Carência

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Passamos pelo quarto de tia Vívian e de fato, sua porta estava fechada. A última coisa que eu precisava era explicar o que Zaid fazia ali. Abri a porta do meu quarto, cedi passagem à ele, e então fechei assim que entrei. Tirei meu casaco e pendurei na arara que tinha atrás da porta. Me aproximei da cama e sentei.
Zaid estava em pé, observando tudo ao redor, até que ele se aproximou da cama e pegou um ursinho azul que estava ao meu lado.

—"Charlie me deu ano passado". Falei, mesmo que fosse óbvio.

Depois do ocorrido, acabei me esquecendo sobre o Charlie e tudo o que aconteceu, mas naquele momento, encarando aquele ursinho, voltei a me lembrar daquela noite. Zaid chamou minha atenção ao soltar um pequeno riso. Seus olhos estreitaram-se ao analisar a pelúcia. —"Um ursinho?". Questionou.

—"Sim. Qual o problema?".

Ele jogou o ursinho de volta na cama, como se aquilo não fosse nada. E para ele, não era mesmo.

—"Isso é sem graça". Zombou. E vi sua boca se curvando num meio sorriso. Ele se virou e caminhou para perto da janela.

Meus olhos se arregalaram e meu peito ardia. Por algum motivo, aquilo me irritou. Me levantei às pressas e me aproximei. —"Não é sem graça".
Zaid se virou e seus olhos foram ao encontro com os meus. Por mais que Charlie tenha feito tudo o que fez, aquele urso tinha um valor sentimental para mim; na época em que existia um bom relacionamento entre ele e eu.

—"Não é sem graça?".  Ele piscou algumas vezes e sacudiu a cabeça. —"Você acha mesmo que aquela merda de ursinho é algo grande? O que de tão significativo ele fez para você? Te comprou um urso azul?".

Zaid deu alguns passos em minha direção e eu dei alguns para trás. Senti ele me examinando e meu corpo se estremeceu. Minha boca estava seca e eu não sabia o que dizer. Ele tinha razão...

—"Acho que aceita muito pouco, Safira".

Aquilo me desmontou, como se ele tivesse jogado sal na ferida.

—"Não importa mais". Falei depressa. Não queria que ele percebesse o impacto de sua frase. —"Nós terminamos". Desviei o olhar e suspirei, deixando aquelas palavras saírem de mim.

Senti que seu olhos ainda me olhavam, mas eu não queria olhá-lo. Eu estava com vergonha. Não só não por ter aceito tão pouco, mas por ser Zaid ao me falar aquilo.
Percebi seus pés se aproximarem e me forcei a olhá-lo. Sua testa estava franzida e sua boca entreaberta. Então ele se aproximou mais um pouco, quase acabando com todo o espaço que restava entre nós.

—"É?". Sua voz saiu baixa. Nem parecia que era aquele Zaid que gritava no carro. Concordei com a cabeça, porque minha voz não queria sair. Minha boca estava ainda mais seca, então a umedeci. Fui traída pelos meus olhos, que caíram em sua boca. O ar do quarto se dissipou e meu coração batia um pouco mais forte que o normal. Aquilo estava acontecendo muito naquela noite.
Fiquei me perguntando o que se passava em sua mente. Eu até perguntaria, mas duvido que obteria alguma resposta.

—"Por que estou aqui, Safira?".

Voltei a olhá-lo nos olhos. O que ele estava me perguntando?

Pisquei algumas vezes e suspirei baixo. —"O que você quer dizer? Te convidei para esperar James aqui".

Era isso, não era?

Seus olhos estreitaram-se, e então, um sorriso apareceu em seu rosto marcado.

O que aquele sorriso significava?

—"Você quer mesmo que eu acredite nisso? Que me convidou aqui por um bom ato?".

Deixei o ar escapar de meus lábios. —"Por qual outro motivo eu te convidaria?".

O Baterista dos Death's HeadsOnde histórias criam vida. Descubra agora