Capítulo 3

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O funeral da Tia Inko foi tranquilo. Foi um acontecimento tragicamente pequeno, por quão maravilhosa a mulher era. A bondade dela tocou muita gente, e ainda assim o funeral dela não teve mais de vinte pessoas. Os parentes distantes de Midoriya não apareceram. A maioria eram os amigos de Izuku e seus colegas que apareceram para prestar suas condolências e apoio, mas Katsuki queria expulsar a metade deles.

Nenhum deles entendia. Nenhum deles sabia o suporte que tia Inko providenciou, a fé inabalável que ela tinha em seu filho quando ninguém mais tinha.

Nenhum deles conhecia os verdadeiros horrores que Izuku experimentou quando era mais jovem. Nenhum deles entendia que quando Katsuki parou de ser o herói de Izuku e tornou-se o seu vilão, Inko era sempre a única que o fazia sorrir de novo.

Ninguém sabia o quão rápido e cedo Izuku teve que crescer. Nenhum desses extras entendia que ele teve que se tornar o homem da casa com seis anos, como seu pai caloteiro nunca mais mostrou o rosto, como Izuku aprendeu a cobrir seus hematomas com corretivo, como ele aprendeu a consertar suas próprias feridas como um médico no campo de batalha, como ele aprendeu a sorrir como All Might porque havia esquecido como sorrir sozinho. Ninguém mais sabia do peso da sua morte, da sua perda, da dor da sua inocência.

O último fragmento de bondade infantil, sendo abaixado com o caixão e enterrado.

E então Katsuki rosnou para qualquer um que tentasse oferecer condolências sem sentido. Ele até rosnou para Eijirou, que estava tentando dizer a Izuku que a sua mãe estava em um lugar melhor. Fúria fluia através de Bakugou como a raiva de um vulcão e ele endireitou seus ombros, encarando tão veementemente seu namorado que o ruivo teve que se afastar, as mãos levantadas em rendição.

Izuku finalmente se virou e então meneou a cabeça. "Não, Kiri, tudo bem. Obrigado."

Katsuki resmungou de novo e pôs um braço ao redor dos ombros de Izuku. Ele não trouxe à tona o tremor em sua palma assim que ambos voltaram-se de costas para a lápide. Ele ouviu Eijirou se virar para ir embora, mesmo não olhando para trás. Ele iria se desculpar depois, quando Izuku não precisasse dele mais.

"Você não tem que ficar, Kacchan". Ele murmurou, mãos inquietas, o olhar de Katsuki recaiu sobre seus dedos. Eles estavam tão cheios de cicatrizes e deformados; anos de mau funcionamento físico tornaram as mãos em monumentos de dor. Ele sabia que elas doíam constantemente, e ainda assim ele nunca reclamava.

Izuku não reclamava de nada. Katsuki muitas vezes se perguntava o quanto ele retinha naquele grande cérebro dele. Quantos traumas ele nunca expunha, a dor que ele nunca reconheceu.

"E te deixar sozinho?" Ele zombou.

"A tia iria me assombrar por isso."

O homem mais alto cantarolou, mas não era de felicidade.

"Kiri deveria se sentir ameaçado."

Katsuki forçou uma risada com a pobre tentativa de humor. "Cala a boca, nerd."

Izuku cantarolou de novo. "Ela sempre pensou que terminariamos juntos. Amigos de infância e tudo mais."

Ele estendeu a mão trêmula e a colocou sobre a lápide dela. Dedos trêmulos traçando o nome gravado com amor. "Ela era uma romântica incorrigível dessa maneira."

Bakugou se inclinou para Izuku, dando o apoio silencioso que ele precisava. Era legal se sentir necessário, por mais terrível que fosse a situação. Mesmo que eles possuíssem uma agência juntos, apesar de eles fazerem as patrulhas juntos, mesmo que eles salvassem vidas juntos, desde de a graduação, Izuku tem estado distante. Ele sempre pareceu tão longe para Katsuki alcançar. Ele nunca estava perto o bastante para ele ajudá-lo, protegê-lo, para amá-lo. Uma tristeza vinha crescendo nos olhos de seu melhor amigo desde o fim do terceiro ano e Katsuki não podia consertar.

"Mas... eu acho que ela também sabia que nós também não duraríamos."

Katsuki ergueu sua cabeça ao tom triste de Izuku. "Por que?"

Olhos verdes desviaram-se da lápide, mas eles não eram calorosos. "Você é como o sol, Kacchan. Eu nunca brilhei o suficiente para combinar com você, e acho que ela percebeu. Eu estava contente em viver naquela sombra, mas você não queria isso."

Katsuki sentiu a confusão lhe alcançar. "Do que você está falando?"

Izuku deu de ombros, olhos sem vida. Katsuki nunca o tinha visto tão sem emoção antes. Isso era terrivelmente desconcertante. "Você queria alguém que o desafiasse, que o colocasse de pé, que fosse o suficiente para... quem seria o suficiente."

O loiro se afastou, a raiva começando a substituir a confusão. "Você me disse que estava tudo bem."

Os olhos de Izuku, que haviam retornado ao túmulo de sua mãe, não se moveram quando ele perguntou: "Perdão?"

"Você disse que sabia e você estava bem com isso!" Ele removeu a si mesmo de qualquer contato físico, levando seu apoio com ele. As lágrimas queimando as extremidades de seus olhos. "O que diabos isso tem a ver com alguma coisa agora? Já se passaram seis anos desde que terminamos, Deku."

No minuto que o apelido escapou de seus lábios, ele se arrependeu. Não o nome em si, porque o significado em si mudou muito com o tempo, mas a forma como ele disse isso. Era pura raiva e rancor e ódio limítrofe. Esse era um tom que nem ele ouvia a anos.

Izuku se encolheu, e o coração de Katsuki doeu.

"Izu-,"

"Não se preocupe com isso, Kacchan," foi a sua gentil interrupção. Ele era sempre muito gentil. Katsuki queria que ele ficasse com raiva. Ele queria que ele deixasse escapar todas as emoções que ele estava tão acostumado a ver. "Você pode ir. Tenho certeza que Kiri está esperando por você."

As palavras eram tão similares às daquele dia a seis anos atrás. Por que elas machucam tanto? "Por que você está me afastando? Você é o meu melhor amigo, Izu."

O homem de cabelos verdes se virou. O olhar morto em sua expressão era algo que Katsuki nunca tinha visto antes. Foi tão enervante que o loiro deu passo para trás, para longe do estrangeiro Deku na frente dele. Longe do cadáver sem emoção que seu amigo se tornou.

"Você realmente não tem ideia, não é?"

Katsuki encarou, olhos arregalados e boca aberta.

Izuku bufou e assentiu. Voltando-se para a lápide, para o incenso aceso, murmurou: - "Tenha uma boa noite Kacchan. Obrigado por ter vindo."

Katsuki queimava com a raiva e a confusão, e ele deixou isso o arrastar furiosamente para longe de seu amigo. Ele bateu a porta do carro e ligou a chave, ignorando as perguntas consternadas de Kirishima. Ele não olhou o espelho enquanto ele dirigia para longe, nem pensou em Izuku.

Ele não ficou para ver Izuku desmoronar contra o túmulo de sua mãe, soluçando desculpas quebradas e flores roxas na grama morta.

Living with Thorns Crushing My HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora