Trabalho em dupla

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Eu só queria chegar o mais rápido possível em casa, tomar um longo banho e descansar. E, principalmente, esquecer a ideia estúpida do professor de biologia de juntar Park Jimin comigo para fazer aquela merda de trabalho. Não era pedir demais, definitivamente não era!

— Ei, espera! — Escutei o ruivo atrás de mim e me fiz de surdo, apenas continuei seguindo o meu caminho, apertando meus passos. — Jungkook, espere aí!

Sentia que ele estava se aproximando, então comecei a correr desesperadamente pela calçada, empurrando os estudantes para não atrapalharem meu caminho.

— 'Tá maluco? Volte aqui! — ouvi-o gritar, apenas acelerei. Minhas pernas eram longas e fortes, o que facilitava o processo.

Por mais incomum que possa ser meu comportamento, há uma justificativa muito aceitável! Eu quero paz! Ou seja, nada de prima chata, nada de trabalho de escola, nada de ruivo insuportável, apenas paz e sossego.

Olhei para trás e aquele emo maluco continuava atrás de mim. Mandei o dedo do meio para ele, puto da vida. Quando voltei minha atenção para onde eu estava indo, era tarde demais, tropecei em algo, meu corpo foi para frente, perdi o equilíbrio e caí de cara, batendo meus dentes frontais contra o cimento da calçada. O contratempo foi o suficiente para o garoto me alcançar, senti seus passos pertos.

Eu estava tão puto e envergonhado, levantei o olhar, encontrando a figura do cabeça de tomate agachado em minha frente, com um enorme sorriso nos lábios.

— Moleque, você é completamente doente da cabeça, lelé da cuca, doido, maluco, insano — dizia ele, rindo na minha cara. Suspirei pesadamente, levantando-me e sentando na calçada, sentindo meus joelhos arderem e meu dente doer. — Ih, tá sangrando um pouco... Bom, a sorte é que seu dente da frente é grande, se quebrar a metade, vai só ficar no tamanho normal. — E mais uma vez ele caiu na gargalhada. Nossa, como esse cara é engraçado, muito hilário.

— Por que você não enfia essa sua risada de gralha no meio do cu?

— Que isso, a bonequinha tá brava? — Ele continuou com seu sorrisinho arteiro que, nessa cabeça sem massa cerebral alguma, deve achar que é muito sexy e encantador.

— Cafona — soltei, levantando-me e limpando o uniforme, suspirando ao notar que o tecido na região de meus joelhos rasgou.

— Cafona? Eu? Garoto, oposto de você, eu sou um homem com estilo, você parece ser um nerdola psicopata!

— Estilo? Você parece ter travado em 2011, metido a emo com esse seu cabelo ressecado que tá prestes a cair de tanta química e sua rebeldia fajuta! — rebati.

— E você que suga todo o ar com essa tromba na cara aí? Você fede a cabaço — respondeu ele.

— E você fede a catinga de suvaco, seu fedorento!

— Fedorento é essa sua piroca sebosa!

— Bunda cagada!

— Mama pica de professor!

— Broxa!

— Broxa? Pergunta pra vadia da sua mãe quem é o broxa, seu cu de apito!

Eu me calei ao ouvir sobre minha mãe, abaixei a cabeça e abracei meus próprios braços, fungando.

— Você está chorando?

— Minha mãe faleceu... É um pouco recente... Ela faz falta...

Senti seus braços rodeando meu corpo, sorri maligno, levando minhas mãos até seu peitoral, onde segurei em seus mamilos e os torci com força, fazendo-o gritar. Inclusive, senti o piercing ali, que... Interessante.

— FILHO DA PUTA! SOLTA, SOLTA, SOLTA! SEU DESGRAÇADO!

Soltei e me afastei, mantendo o sorriso no rosto, satisfeito por me vingar. Atuação de milhões, meus amigos.

— Seu moleque endiabrado! Perdeu a cabeça de vez?

— Nunca mais saia correndo atrás de mim igual um psicopata!

— Eu vim atrás de você para pegar seu número, seu idiota — ele respondeu. Que cara de pau.

— Pegar meu número? Você não tem vergonha? E se eu tivesse namorada, hein?

— O quê? Não! Não! Não é pra isso, seu convencido. É para marcarmos o horário para fazer o trabalho. — Olha como ele mente na cara dura.

— Aham, e um vagabundo igual você vai fazer o trabalho? Qual é, Park Jimin, acha que eu nasci ontem? Eu faço o trabalho e coloco seu nome, pronto.

— A gente precisa ensaiar para tirar nota, esqueceu? Querendo ou não, preciso saber desse trabalho de ponta a ponta, então vamos ter que fazer juntos.

Cruzei meus braços, indignado. É, dessa parte eu não lembro.

— Você tem uma imaginação fértil, né, meu bem? - disse ele, segurando em meu ombro e empurrando-me contra a parede, encurralando-me ali. Arregalei meus olhos surpresos, apoiando minhas mãos em seu peitoral. — Seja sincero... Queria me ver atrás de ti, né? Igual naqueles livros de romance, onde os gostosões como eu ficam atrás da garota nerd e invisível da escola, que é claramente o seu estereótipo.

— Você acha que eu sou um "nerd fofo"? E, espera, você lê romance colegial? — Não sabia o que mais me surpreendia, a visão que ele tinha de mim, ou saber que ele tem a capacidade cognitiva de ler.

— Mas isso é óbvio, você é claramente um nerd fofinho e inocente, como eu disse, você fede a cabaço e... — Ele aproximou seu nariz no meu pescoço, eu ainda estava abismado com o que tinha acabado de ouvir, eu... — Perfume de bebê. E, respondendo sua pergunta, minha irmã é viciada nessas merdas, então... Eu sei o básico.

Eu sou aquilo que eu mais condeno... Como? Em que momento me permiti a encenar esse papel?

Empurrei o ruivo, afastando-o de mim e cruzei meus braços novamente, encarando-o.

— Se quer meu número, se vire para conseguir. Eu já passei de ano no segundo trimestre, zerar esse trabalho não é nada pra mim. Boa sorte!

Segui caminho, percebendo que havia um ônibus vindo, corri para o ponto e dei sinal, entrando no automóvel antes que Jimin viesse atrás.

A ideia de ser uma espécie de nerd imbecil de fanfic ainda me atormenta, quanto mais eu tento fugir do clichê... Preciso fazer algo a respeito. Definitivamente.

(...)

Desde que cheguei em casa, não desgrudava minha bunda da cadeira, relendo todas as fanfics antigas, na minha primeira conta na plataforma de histórias. Aquele lugar era mal assombrado, repleto de histórias de amor doce, ID, grupos de kpop... Todos com uma coisa em comum: são tremendamente mal desenvolvidas, relacionamentos tóxicos romantizados e claro, o famoso estereótipo.

E, por mais que eu não queira, eu deveria admitir: eu sou o nerd das fanfics!

Órfão, virgem, introvertido; enquanto Jimin era rebelde, popular e rockeiro. Que pesadelo!

Mas, como nem tudo é uma desgraça, temos uma vantagem: eu sou mais alto do que o ruivo falso, além de ter mais massa muscular.

Meio caminho andado para o sucesso!

— Jungkook, querido! Telefone pra você.

Escuto minha tia chamar, então desço os degraus da escada, indo em direção a sala. Quem usa telefone fixo hoje em dia? E por que meus tios ainda tinham um?

Enfim, devaneios à parte, peguei o telefone e coloquei em minha orelha.

— Alô?

— Jeon Jungkook?

— Sim, sou eu...

— Que bom que atendeu. — Senti meu corpo gelar completamente ao ouvir sua voz da outra linha, sequer sabia o que dizer. Eu não conseguia crer no que estava acontecendo.

Cafajeste || jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora