04 • 🪟

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Karolina
Agosto de 2020 - Rio de Janeiro.

— Terminei! — Escuto o suspiro de agradecimento de Raulzinho e reviro os olhos. — Não entendi o porquê de vocês quererem tanto que eu vá... — Comento pensativa.

— Os meninos querem sua opinião na música. Se eu não aparecer com você lá, tô lascado. — Explica e eu concordo sorrindo.

— Só eles? — Questiono e ele revira os olhos, me fazendo rir ainda mais.

Sabe a ovelha negra da família? Essa com certeza sou eu. Minha família é o próprio estereótipo de família de humanas; que valoriza as artes, o teatro e a música. Meu pai só faltou soltar fogos quando meu irmão contou que iria mudar pra São Paulo e começar uma banda com os meninos.

Já quando eu contei que ia cursar Design Gráfico e não seguiria a música - como ele sempre sonhou - o clima na casa foi de enterro. O que acontece é que, por mais que eu amasse viver nesse mundo, eu queria algo concreto pro meu futuro. Algo que me desse estabilidade. E eu encontrei isso na minha formação.

Essa história é piada no meus grupo de amigos? Claro que sim! Qual pai iria preferir que a filha fosse cantora ao invés de ter uma faculdade e um trabalho formal? Mas também, o que esperar de uma família que viveu anos em uma comunidade alternativa, pregando o amor, o cuidado com a natureza e vivendo da arte? Ninguém é normal naquela casa.

Mas, mesmo com essas diferenças, eu e meu irmãos somos muito unidos. Ao ponto de nosso ciclo de amigos ser o mesmo e estarmos sempre envolvidos nos projetos uns dos outros.

— Como vocês conseguiram contato com essa gravadora? — Pergunto, enquanto esperávamos o elevador pra subir para o estúdio.

— O Tito, nesse moods aleatório dele, acabou conhecendo o Papato e mostrou nossa música. O cara gostou e chamou a gente pra fazer um som. — Explica de forma simples, me fazendo concordar.

Entramos no elevador e abracei meu irmão na hora escutando a risadinha dele.

— Meu sonho era estar no dia que o elevador da faculdade parou com você dentro. — Ele comenta, me fazendo olhar séria para ele. Como o indivíduo pode me zoar por causa desse dia?

— Eu só não morri ali porque Deus não deixou. Foi um milagre. — Digo e ele solta uma risada.

As portas se abriram, nos dando acesso ao estudo da Papatunes. Os meninos estavam na recepção conversando com dois homens; um eu identifiquei ser o Papato e o outro, por mais que parecesse com ele, eu não fazia ideia de quem era.

— Achei que vocês fossem demorar mais... — Tito comenta zoando, mas eu sabia que no fundo era verdade.

— Culpa da sua amiga, que demora um século pra se arrumar. — Raul respondeu, sabendo que eles não iriam implicar. Dito e feito: eles nem ligaram.

— Então já que está todo mundo aqui, eu tenho uma notícia pra dar pra vocês. Um cara com quem eu trabalho gostou da música e quer gravar com vocês... Eu ia esperar ele chegar pra falar, mas, como podem ver, ele não é muito pontual... — Papato brinca, fazendo todos nós rirmos.

— Eu escutei cara! Desculpa a demora, galera. — Um moreno alto entra na sala, cumprimentando o pessoal.

O rosto dele é muito familiar. Eu o conheço de algum lugar, mas não sei de onde...

De onde eu te vejo • L7nnonOnde histórias criam vida. Descubra agora