Capítulo 11

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  A impaciência de Laerte não se manifestou quando parou à porta, assistindo Iraci encaixar brincos reluzentes de argola no lobo da orelha.

  Havia batido os pés pela escada e ensaiado o discurso que a apressaria a sair daquele maldito closet, mas agora, diante de toda a beleza dela ressaltada a níveis sádicos, tudo o que pôde fazer foi a mirar da cabeça aos pés e sentir os pensamentos reclamões criarem asas e voarem para bem distante, outros os substituíram.

  Iraci empurrou um banquinho repleto de jóias para o lado e se moveu para diante do amplo espelho, os lábios dela fizeram uma curva bem desenhada de um sorriso.

  Ela olhou-se pelo tempo que desejou, depois revirou-se na frente do espelho e estudou a própria bunda.

  — Uau, minha bunda ficou ótima nesse vestido.

  Laerte lançou um olhar de lobo na direção daquela bunda, bem contornado pelo tecido estelar em seu corpo, sentiu um puxão brusco em seu estômago e uma sensação de pulsação se espalhou pelo membro.

  Não podia ficar excitado naquele momento, mas já era um pouco tarde demais. Estava atrasado para poder se enfurnar no próprio quarto e bater uma (vinha fazendo aquilo com frequência, sempre com Iraci em seus pensamentos, as coisas que imaginava fazer com ela... se ela descobrisse aquilo lhe renderia um soco, talvez um tiro agora que Iraci conhecia a localização de todas as armas da casa).

  — Ei! — ela chamou sua atenção — Não é pra você olhar pra minha bunda.

  Laerte ergueu as mãos, rendido.

  — Estava falando sobre ela, estava apenas conferindo e você tem razão — ele sorriu com malícia e continuou — mas acho que ela fica melhor naquele short seu de dormir, ou então... — sua frase o custou um casaquinho macio sendo atirado direto no rosto, que ele precisou se esquivar rapidamente para o evitar, mas quando olhou para Iraci havia a sugestão de um sorriso nos cantos dos lábios. Aquilo provocou um grande prazer em Laerte.

  — Vamos — instruiu ela, com uma última olhadela na direção do espelho.

  Tinha de admitir, Luiza se superou em relação a Iraci, espalhou algum vestígio de maquiagem pelo rosto dela, encheu aqueles lábios carnudos de uma cor intensa de vermelho tão hipnotizante que Laerte achou uma tortura ter que desviar a atenção deles, especialmente quando ela parecia que ia sorrir, ele a faria sorrir naquela noite, prometeu a si mesmo. Quanto ao vestido dela, ele acabaria matando alguém por causa daquele vestido, com um decote profundo sedutor que somente ele, unicamente ele, poderia admirar, também havia aquela fenda suave na perna esquerda terminando em uma bainha sobre saltos escuros com um bico esculpido de brilho no qual Iraci se equilibrava com primor.

  Quando se despediram da mansão para tomar lugar no carro, o céu já havia se desmanchado do azul intenso e mergulhado em uma escuridão estrelada.

  Por todo o caminho Laerte encarou a expressão retraída de Iraci, como se a mente dela estivesse escorregado para um profundo mergulho, por debaixo de todo aquele receio havia algo, alguma excitação que emergia e que ela sufocava rapidamente.

  Estaria mentindo descaradamente se dissesse que poderia mover seus olhos em outra direção que não fosse a dela.

  A noite aberta vetou o calor, apesar do bom tecido do smoking, Laerte sentiu o frio afagando a pele. Lançou um olhar de viés até Iraci e estendeu a mão para a ajudar em sua descida do carro. Os olhos de chocolate espreitaram, como os de um predador da noite à procura de caça. Ela aceitou a mão dele e apertou o flanco do corpo contra o braço dele.

  Laerte passou um olhar pelos bicos dos seios duros inchados de frio, os seios dela eram como armas, prontas para disparar.

  Ele lambeu os lábios, quase sentindo-os em sua boca, os bicos dela rolando nos dentes...

  — Sabe, fica fácil saber o que está pensando olhando pro meus peitos com essa cara de cachorrinho pidão — Laerte acompanhou as palavras dela com um sorriso no rosto.

  Ergueu um pouco mais a direção do olhar encontrando olhos maliciosos, uma diversão sombria ali, escondida, sufocada.

  Ele quis desesperadamente não estar em uma passarela flanqueada por um jardim em um vaivém de convidados bem vestidos de nariz em pé ou expressões mortais. Naquele momento, vendo no fundo dos olhos de Iraci aquela resposta a seu desejo, quis estar sozinho com ela, em qualquer lugar. Os sons que ele a faria soltar, os gemidos...

  — Às vezes não sei se você me provoca assim porque acha divertido ou porque se sente atraída de verdade por mim.

  Os lábios dela, vividos naquele vermelho forte, fizeram uma curva bem definida em um sorriso.

  — Acho que precisa se esforçar mais pra descobrir — Foi a vez de Laerte sorrir.

  Ela apertou-se mais contra ele, tentando lhe roubar algum calor corporal. Os saltos dela, batucando pelo caminho de chão batido, não lhe rendiam muita altura, então o rosto dela ficou próximo ao coração que batia forte dentro dele. Laerte tentou controlar as próprias batidas cardíacas, mas seus pensamentos haviam guiado seu pau a uma pulsação irrefreável e a mente a perspectivas de um final de noite prazeroso.

  Laerte atravessou as portas sem atrair qualquer objeção por parte dos seguranças na entrada, era acostumado com aquilo.

  O salão estava com aquele brilho excessivo de dourado, a primeira coisa que notou foi o lustre descendo como um cacho de uva do teto, refletindo aquele brilho ensolarado sobre as mesas do buffet, as disposições das poucas mesas e cadeiras, no bar no outro extremo do salão, no mezanino vip e nos convidados envolvidos pelo som suave do violino e as vozes baixas de conversas paralelas.

  Ele desceu lentamente os poucos degraus, achando perigosa as quantidades de janela que saiam do chão e subiam até pouco antes do teto.

  Iraci admirou tudo aquilo, a boca semi aberta e olhos apreciativos indo e vindo de uma direção para outra.

  Laerte não gostava de lugares daquele jeito, preferia clubes urbanos desde que era um adolescente com tesão em tudo, mas se Iraci gostava então ele gostava.

  Laerte estudou convidado de rosto em rosto. Seu sócio ainda não tinha dado as caras.

  — Então — Iraci falou, esfregando o vão estreito entre os seios.

  Laerte observou o rosto dela, suave e delicado com a moldura do cabelo semi preso com trança.

  Os lábios dela estavam revirados. Era impossível ignorar a tensão que sentia emanando calor de dentro dela.

  — Está tudo bem?

  Iraci espreitou o olhar, depois fitou seu rosto, havia um apelo ali, era quase se dissesse sem palavras algo como: fique comigo por favor. Em vez disso suplicou:

  — Quero um petisco.

  Ele sorriu com um grande humor aquecendo e espantando as próprias preocupações.

  — Claro que quer.

  — Algo doce, com creme e estupidamente bonito, esses lugares sempre tem coisas assim.

  Laerte não conseguiu resistir, tocou os braços nus e macios e a segurou. O olhar que ambos trocaram derramaria calor por cada beco enterrado no escuro e no frio daquela cidade. Ele sorriu, um sorriso livre da malícia habitual, um sorriso que seus lábios jamais haviam manifestado, um sorriso bobo.

  Por um momento, o sentimento que tinha se espalhado como fogo o assustou, mas parecia tão certo.

  Iraci encarou os lábios dele em ar reverente, então ela manifestou um sorriso próprio, não um bobo, um sorriso de flerte. O coração de Laerte parou por uma grande quantidade de tempo, quando voltou a bater ele bombeava desejo.

O Caos entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora