c i n c o

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Os pais de Claire sempre gostaram da nossa amizade, mesmo que muitas pessoas dissessem que eu não era uma amiga "adequada" por causa do meu corpo e pelo fato de eu ser uma pessoa difícil e até um pouco anti-social.

O que eles não vêem — e nem se preocupam em tentar fazê-lo — é que pessoas sozinhas como eu aprendem que não há porque tentar ter amigos se ninguém te dá essa chance, não se essa pessoa não for tão só quanto você.

Claire Renn era uma garota popular na época do colégio, me lembro como se fosse ontem como era legal olhar as roupas de cores vibrantes que ela gostava de usar, as maquiagens muito bem elaboradas e seus inseparáveis tênis rosa brilhante, nos quais ela usou cola e um pote de glitter magenta rosado. Ela e eu não andávamos juntas, éramos de grupos distintos — e com distintos eu digo que ela era popular, já eu era excluída.

Ela tentou se sentar comigo no almoço por um tempo, mas não poderia ser minha babá o tempo inteiro. Tinha uma vida e eu não a culpava por isso, mas era solitário.

Quando nos formamos e eu ̶p̶i̶r̶e̶i̶  viajei, estava andando com os amigos enquanto eu estava dando entrada no Rehab Pallace.

— Ash! — ela joga um papel em minha cabeça.

Claire está sentada na cama, colocando suas roupas na mala gigante que está ao seu lado. Ela ri quando percebe que eu realmente estava viajando.

— No que estava pensando? — dobra uma camiseta do Darth Vader.

Ela nunca assistiu Star Wars.

— Ah, estava lembrando de quando saíamos da escola e corríamos para cá, só pra assistir os clipes da MTv — Retiro as roupas amassadas da minha mochila e as empilho ao lado da minha mala, que é bem menor que a de Claire.

— Eu lembro que você implorava para passarem Green Day o tempo todo, era terrível — Ri.

— Você queria ouvir Justin Bieber e eu que era terrível? — jogo uma almofada nela, que pega e a joga de volta em mim.

— É estranho ver que crescemos, sabe. Eu ainda me divirto vendo desenho!

— Eu perdi o gosto por desenhos, mas ainda sim eu te entendo. Acho que as séries tomaram o lugar deles.

Levanto e pego meu celular, que começa a tocar em cima da cabeceira de Claire. O visor pisca o nome de Jack e eu prefiro não atender, sabendo que só pode ser algum problema ou ela checando se eu ainda estou viva.

Me viro e volto à examinar o quarto de Claire, que é todo lilás. Não posso dizer que não sinto dores de cabeça ao olhar demais para o quarto, mas é a cor favorita dela e por isso eu nunca critico.

A cama tem um véu em volta para os dias quentes — que nunca chegam, com exceção de hoje — que trazem consigo vários mosquitos. Os quadros com fotografias de todos seus amigos estão espalhados pelas paredes, juntos de outros quadros que possuem frases motivacionais ornamentadas.

— Vamos descer para o jantar e depois arrumamos isso, estou com fome — Se levanta e vai até a porta. — Mamãe fez torta de frango e eu estou sedenta.

Desço as escadas atrás de seus cabelos loiros.

Sempre vi sorte em uma — umas — coisa na vida de Claire, ela sempre está sozinha em casa. Eu imagino que para ela deva ser uma experiência péssima, porque nunca realmente estamos satisfeitos com nossas realidades, mas sempre me pego pensando em como seria a paz de não ter que lidar com Jack sempre como eu sou obrigada a lidar. Tudo seria tão mais fácil.

Ódio a Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora