Meu coração pulsava fortemente que até doía, como se a qualquer momento, fosse sair peito afora. Corri para meu quarto, nem ousei olhar para trás, mas os gritos me perseguiam, se aproximando cada vez mais. Entrei no quarto escuro e logo fechei a porta, mas percebi que a chave não estava na fechadura. Suor escorria pelo meu rosto e podia sentir os tremores em meu corpo.
—"VOCÊ NÃO PODE SE ESCONDER DE MIM". Ele gritou. —"NÃO HÁ COMO SE ESCONDER".
Minha respiração descontrolada fazia minha cabeça rodar, me impedindo de pensar em alguma solução. Lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto, quando ouvi os pesados passos se aproximando. Fechei meus olhos, tentando acordar daquele pesadelo, mas não acordei. A porta se abriu e uma faixa de luz causada pela iluminaria do corredor, iluminou o local que eu estava. Comecei a andar para trás, até bater de costas no meu antigo guarda-roupa.
—"Isso é tudo culpa sua!". Exclamou alterado. —"Você me faz fazer essas coisas".
Tentei me afastar mais, na medida que ele se aproximava, mas não tinha mais saída. As lágrimas quentes continuavam a cair, encharcando meu rosto e minha blusa, na medida que caíam.
—"Só estou tentando te ajudar". Se aproximou mais. —"É só o que faço". Ele suspirou, como se estivesse exausto.
Virei meu rosto, sentindo o cheiro da bebida entrando em minhas narinas, que fez meu estômago revirar. Ele sempre bebeu, mas naquele dia foi diferente. Era sempre diferente naquela data. Fazia sete anos que minha mãe havia morrido, e sempre na data, ele exagerava. Virei o rosto outra vez, e encontrei seus olhos, suas olheiras roxas me indicavam seu cansaço e noites mal dormidas, mas seus olhos me indicavam ira. Fechei meus olhos, os apertando, me preparando para o que vinha.
—"Papai, por favor...". Implorei.
Não queria lembrar da minha mãe daquela maneira, apesar que nada era culpa dela. Talvez só de ter escolhido o marido errado.
Meu corpo tremia, e minhas mãos suavam frio, mas eu não conseguia me mexer, mesmo que eu quisesse. E por mais que eu tentasse me convencer que aquilo não fosse culpa minha, parte de mim sempre me perguntava se eu realmente não tinha culpa. Eu tinha matado minha mãe? A culpa foi minha? Eu era realmente o culpado?—"Você sabe que ela ainda estaria aqui, se não tivesse trocado a vida pela sua".
O olhei e abaixei a cabeça, envergonhado. Aquelas palavras ardiam como sal na ferida. Mas naquela noite, tudo mudou, e eu só fui saber depois.
Com rapidez, ele levantou a mão e bateu em meu rosto, me fazendo estraçalhar no chão frio. Meu rosto queimava, mas não havia mais nada que ele pudesse falar ou fazer, que pudesse me destruir mais que me acusar de matar minha própria mãe. Durante todos os anos, isso sempre me assombrou, e quase não haviam mais partes em mim que descordassem. Mas eu ainda tinha medo. Ele ainda me assustava.—"Pai". Tentei me levantar. —"Por favor!".
Ele se curvou e foi quando vi, a navalha em sua mão. Meus olhos se arregalaram e não acreditei nas coisas que se passavam em minha mente. Não podia ser. Comecei a caminhar para trás, me arrastando pelo chão. Bati de costas na porta do banheiro e olhei para trás, percebendo que não havia para onde correr. Senti o calor do seu corpo se aproximando e suas mãos rasgando rápido minha blusa do pijama. Olhei a navalha gelada rasgando a pele do meu peito nu, e observei o sangue escorrendo, enquanto meu peito ardia, subindo e descendo descontroladamente. Fechei minhas mãos, apertando minhas unhas curtas na palma, tentando amenizar a dor, mas não foi o suficiente. Comecei a gritar, deixando tudo sair para fora, toda a raiva e ódio por aquele momento. Eu queria correr, queria o chutar e tentar sair dali, mas não consegui. Comecei a achar que aquilo era necessário, uma penalidade por tudo que havia feito, então fechei os olhos e aguentei a dor. Mas ouvi alguém se aproximando e o tirando de perto de mim. Abri os olhos, e foi quando vi meu vizinho. Naquele momento, desliguei tudo, fechei meus olhos outra vez e respirei fundo, desligando tudo. Acho que meu pai e eu nunca superamos a morte da minha mãe.
Feliz aniversário!
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O Baterista dos Death's Heads
FanfictionSempre me perguntei se o impenetrável chama mesmo atenção. E depois de anos observando eles; os Death's Heads, percebi que não só o impenetrável, mas também, Zaid Davis. Ele é o irmão mais velho da minha melhor amiga, e também, o baterista. Zaid era...