Ódio a Primeira Vista

d e z

Quantas horas se passaram?

Uma? Duas? Não sei.

A água ainda me arrasta de um lado para o outro, os pequenos cascalhos passeiam dentre meus dedos dos pés e encaro minhas digitais enrugadas. A crise veio rapidamente, mas demorou para ir embora. Suspirei, encarando o sol que já não estava tão forte.

Depois de sentir o sangue quente esfriar, me perguntei se eu conseguiria ignorar os olhares de todos sobre mim depois de ter saído em disparada para a água sendo que foi sobre isso a briga que tive com Claire.

Fora a sensação horrível de ser observada milímetro por milímetro enquanto saio da água.

Suspiro, fechando os olhos. Minha pele arde e sei que vou enfrentar uma insolação.

— Não deveria estar aqui. — meus pelos se eriçam, a voz de Jamie parece estranhamente alta entre as ondas.

O cansaço me atinge profundamente. Não aguento mais lidar com a merda de Jamie. Não aguento nem mesmo lidar comigo mesma nesse momento.

— Concordo. — é tudo o que digo.

— Então porque não sai? — ele para ao meu lado.

— Porque não quero gastar grana com ônibus se já paguei minha parte na gasolina. — dou de ombros. — Mas sinceramente, depois de hoje eu não dou a mínima de ir embora. Espero que sabendo disso, você me deixe em paz. — me viro para ele, encarando sua pele branca.

Escuto sua risada baixa, quase sem graça.

— Como consegue ficar no sol? Você é albino. Tipo, isso poderia te causar graves problemas.

Tento mudar o rumo de toda a conversa. Não quero brigar mais, não tenho uma gota de psicológico pra isso.

Seus olhos me fitam e sinto-o me analisar. O que tanto ele pensa quando olha pra mim? Maneiras de me matar?

— Eu estava na barraca até agora, com uma camisa de surf. Alguns tubos de protetor solar e boné e assim consigo ficar.

— Sente falta do sol tocando sua pele?

— Não posso sentir falta daquilo que nunca senti, não como vocês. — ele me olha e olha par a faixa de areia.

O assunto se finda a medida que o silêncio dá lugar, o barulho das ondas é a única coisa entre nós. Não é incômodo, acho que por sabermos que ambos nos odiamos e não há motivos para tentarmos agradar um ao outro. É o conforto de ser verdadeira com alguém.

— Quando eu perguntei porque estava aqui, eu me referia a água. — Diz. — Você está muito vermelha, suas bochechas, para ser mais exato. Vai ter uma insolação, e o grupo estava jogando vôlei. O sol abaixou, e é o único momento que eu posso sentir um certo calor sem ter que estar na água durante a noite.

— Não precisa se certificar de me fazer entender que veio aqui para qualquer coisa, menos se preocupar comigo. — suspiro. — Eu não espero menos de você, mas mesmo assim, agradeço.

— Não posso fingir que me importo, mas não quero ter que te arrastar para fora da água porque você foi fundo demais e não conseguiu voltar.

Minha mente vagueia pelos mesmos pensamentos que tive antes. Seria tão mais simples se a correnteza me puxasse e me deixasse ir, apenas sumir. Não há maneira de consertar todo o estrago que eu sou.

Eu tentei.

— Teria sorte se você não me encontrasse. — murmurei.