I. Éveil

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Na cozinha, a mãe cantarolava, em tom quase inaudível, uma canção pouco condizente com a suave melodia que o pai tocava no piano da sala de estar. A menina, em seus cinco anos e na imersão de seu universo particular, propunha-se a fazer daquele ressoar sua brincadeira favorita.

Era uma família de bonecas, em uma casinha não muito ornamentada, dançando e rodopiando conforme a música, agindo conforme as vontades da garota.

Que história daria para elas? Não havia como decidir, sua única certeza é de que se certificaria de dar a elas seus devidos finais mais felizes. Estariam sempre ali uma para a outra, compartilhando lições e vivendo por cada um de seus sonhos.

O sorriso da menina em nenhum momento a abandonou. Nem mesmo quando, inebriada pelas notas que se espalhavam por cada cômodo da casa, levantou-se e começou a dançar.

Não se importou com os passos pouco alinhados, desde que seus pés a guiassem para a melhor interpretação daquela melodia lenta. Era um momento para se sentir mais viva do que em qualquer outro, para pisar de nuvem em nuvem sem receios de ir em queda livre. Um momento para sonhar e desejar que aquilo nunca tivesse um fim.

No âmago do seu ser, ela sabia que todos os planetas e cosmos se alinhariam para presenciar sua performance. Ela fechava os olhos e conseguia imaginar uma galáxia, uma plateia inteira olhando para ela e somente para ela. E havia concluído que não deveria querer nada menos do que isso para si.

Naquele dia, as estrelas da constelação que guardava em si cintilavam ainda mais conforme escutava a crescente de aplausos de seus pais. Naquele dia, ela sentiu que era aquilo que deveria fazer pelo resto de seus dias. Naquele dia, ela era livre.

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