Sobre cigarros não fumados.

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eu sou um cigarro apagado
esperando atrás da orelha
até que me dê um trago
suplicando para que
me leve até seus lábios
e me acenda
entre seus dedos cansados.

eu sinto seu hálito quente
sua boca me amansa
e me consome
em meia hora
eu fervo e deliro
até me queimar por inteiro
e me tornar
apenas memória.

a febre me faz de escravo
eu ardo em suas pupilas
te faço lacrimejar
amarelo seus dentes
mas farei tanta falta
quando a noite tardar.

sou testemunha de um retrato
e ao infindável passo
em cinzas me desfaço
até que acabo em um frasco
largado na mesa de um bar.

talvez eu não te faça tão bem
eu sei que posso até te matar aos poucos
por isso me guardo escondido
dentro de um velho sapato
mas por esses poucos minutos
aceso entre seus lábios
vejo que valho tanto
e só preciso ser amado.

eu serei sua distração
seu alívio
até que a chama se apague.
como um vício,
espero que pense em mim
às 3 da manhã
e me deseje
mais do que tudo
se imagine comigo
acompanhado apenas
da leve brisa da noite
e um poema
meio apagado.

-sanchez.

Crônicas de um babaca.Onde histórias criam vida. Descubra agora