✔| 𝓘𝐍𝐒𝐈𝐃𝐄 𝐎𝐔𝐓 ‹𝟹 sally face

the interview

Jogar Ouija não estava em nossos planos, Ash apenas apareceu com uma folha de papel e disse que fez um tabuleiro, quando peguei aquilo olhei bem e vi que havia o alfabeto no meio do mesmo, números acima do anterior, "sim" e "Não" nas extremidades e por fim, "adeus" embaixo. Talvez Sal conte essa próxima história no último capítulo, já que foi quase na mesma semana.

Os meninos, menos Todd, concordaram na hora, não que o ruivo não acreditasse, ele apenas achava arriscado brincar com espíritos desse jeito. Sally disse que não precisaria pois ele mesmo pode conversar com os espíritos "pessoalmente" e depois de usar a "tábua", Ash a amassou e disse que na manhã seguinte iria queimar, e para não deixar passar em branco aquele acampamento atrás do apartamento, brincamos de verdade ou desafio.

Hoje eu estava entre ir à uma entrevista e ir à escola do meu filho. A primeira opção não é tão importante como a segunda, mas infelizmente não tive escolha, embora preferisse ir ver o que a professora tem a dizer sobre Candy e por que ele estava brigando com seus coleguinhas.

Pra falar a verdade, já imagino o porquê. Não é a primeira vez que recebo uma advertência sobre isso. Candy não tem pai e creio que isso tenha o irritado, mas agora que supostamente tem um, deve ficar mais dócil. Não fiquei surpresa com a forma que ele engoliu a mentira, afinal, desde pequeno ele dizia que todos os homens que ele via eram seu pai, chegou a dizer que um colega meu de trabalho era, confesso ter dito: "Nossa filho, amei."

— Vou falar com a babá de Candy para levá-lo, pode ir pra casa se quiser, o contrato dizia que devemos sair juntos, apenas.

— Não se preocupe, eu vou. — Jake disse pegando em meu ombro como se estivesse me acalmando. — Depois, Candy e eu vamos tomar sorvete. — Falou como se fossem íntimos e eu fiz uma careta, não confio meu filho nele.

Embora dissesse que Sal seria um pai melhor, nem em nele eu confiaria Candy.

— Não se preocupe, eu peço para Adelaide ir, nem esquenta a cabeça com isso. — Peguei as chaves do carro e ele me olhou com uma cara de "sério?" — Está levando a sério demais isso de ser pai. É apenas um contrato ridículo para tentar limpar nossa imagem.

— Tenho que estar no personagem. — Falou meio risonho e eu revirei os olhos.

— Você não entende, eu sou mãe, não confio meu filho com qualquer um, sem ofensas, mas insisto que Adelaide vá junto. — Coloquei a mão na maçaneta para ir embora. — Só saia desse lugar junto com Adelaide, por favor. — Mantive meu tom firme. Candy estava dormindo pois se tratava de cinco da manhã, ele começaria se arrumar apenas meia-hora depois.

— Quando eu chegar, você me conta o que houve. — Ele assentiu com a cabeça meio receoso e eu sorri em resposta.

Sempre temos que chegar cedo pois alguns programas demoram a começar, talvez me chamem lá para às sete ou oito, sem contar que eu devo dar uma estudada nas falas. Não sei se já contei, mas a minha gravadora faz as próprias perguntas e vendem para o programa, o mesmo vale para as respostas. Tenho que atuar bem, agir como se não soubesse de nenhuma dessas perguntas.

As minhas unhas estavam todas descascadas, não sabia se me preocupava com Candy junto de um homem desconhecido ou com a entrevista, tenho que responder tudo certinho ou então provavelmente Michelle me esganaria.

Eram sete e meia, eu estava no camarim me olhando pela milésima vez no espelho para ter certeza que não estava desarrumada. Estou aqui desde às seis horas e não aguento mais. Está um frio do cacete nesse camarim e não tenho um agasalho sequer. Esperei mais alguns minutos para que me chamassem, e até que finalmente uma moça morena aparece na porta sem bater.

— Você entra em dez minutos. — E foi embora.

Me levantei da cadeira ajustando minha camiseta e fiquei na porta esperando minha vez, confesso que meu coração estava acelerado e eu senti adrenalina pura em minhas veias. Não entendi, já fiz tantas entrevistas, inclusive com uma vidente, e nunca fiquei assim.