A biblioteca está cheia e barulhenta. Chadd conversa com Lynn sobre algo que parece a preocupar enquanto desço as escadas atrás da silhueta alta de Jamie. Minhas mãos suam e me pergunto se eu estaria aqui se tivesse fechado mais cedo, se não tivesse encontrado com Claire naquele semáforo.
Será que ela se lembraria da minha existência se não tivesse me visto?
Varro o cômodo procurando pelos cabelos caramelos da garota que um dia chamei de amiga, mas não há sinal dela. Não sei se isso me traz conforto ou me deixa pior. Minha linha com eles era Claire, e sem ela, posso ver que seja o que estiver acontecendo é pior do que imaginava.
— Que bom que descansou. — a voz de Tresh me assusta. Encaro o garoto de maneira nada amigável e ele se afasta.
— Ela ainda está arisca. — Jamie brinca.
— Eu te odeio. — sou sincera em cada palavra.
— Não odeia não. — pisca.
Encho meus pulmões de ar e me sento em uma poltrona afastada dos dois sofás que tomam o centro da biblioteca. Há uma tapeçaria vermelha e dourada no chão, que toma praticamente todo o cômodo. Os desenhos de dragões são hipnotizantes de se olharem.
— Então... — a voz de Lynn toma o lugar e levanto a cabeça, me focando em seus olhos.
— Antes que você comece, só quero deixar claro que não quero ter envolvimento com absolutamente nada do que quer que me conte. Eu vou ouvir e digerir o que me disser, mas se eu decidir sair por aquela porta, não poderão me impedir. — minha voz soa autoritária e altiva.
— De acordo. — pigarreia. — Deve estar se perguntando...
— Porque me sequestraram e porque estavam me seguindo, isso seria um bom jeito de começar. — cruzo os braços.
Jamie parece incomodado com minhas indagações, mas o que posso dizer? "Oh sim me contem tudo e não me expliquem as coisas mais óbvias." Eles podem inventar mil mentiras para me tirar do foco principal.
— Não te sequestramos. — Lynn corrige.
— Se não posso sair então é um sequestro.
— Vai me deixar falar? — ergue a sobrancelha esquerda.
Me calo a contragosto. Odeio não poder simplesmente mandar todos para o inferno e sair pela porta sem ter um braço arrancado. Se sem tocá-los consegui me estraçalhar, imagina lutando com um deles.
— Estávamos te rastreando há algum tempo. — suspira. — Antes de sequer ser apresentada ao grupo. E antes que comece a reclamar, me deixe explicar tudo de vez. Seu show fica para depois.
— Vou te mostrar como se faz um show se eu decidir ir embora daqui. — murmuro.
— A questão é, você não sabe de verdade da sua história, Ash.
— De que merda você está falando?
— Estou falando de você não ser filha da sua mãe. — cruza os braços, sem demonstrar nenhuma expressão que denuncie que não passa de uma brincadeira. — Não é fácil de digerir, mas não farei rodeios com você.
— Agora vai me dizer que sou uma princesa perdida de uma linhagem rara? Faça-me o favor, Lynn. — rio sem humor. — Eu tenho fotos da minha mãe me segurando no colo no momento em que me tiraram dela. Essa não vai colar.
— Ter fotos de você bebê não muda o fato de que te trocaram no nascimento. — cruzou os braços, me encarando.
— Isso é impossível. Não estamos nos anos oitenta, essas coisas não acontecem com essa facilidade.
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Ódio a Primeira Vista
RomancePortões trancados e roupas cinzas. Tetos estufados e músicas em repetição no aparelho de rádio. Essa foi a vida de Ash Mason durante oito meses. Com o rótulo de (ex) suicida, Ash vivia bem sua realidade monótona dentro das paredes do Rehabilitation...