me ouvir? ─ ele falou, enquanto direcionava o celular para cima, parecendo estar sem sinal.
Entendi que o motorista estava atendendo uma ligação do irmão mais velho dos meninos, o tal "Doutor Guilherme", que eu já desgostava só pelo nome. Como poderia um homem desses ter abandonado os irmãos mais novos após a recente morte do pai e "fugir" para a França? Que TIPO de homem ele seria? Um banana, única opção possível.
Gael correu até nós, me puxando pela mão.
─ Vem, Flavinha! O show vai começar. Vem, pessoal da banda da Flavinha. ─ disse o menino, puxando minha mão com força até o local do show.
Eu realmente acho lindo fogos de artifício. Mas também entendo o quanto o barulho causa transtornos a animais e também a pessoas com sensibilidade, como pessoas autistas. E também tenho pavor desse barulho. Foi por esse motivo que, ao me aproximar do local, abri a caixinha dos meus Airpods e coloquei minha playlist do Coldplay para tocar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
RARE
RomanceFlávia Santana é uma garota autêntica e de espírito livre. Ela vai trabalhar como babá na mansão dos Monteiro Bragança, após perder o emprego como dançarina de pole dance na boate Pulp Fiction, onde moram irmãos que ficaram órfãos recentemente, cujo...