Capítulo 13

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  Tomar ar na varanda ajudou Iraci apenas a sentir frio. Ainda assim, preferia congelar os braços naquela varanda do que queimar de raiva no salão de festa.

  Seus sentimentos estavam amargos, revirados em algo viscoso e fervente que não passava pela garganta, um lamento de toda a decepção, a confusão, o sentimento forte de traição, pesando no ar mais do que o vento balançando seus cabelos.

  Ela suspirou.

  Quando mais jovem, aos quatorze anos, tinha passado por algo semelhante, uma amiga que tinha sabotado seus treinos para que ela caísse. Iraci a tinha pego no flagra, ficou quieta, queimando o ódio dentro de si, e depois se afastou, era o que ela fazia, reservava seu ódio para si mesma, ardendo ao ponto de uma erupção até... até não poder mais suportar e explodir.

  Sua primeira explosão veio quando muito jovem, ela não se lembrava direito, mas sabia que tinha causado bons estragos no rosto de um colega de escola e nos próprios punhos, a segunda não demorou a vir, mas daquela vez foi contida, apertada nos braços de seu pai, ele tinha a cicatriz da mordida que ela gravou na pele dele. Depois os surtos pararam, quando Chico e Edilene a colocaram para extravasar aquele calor de ódio eterno nos esportes, toda a raiva contida enfim tiveram uma direção.

  O pior surto, naquele beco escuro e imundo, em uma noite de verão tão quente que ela soava muito apesar das poucas roupas renderam a ela mais um crime, um que nunca foi descoberto. As coisas que ela fez deixou o bairro paralisado, todos alertas e temerosos. Ela nunca reivindicou aquele crime para si, deixou pairar na boca dos cidadãos e rodando nos noticiários até que esqueceram-se, decidindo que um assalto seguido de morte parecia mais interessante de se falar.

  Ela estremeceu. Tinham passado-se anos e aquele arrependimento que ela julgava que uma pessoa normal deveria sentir nunca surgiu.

  Sentiu-se lá novamente, naquela noite de chuva, com os sons dos gritos abafados, o medo tempestuoso guiando ao caos as batidas do coração. A raiva, aquela velha amiga conhecida, aquela raiva com seu medo era o equivalente do encontro entre gasolina e um fósforo.

  Passos.

  Iraci ouviu passos discretos atrás dela, que não queriam ser percebidos. Imaginou primeiro Laerte, mas se lembrou que ele não iria se aproximar para um pedidos de desculpas, então desconsiderou. E o cheiro que surgiu também não era o dele, era mais ácido e alcoólico.

  Ela virou, porém foi impedido por seja lá quem a tenha agarrado por trás, pressionando um tecido de odor entorpecente contra o nariz e a boca dela.

  Iraci segurou a respiração com força, da mesma forma que fazia quando se atirava na água.

  O medo pressionou seu peito junto ao ar contido, ela tremeu, agitando os membros antes que algo terrível ocorresse. A sonolência lutou com sua resistência, se espalhando de modo desesperador dentro dela. Com todo o impulso que encontrou, reuniu suas forças do corpo e empurrou o cotovelo para trás, duas vezes, o último golpe supriu as expectativas, retirando a firmeza do homem. Os golpes ligeiros atingiram o abdômen dele. Ele cambaleou para trás, gemendo.

  Iraci se apoiou no parapeito, respirando o ar puro, a névoa deixada pelo tentativa de desacorda-la pairava em sua mente, por trás do silêncio da noite e canto dos grilos ela ouviu o homem soltando um áspero "vagabunda" para ela.

  Quando se virou para o agressor, entornando os saltos dos sapatos, ele a segurou pelo pescoço, avançando com um ódio estreito na olhar, e a empurrou para o lado, a cabeça dela deu em um baque contra a parede. Ela não consegui reagir, sequer pode reunir forças para um grito de ajuda. Sentiu a dor bruta e a inconsciência veio em uma onda pesada demais para ela suportar.

O Caos entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora