Prólogo

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❀🎨❀Charlotte Matthews

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Charlotte Matthews

Silêncio.

Desde que possa me lembrar, o mundo era completamente abraçado pelo silêncio. Quando mais jovem, não existia nada que me fizesse notar que era diferente, eu era apenas uma criança, mas também não significava que nunca havia suspeitado de que algo não parecia certo.

Nascida e criada em uma cidade pequena, daquelas que todos se conheciam e segredos nunca seriam totalmente segredos, qualquer coisa fora da rotina se tornava algo digno de alvoroço. Por essa razão, não demorou muito para que eu percebesse que definitivamente tinha algo de errado comigo.

Meus pais eram humildes, minha casa pequena e com um quintal nem tão extravagante, mas ao menos era cheio de flores. Eu gostava de passar o meu tempo livre por lá, assistindo minha mãe podar rosa por rosa enquanto engolia a necessidade de perguntar o motivo no qual ela o fazia. Eu não sabia como.

Mas o que mais me atiçava naquele lugar era como tudo soava ainda mais quieto. Claro, todos os outros cômodos da casa eram quietos para mim, mas o quintal tinha um silêncio diferente. Lá era tão fresco, as variadas flores tão perfumadas e coloridas. Eu gostava de coisas coloridas.

Eu amo coisas coloridas.

O diagnóstico tardou a ser dado, mas finalmente havia sido. Foram inúmeros errados e algumas suspeitas nem um pouco certeiras, chegando a cogitarem tantas doenças cognitivas diferentes que meus pais quase perderam as esperanças. Mas agora eu sabia por qual razão o mundo soava diferente para mim, na verdade, a razão pela qual ele não soava.

Eu era uma criança surda, e por mais que na época não tivesse a mínima noção do que aquilo significasse, o quão sério aquilo era, não mudava o fato de que eu ouvia um grande nada. Para não ser exagerada, eu ouvia alguns ruídos, mas em um ambiente caótico eu nunca saberia distingui-los.

Sei que soa um pouco indiferente de minha parte, mas eu nunca realmente me importei. Eu me consolava de que não havia como sentir falta de sons que nunca ouvi, mas nem sempre isso era o bastante. A medida em que crescia, eu enxergava o quanto meus ouvidos defeituosos me afetavam, em como eles me privaram de uma infância normal.

Estudar em uma escola comum, ainda mais em uma cidade com zero acessibilidade para pessoas como eu, estava fora de cogitação, mas eu não tive muita escolha. Era como uma eterna luta contra meus próprios demônios, pois eu sabia que as crianças riam de mim, mesmo sem ouvi-las eu tinha certeza.

Eu suportei aquilo por alguns anos, na verdade eu até arrisco dizer que me virei bem sozinha. Mesmo sem ouvir eu havia aprendido a ler e a escrever, algo extraordinário para mentes tão fechadas daquela cidadezinha pacata. Eles ficavam inacreditados que uma garota surda sabia ler, como se tal proeza fosse inalcançável para alguém como eu.

cores do silêncio | lottienatOnde histórias criam vida. Descubra agora