Capítulo I

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Neereza

Os olhos da garota, um azul quase violeta, e o outro num azul mais claro que os mares da Corte Estival, se encontravam cheios de lagrimas.

Podia ouvir-se sua respiração pesada no cômodo, a mesma arrancou os lençóis de cima de seu corpo e caminho apressadamente ate o banheiro, usando de sua magia para que a banheira enchesse enquanto se despia com pressa. Assim que seu corpo se encontrava completamente nu, mergulhou na banheira de agua gelada afim de acalmar seu corpo.

O dia ainda não havia amanhecido mas, estava próximo então, ao sair da banheira vestiu sua roupa de treino e foi pra a cozinha  preparar seu café e de Lorenin, que logo bateria em sua porta.

Lorenin é seu melhor amigo, desde que seus "pais" se foram, o rapaz de olhos claros visita a garota todos os dias, sem exceção.

Logo a porta foi aberta, Neereza não se preocupou em olhar quem era, sentiu o cheiro de seu amigo assim que ele chegou próximo a sua casa.

— Bom dia Lazúli — Disse ao entrar na cozinha, lhe dando um beijo na testa logo em seguida.

— Dia — Murmurou a garota, e o rapaz já sabia que outro pesadelo havia ocorrido aquela noite.

Lorenin insistia varias vezes para dormir ali, queria sempre estar perto para ajudar sua amiga quando os pesadelos vinham, a garota não dizia sobre o que se tratavam os pesadelos, e ele não insistia para que a mesma contasse, sabendo que aquilo a afetava de uma maneira que ele não sabia identificar.

Ele apenas se sentou em uma das duas cadeiras que a garota possuía em sua casa, ambas faziam conjunto da pequena mesa que a garota havia ganhado a algum tempo atrás, aguardou pacientemente que a garota terminasse de fazer o café.

Assim que a mesma se virou para seu amigo, ele a observava calmamente, e abriu seus braços em um silencioso convite para um abraço.

A jovem não recusou, se jogando nos braços de seu melhor amigo e se aconchegando ali, gostava como ele a compreendia e não questionava — pelo menos na maioria das vezes — sua decisão de não querer contar ao mesmo o que se passava.

Um bom tempo depois, ambos se soltaram, Neereza já se sentia melhor, e Lorenin, mesmo que sua língua coçasse para perguntar, se conteve em apenas tomar seu café.

— Vai ao acampamento hoje? — Questionou a jovem, que assentiu sem desviar os olhos do prato a sua frente — Tem certeza?

— Está tudo bem Lorenin, treinar vai me ajudar a esquecer — Deu um pequeno sorriso e suspirou, se levantando e levando seu prato a pia.

Lorenin fez o mesmo logo em seguida, e se dirigiu para fora da casa sabendo que Neereza estaria logo atrás dele, parou no meio do jardim esperando a garota se aproximar para que ambos atravessassem para o acampamento.

Já no meio do acampamento, ambos se separaram, indo cada um para seu respectivo lugar de treino, que infelizmente para ambos, não era junto.

Assim que Neereza se aproximou da área de treinamento, apontou para a illiryana que aparentava ser a mais forte dali, a que iria aguentar um bom tempo batalhando com a mesma.

Neereza sabia que suas habilidades corpo a corpo eram boas, treinava desde pequena, não gostava muito de seus "pais", não sabia nem dizer se esta palavra seria a certa para descrever os dois que acompanharam seu crescimento.

Sabia que, eles não eram seus verdadeiros pais, mas também não sabia dizer quem eram, para ela, estavam todos mortos. No fundo, agradecia o fato de não ter o sangue daquele homem sabendo de tudo que ele fez, não só com ela, mas com outras pessoas também.

Learco não queria uma filha, ele queria uma maquina de luta, alguém que iria fazer aquilo que ele mandaria, sem o questionar de forma alguma sobre o por que.

Infelizmente, Neereza já foi esta pessoa, desde que era um pequeno bebe, foi submetida a diversos tipos de treinamentos e torturas, muitos não acreditavam que seu próprio "pai" havia feito com que ela passasse por tudo aquilo, teve suas asas cortadas ainda quando pequena, sem saber usa-las ainda, se sentia incompleta, mesmo que não tivesse chegado de fato, a usar.  

Lorenin estava se aproximando do local onde a garota treinava, praguejou ao encontra-la no centro, sem fazer esforço algum para impedir que a illyriana lhe batesse.

— NEEREZA — Gritou, fazendo com que, quem assistia a cena lhe olhasse — Uma batalha não é uma batalha se você não tenta ganha-la, para de deixar que Dubhe lhe bata — Rosnou, não gostando de ver sua amiga apanhar.

Neereza saiu do transe que estava naquele momento, sentiu o sangue sair de sua boca no ultimo soco que Dubhe havia dado. Não iria ligar, sentia que precisava daquilo, mas Lorenin estava ali agora, e não iria deixar que a garota apanhasse daquela maneira, e ter a luta interrompida por alguém era humilhante demais naquele acampamento.

Quando o punho de Dubhe chegou próximo ao seu rosto, a mesma o segurou apenas com uma mão, não querendo usar seus poderes, Dubhe começou a soca-la com ambos os braços, a garota desviava tranquilamente, quando se cansou e partiu para o ataque.

Neereza não errava nenhum soco que era distribuído, percebeu enquanto Dubhe lhe batia, que a mulher tinha dificuldade com seu braço esquerdo, e ela fez questão de que a mesma esforçasse mais ele.

Ficaram assim por algum tempo, até Neereza se cansar e derrubar a garota no chão e se virar indo até Lorenin que não tinha a expressão muito agradável em direção a garota.

Ela suspirou, sabendo que o mesmo estaria bravo por ela não querer lhe contar sobre o que havia acontecido.



Eles não atravessaram de volta para a casa dela, foram caminhando, lado a lado, Neereza dava algumas cambaleadas pelo sangue perdido, não morava perto do acampamento e Dubhe aparentemente, havia usada suas unhas.

Lorenin, mesmo bravo com toda situação, estava preocupado, respirou fundo, antes de parar a garota e pega-la em seu colo, tomou impulso e logo, ambos estavam no céu.

Lorenin não conseguia atravessar, e não queria que Neereza gastasse energia, sabia que, mesmo que não assumisse, Neereza gostava da sensação de voar, o vendo em seus cabelos, a jovem tentava enganar a si mesma em relação a suas asas.

Lorenin gostaria de ter a conhecido antes.

Antes que tudo o que aconteceu, tivesse acontecido.

Para que, tivesse pelo menos uma chance,

Uma chance de evitar que ela sofresse tanto, tão pequena.



***


Capítulo não revisado.



Corte de Luzes e Sombras (EM BREVE)Onde histórias criam vida. Descubra agora