vejo as outras pessoas felizes, passeando pela calçada às três da tarde no sol escaldante como se não tivessem nada a temer
eu não sou capaz de cortar laços, fico procurando resquícios de algo que a muito tempo já não faz mais parte da minha rotina
dou margem à minha ansiedade
faço isso de propósito
preciso sentir que eu ainda estou no controle do meu corpo
penso em mil maneiras de dizer a minha mãe que não quero mais encarar o dia que mal começou mas penso "será que algo novo pode acontecer?" e logo desisto da ideia
nem sei mais o porquê ainda tento encarar o dia de uma forma melhor e mais leve se no final vai ser o mesmo, escrevendo às meia noite e doze com o estômago ardendo por causa da azia.
tô enjoado da minha cara, sempre com a mesma pele áspera e boca ressecada, jaqueta e calça jeans todo dia, tênis velho pra andar de skate e um perfume meio caro.
fico tentando ser menos idiota comigo mesmo e ser mais sincero em palavras com as pessoas, porém percebi que não adianta;
sempre crio uma nova e estranha personalidade pra cada ambiente novo que habito,
mas nunca sendo eu mesmo.
no fim, percebi que esse sou eu.
-sanchez
