Charlotte Matthews é uma jovem surda determinada a conquistar o mundo das artes e, para isso, finalmente se muda para os dormitórios de uma renomada faculdade em Nova York. Mas seu entusiasmo rapidamente dá lugar ao isolamento, quando ela se depara...
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✭🎧✭ Narrador
Quando Natalie despertou naquela manhã, seus olhos vaguearam pelo quarto antes mesmo que sua consciência estivesse totalmente desperta. Foi um movimento automático, quase instintivo, como se seu corpo já soubesse o que procurar antes que sua mente acompanhasse.
Mas, em vez da figura colorida e irritantemente calma que atormentara sua noite, encontrou apenas a cama impecavelmente arrumada e o espaço vazio ao redor. Nenhum vestígio de Lottie em um raio de cinco metros.
Um suspiro escapou de seus lábios, aliviando a tensão que nem havia percebido estar carregando. Seu corpo relaxou contra os lençóis macios, afundando levemente enquanto espreguiçava os braços acima da cabeça, sentindo os músculos protestarem contra o movimento. Seus dedos tatearam a mesinha de cabeceira até encontrarem o celular, a tela iluminando a penumbra suave do quarto.
Ainda era cedo. O despertador não tinha tocado.
Por um momento, Natalie apenas observou os números brilharem na tela, considerando a possibilidade de fechar os olhos e se entregar ao sono mais uma vez. Mas sabia que era uma má ideia. Seu corpo estava pesado demais, e se voltasse a dormir agora, não confiava em si mesma para acordar a tempo.
Então ficou ali. Deitada. Os olhos vagando sem rumo pelo lado do quarto que não lhe pertencia.
Foi inevitável reparar no caos meticulosamente artístico de Lottie. As cores gritantes, os traços soltos, a bagunça visual bem organizada que contrastava com a serenidade quase etérea da garota. E, claro, as margaridas.
No teto, nas telas apoiadas contra a parede, até nas fronhas do travesseiro.
Um vinco se formou entre as sobrancelhas de Natalie enquanto ela analisava aquilo. Quantas margaridas uma única pessoa precisava pintar até se dar por satisfeita?
Seus olhos passaram pela arara de roupas e, pelo menos ali, encontrou um mínimo de alívio. Os suéteres pendurados seguiam uma paleta de cores pastéis, organizados num degradê que quase acalmava seus nervos. Nada berrante. Nada que fizesse seus olhos doerem. Um verdadeiro milagre no meio daquele quarto.
Já o post-it que deixara na cabeceira da outra? Sumira. Nenhuma surpresa.
Claro que Lottie se livraria dele. A garota parecia carregar essa mania irritante de manter tudo impecável, ao menos, do jeito dela. Natalie soltou um gemido baixo, enterrando o rosto no travesseiro, como se aquilo fosse impedir o inevitável.
O inevitável veio.
O despertador explodiu no quarto como um soco no tímpano.
Korn. A.D.I.D.A.S..
Se antes aquela música a fazia sentir algo, agora só despertava um ódio profundo e renovado. Era o terceiro dia seguido em que acordava com os riffs esmagando sua paciência.