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É tão difícil para Miranda aceitar que talvez ela tenha se compadecido de uma reles assistente, ou talvez ter consciência de que teve total culpa em relação a nova situação de Andréa. Que internamente ela se sente responsável agora em diante pela garota. Estaria Miranda amolecendo?

Provavelmente ela nunca irá admitir isso para alguém, nem para ela mesma. Mas, Miranda sente remorso, algo que há tantos anos ela não tinha. A última vez que ela teve remorso por alguma atitude sua, foi ainda na juventude, onde ela teve que passar por cima de alguns princípios para poder ganhar um cargo melhor, desde então ela internalizou que, ou você ganha o mundo, ou você se prende em ser uma pessoa moralmente evoluída.

— O que significa isso? – Stephen questiona aproximando da mulher.

— Querido, essa é Andréa, minha assistente pessoal em tempo integral.

É claro que a mulher não havia conversado antes sobre essa decisão com o marido. Miranda como sempre, sempre decidindo tudo sozinha.

Stephen suspira, ele está cansado de certos comportamentos da mulher, e sabe também que quando ela decide algo, Miranda não flexibiliza nem pelo bem estar do casal.

Ele menea a cabeça em concordância, olha Andréa da cabeça aos pés e segue para um cômodo da casa que o permita se sentir sozinho e frustrado em paz.

— Me acompanhe. – Miranda nem olha para Andréa ao falar.

Miranda sobe as escadas, Andréa tem dificuldade para acompanhar seus passos, tendo em vista que a jovem carrega duas malas grandes.

Miranda leva Andréa até o último cômodo do andar de cima, abre a porta e deixa a jovem adentrar. Andréa se impressiona com o tamanho do seu novo quarto. Apesar de está impressionada, ela não se sente feliz. Ela se sente com medo, incerta e nervosa. É assustador para ela saber que agora morará com Miranda. A Miranda, que até então só tem mostrado o quanto odeia a jovem.

Miranda fecha a porta e deixa Andréa a sós. A mulher segue tão pensativa quanto Andréa sobre ambas dividirem o mesmo teto.
Miranda entra em seu escritório, senta no seu sofá de couro marrom e suspira deixando suas costas escorarem no estofado. “Eu fui estuprada.” Miranda ainda consegue recriar o timbre da voz embargada de Andréa ao confidenciar algo que ela já suspeitava.

Miranda também questiona porquê ela não consegue simplesmente se desfazer de Andréa, assim como ela já se desfez de tantos outros funcionários.

Culpa! Miranda se sente culpada, ela não é capaz nem de mensurar o quão traumático seja passar por um estupro, mas, tem dimensão do quão é aterrorizante e dolorido, principalmente quando esse ato gera um fruto no ventre. É a lembrança eterna do que aconteceu.

Enquanto isso Andréa deixa as lágrimas caírem no travesseiro, enquanto sente a angustia arder sua garganta. Ela está muito assustada com tudo, e ela sabe que Miranda vai exigir tanto dela, o tanto que ela nunca foi capaz de dá. Ela tem medo de falhar.

Miranda abre a porta do quarto da jovem, após bater alguns vezes. Miranda percebe Andréa deitada em posição fetal, bem encolhida, a mulher aproxima-se da cama e conforme se aproxima, vai percebendo que Andréa dorme. Perto demais da cama, Miranda consegue ver o travesseiro molhado, ver ainda a trilha que as lágrimas fizeram no rosto da jovem.

Com certeza a garota chorou até pegar no sono. Miranda suspira. Analisa com atenção cada pedaço do rosto da garota: os lábios carnudos e inchados, pele jovial e aparentemente macia, os grandes cílios, a franja caída para o lado, o nariz vermelho.
Os olhos azuis segue caminho pelo braço, caem para os seios, e voltam a percorrer pelo quadril da garota, logo em seguida as pernas.

Miranda segue até closet e logo volta com um edredom, cobre a garota que mais tarde sentirá frio. A de olhos azuis mais uma vez olha para garota e segue em direção a porta, saindo com cuidado para que Andréa não acorde.

Já em seu quarto, Miranda se desnuda alheia ao seu redor, ela está cansada. Não é fácil ser sempre a dama de ferro. Miranda ouve a porta do seu quarto abrir e um Stephen nem um pouco satisfeito adentrar o recinto.

— Até quando você vai seguir tomando decisões que afetam a nossa família sozinha?

— Desculpe querido, mas, eu realmente preciso compactar meu tempo, e com Andréa aqui, vai facilitar muito meu dia-a-dia. – Ela coloca o roupão.

— Uma estranha, Miranda.

— Assim como todos os outros empregados já foram, a diferença dela e dos outros, é que ela vai dormir aqui.– Ela fala calma como sempre.

Ele lufa, mas, apenas informa para que Miranda não espere ele chegar. Miranda prefere nem perguntar onde ele vai. Tem um bom tempo que ela já não se importa tanto. Tem um bom tempo que eles quase não tem uma vida conjugal.

Miranda segue para o banheiro para tirar sua maquiagem, de frente ao espelho, Miranda sente uma pontada de ansiedade na porta de seu estômago. Andréa a verá sem maquiagem pela primeira vez. E claro, passa na cabeça da mulher as tantas vezes em que ela criticou a aparência da jovem, que agora verá ela sem suas maquiagens caras e que fazem milagres.

Não! Miranda não está insegura, apenas está pensativa sobre algumas questões...

Ao abrir a porta de seu quarto, Miranda encontra uma Andréa aparentemente insegura sobre para onde ir. Andréa estanca ao avistar Miranda. A jovem não deixa de perceber que Miranda está com o rosto limpo, vestida com roupa leve, e Miranda percebe que Andréa lhe observa. Miranda pigarreia. A sensação de está do outro lado da situação é estranha, normalmente é sempre a mulher que observa todos.

— E-eu queria... Bem. “Não faça perguntas para Miranda Priestly” — Eu sei que não devo fazer perguntas, Miranda, mas, eu não sei como e nem por onde começar.

Miranda balança a cabeça incentivando Andréa. Ela sabe o quanto deve está sendo difícil para a garota. Aparentemente Miranda anda tão compadecida que nem ela mesma se reconhece.

— Aqui as circunstâncias são diferentes, você pode me fazer perguntas Andréa. Suponho que você seja capaz de fazer perguntas objetivas e essenciais.

Andréa apenas balança a cabeça em concordância.

— Acompanha-me!

Então Andréa segues os passos atenta a cada apresentação que a Miranda faz sobre a casa.

— Eu serei tipo...sua governanta?

— Mais que isso, e vai ganhar mais que na Runway. Você começará só amanhã, hoje se instale e se familiarize com a casa.

Andréa sorrir tímida.

DiabaOnde histórias criam vida. Descubra agora