Clarice - X

6.1K 485 12
                                    

Dormi o vôo todo. Chegamos em Cuiabá às 15:45 da tarde. Meus pais não me esperavam no aeroporto.
Fui direto para casa assim que saí. Vazia, pra variar. Dormi pelo resto do dia e acordei com um barulho de gente em casa. Fui até a sala e encontrei meus pais, meus tios e alguns primos. Estavam fazendo um churrasco. Assim que saí minha mãe me diz que quer conversar.
Vamos até seu quarto e ela se senta na cama.

- Clarice Maya,  vou ser bem direta com você. Sei muito bem motivo dessa viagem para Bahia! Se achou que ia me esconder essa tal de Eduarda,  está muito enganada! 

- Mas mãe... - tento falar,  mas ela me interrompe.

- Mas nada Clarice!  Eu e seu pai vimos as fotos! Aquela pouca vergonha!  Tem idéia do vexame que nos fez passar?  Todos vendo aquela baixaria na internet!  Eu vou te dizer, pela última vez,  pare já com essa ideia de querer ser... Isso aí!  Na minha família eu não vou aceitar essa aberração!  - Minha mãe estava aos gritos e eu já chorava muito.

- Mãe,  eu... Eu amo a Eduarda e não me envergonho disso! - Mal termino de dizer e sinto sua mão em meu rosto. Pela primeira vez na vida minha mãe me bateu!

- Eu já disse,  acabe já com isso!

- Não! 

- Isso significa só uma coisa garota,  você está nos renegando!  E se quer viver dessa forma... sendo essa anormalidade,  vivendo nessa luxúria,  esqueça que um dia teve a nós como família!  - a voz de meu pai irrompe o quarto.

- Você está me expulsando de casa, pai? - Digo ainda aos prantos.

- Não me chame mais assim!

- Então estou saindo!

Minha mãe está chorando e meu pai me olha com ódio.
Saio do quarto,  arrumo minhas coisas e saio.
Entro em meu carro ainda sem destino certo. Então me lembro que Jhon e Lua moram juntos. Ligo para os dois, mas não me atendem. Dirijo sem rumo pela cidade até receber a ligação de Jhon.

- Clari, aconteceu alguma coisa? Tem dez chamadas perdidas sua. - Ele diz quando atendo.

- Aconteceu tudo amore! Posso ir para sua casa?

- Claro que pode!

- Estou chegando aí então. Obrigado!  Muito mesmo! Te amo.

Desligo o telefone e saio com o carro novamente. Chego à casa de Jhon e toco a campainha. Ele abre e ao me ver, me abraça e me puxa pra dentro.

- O que foi?  Por que todas essas lágrimas?  - ele me abraça e me sinto segura. Lua entra na sala e ele pede que ela pegue um copo de água. Ela chega e após beber a água consigo contar tudo o que aconteceu.

- Ei, sabe que teu quarto nessa casa existe a muito tempo né?  Fica aqui! Somos uma família bem maluca,  mas nós te amamos! E estamos aqui,  sempre, pro que precisar! - Lua diz.

Depois de um tempo de conversa, tomo um banho e vou pro "meu" quarto. Lavo o rosto e tento, em vão, disfarçar a dor para Eduarda. Nos falamos por pouco tempo,  mas já me sinto melhor. Abraço o urso que ela me deu e abro a carta métrica. Ela escreveu na primeira página:

"Eu te amo pra sempre. Venha o que vier. Aconteça o que acontecer. E vou repetir isso de novo e de  novo. Pra você ter certeza. E não me importa a distância, nem os desafios,  se for pra ficar com você,  qualquer sacrifício vale a pena. Te amo muito Clarice Maya! 

Segunda página:

Amor, te quero aqui. Mas mesmo não te tendo ao meu lado,  saiba que vai estar em meu coração para  sempre. Te amo tanto princesa. Nunca duvide disso!

Com essas palavras eu dormi. Por que enfim estava tranquila. Pois sei, se ela está ao meu lado,  posso enfrentar qualquer coisa. E saber que ela me ama, faz a distância parecer pequena. Naquela noite,  mesmo tão longe, era como se ela estivesse aqui, pois sei que nesse instante ela também está pensando em mim. E de uma forma mágica, sei que estamos tão conectadas que ela está perto de mim. Pensar assim me faz forte. Adormeço sem me dar conta de que,  pela primeira vez,  após uma briga com meus pais eu não me cortei! Ela me faz tão bem,  mesmo de longe, que os problemas já não doem tanto.  Ela me faz vencer meus maiores medos. Ela é meu porto seguro!

Tão longe.... Tão perto (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora