q u a t r o

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Xícaras de chá deveriam ser tombadas como patrimônio mundial, porque simplesmente acalmam absolutamente tudo. Quais as situações de adrenalina que vemos por aí que sejam permeadas por xícaras de chá? Exatamente, nenhuma! Por isso, todos os dias pela manhã eu começo meu dia com uma bela xícara de chá de hortelã.

Abro os armários esperando encontrar as várias caixinhas da felicidade que me aguardam com variedades de chás que eu sempre colecionei, mas apenas encontro porcarias que provavelmente causariam um derrame em alguém.

— Onde estão minhas caixinhas de chá, Jack? — grito da cozinha.

— Eu dei para a Sra. Dewwey, elas iriam estragar. — Jack diz isso com naturalidade. Seus pés estão postos no pequeno pufe na frente do sofá enquanto ela assiste The Bachelor.

— Como assim? Aquilo tem dois anos de validade! Eu tinha acabado de comprar pra casa quando fui para o hospital! — grito.

— Pare de show! Tome aqui, vá comprar mais — Ela joga as notas em mim, que caem no chão.

Respiro fundo e conto até dez. Subo as escadas e troco de roupas em uma velocidade que seria considerada recorde. Pego as chaves do carro e o dinheiro e saio pela porta de casa sem avisar que peguei o carro.

Entro no Opala, que faz um barulho ensurdecedor quando o ligo. Dou ré e vejo Jack sair na garagem gritando para que eu volte com o carro, mas ela só consegue me ver dando "tchauzinho" enquanto atravesso a rua devagar.

Olho para as casas que sempre estiveram aqui, e quando digo sempre, digo desde que nasci. Me lembro das festas de aniversário da vizinhança e das vezes que ia brincar na casa de algum amigo.

Ligo o rádio e Always de Gavin James toca na rádio, escuto a melodia gostosa e a voz perfeita ecoarem pelo carro. Canto desafinada com ânimo, não me importando se está ou não, belo de se ouvir. Até porque, se algum ruído aqui dentro é feito, o barulho do motor do carro o exclui do ambiente com seu ronco infernal.

O mercado entra em minha visão e estaciono do lado de um veículo chique demais para ser dessa cidade. Saio do carro com minhas pantufas pretas, calças de pijamas e casaco ultra grosso. Ando até o mercado e vou até a sessão de chás, onde faço as contas de quantas caixas conseguirei levar com o valor que minha mãe jogou em mim e ao todo conseguirei levar três, o que é melhor do que nada.

Avisto o chá de sabor hortelã, mas ele está muito alto e eu subo na ponta dos pés para pegá-lo. Uma mão pega exatamente o que eu estava tentando alcançar.

— Eu ia pegar este, quase não consigo tocá-los... — Tento soar amigável até olhar para o rosto da pessoa que pegou o chá. — Ah, é você — Volto a ficar na ponta dos pés para pegar outra caixinha.

Jamie está bem vestido, com um engradado de cerveja em sua mão e parado ao meu lado com a caixa de chá que era para ser minha em sua mão.

— Quer que eu pegue uma para você? — ele pergunta sem muito humor.

— Não precisa, eu vou conseguir — Dou um pulinho e fracasso miseravelmente.

— Que caia então — Ele fecha a expressão e sai andando pelo corredor.

Encaro seu olhar sarcástico e ele se vira para o caixa, examino se mais alguém viu o pequeno momento e não há ninguém no corredor. Dou mais alguns pulinhos e meus dedos agarram o pacotinho de papelão.

— Isso!


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Claire estar na minha porta falando para Jack sobre como seu projeto de venda de garagem para arrecadar fundos para as vítimas do terremoto no Malawi vai precisar de voluntários para todo o final de semana é, no mínimo, o ponto alto da minha semana.

Ódio a Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora