Parte 19

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Kara só percebeu que haviam chegado quando o condutor avisou através dos alto-falantes internos. Lena ainda dormia em seu ombro e ela se perguntou se aquela posição não era incômoda.

–Lena? – chamou baixinho, para não assustá-la.

Lena se mexeu, apertando os olhos, mas sem os abrir, Kara passou um braço ao seu redor, se aproximando ainda mais dela.

–Lena? – repetiu, um pouco mais alto.

–Hum? – fez Lena, piscando os olhos até acordar, inocentemente desnorteada.

Era uma cena casual e ao mesmo tempo linda.

–Chegamos – respondeu Kara, soltando-a e se levantando.

–Ah. E por que eu estava deitada em cima de você? – perguntou Lena, enquanto Kara pegava as malas.

–Porque o trem fez uma curva e você quase caiu. Estragaria minha viagem à Paris ter que te levar para o hospital por conta de uma fratura craniana... sem falar que ia ser um saco para você.

–Certo – murmurou Lena. – Estou com um pouco de dor-de-cabeça, talvez da viagem.

–Se eu fosse má, diria algo como "bem-feito".

Lena rolou os olhos.

–Próxima parada? – perguntou Kara, quando chegaram à estação.

–Roteiro? – chamou Lena, pegando a folhinha de seu bolso.

–Eu tinha esperanças de que você tivesse esquecido – confessou Kara.

–Eu não correria esse risco.

"7º Passear pela cidade de mãos dadas, como um lindo casal que se preze tem que fazer"

–Melhor chamarmos um táxi e deixarmos as malas no hotel – decidiu Kara.

Ficaram em silêncio por alguns minutos.

–São doze euros – disse o taxista, parando à porta do grandioso hotel.

–Certo. Estamos perto do centro da cidade? – perguntou Kara, pagando-o.

–É só virar na próxima rua à esquerda. Precisa de ajuda com as malas?

–Não, obrigado – agradeceu Kara, já abrindo a porta.

Lena fechou a porta no mesmo instante em que Kara fechou o porta-malas e o táxi arrancou.

O porteiro veio recebê-las.

–Com licença, madame, posso ajudá-la? – perguntou com um grave sotaque, já pegando as malas.

–Por favor – respondeu Kara. – Ainda vamos confirmar a reserva.

–Claro, madame. Remy? – chamou um lacaio, que o atendeu prontamente. Ordenou algumas coisas em um francês rápido e se afastou, deixando as malas com o lacaio.

–Esperarei aqui com as malas, madame – disse Remy, fazendo para Kara um gesto até a recepção.

–Obrigado – agradeceu ela, indo conferir a reserva, Lena preferiu esperar.

x---x

–Oui, madame Andrea foi muito seletiva – disse a recepcionista de sotaque afetado, folheando rapidamente um grosso caderno de anotações. – Quarto 33.

–Madame Andrea é minha... madrinha de casamento e foi ela quem organizou essa viagem. Poderia me dizer o que quis dizer com "seletiva"? – perguntou Kara, temerosa.

–Nossos quartos são divididos de uma forma muito eficiente, madame Kara, e há cinco quartos especiais para casais.

Como uma moça tão bonita podia dizer algo tão desagradável! Pensou Kara, antevendo a tragédia.

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