A cerimônia foi curta, não haveria festa, o que não preocupou nenhum pingo Drakke, porém o que lhe deixava desconfortável e, ao mesmo tempo, confuso era que Gwendolyn não passava de uma garota, ele não deveria se incomodar com isso, ele sabia que para a sociedade, a idade dele era aceitável, mas para ele 16 anos de diferença era muito, e esse era outro motivo que ele iria levá-la para longe, para que não fosse obrigado a ter que desposá-la na noite de núpcias. O segundo motivo era aqueles sentimentos, ele não entendia, mas algo se remexia dentro dele, a forma como ela se movia, atraia seus olhos sem que ele mesmo percebesse, ou como ela o olhava, os olhos da menina eram de um cinza quase branco, parecidos com a lua cheia, e mesmo nítido que não enxergava, ainda sim ela o seguia com os olhos, como se o reconhecesse, como se de alguma forma ela o visse, o que era estranho para Drakke, também tinha essa sensação, que o deixava cada vez mais irritado, era o fato de que ela pudesse vê-lo por dentro, como se a pureza de seus olhos enxergasse a sujeira de sua alma amargurada.
Além da idade, outras coisas também o incomodavam, como o fato da menina ser tão magra que poderia supor facilmente que não comia direito por anos, era muito pequena, e parecia muito frágil, as mãos havia cicatrizes profundas, ele não saberia dizer se alguém fez isso ou ela mesma, porém, seus cabelos eram bonitos, grandes e loiros caindo em cascatas pelas costas, os cabelos pretos e os olhos verdes eram a marca da família real, mas os de Gwendolyn eram loiros quase brancos. Era a única coisa agradável na menina, pelo menos, era apenas isso que ele poderia se permitir admitir.
Após a cerimônia, o ex-duque fez questão de retirar-se com rapidez, tirando as primas jovens. Tanto o rei quanto Elizabeth faziam questão de fazer comentários maldosos, arrancando risada da corja de nobres e a infinita bajulação de homens vestidos em trajes ridículos e espalhafatosos, Drakke poderia aceitar ser humilhado em público, mas não aceitaria comentários supersticiosos vindo de homens usando perucas e pó de arroz. A contragosto, sir Drakke pegou a menina pelo braço sem dizer uma palavra, a mesma não disse absolutamente nada como se soubesse de seu desconforto ali, permanecia de cabeça baixa como se o comando do avô ainda estivesse martelando em sua cabeça, mas isso não importava para sir Drakke, não por hora.
Foi um alívio para lorde Maximus Drakke, assim que chegaram na residência dos Drakke na capital, o lorde saiu imediatamente da carruagem a fim de não ter nenhum contato com a moça, havia mandado a criadagem preparar um quarto grande, mas modesto para a esposa, enquanto Grannus se encarregava de olhar as poucas propriedades que restaram, de modo a identificar quais delas era longe o suficiente, apesar de achar que nenhuma milha era suficientemente longe para o desgosto do novo barão.
A medida que o sol se escondia por trás do castelo, Drakke ficava cada vez mais ansioso e incomodado com a presença da princesa, apesar da mesma ter se enfurnado no quarto juntamente com a serva que ele havia nomeado para cuidar das necessidades da menina, ainda sim não a queria ali, parecia que só o fato de vê-la ou sentir sua presença, era um lembrete ambulante do seu fracasso e do incômodo que passou a sentir constantemente.
— Quando poderei mandá-la para longe? Perguntou ele, naquela noite, sentado à mesa enquanto jantava com Grannus, o cavaleiro propositalmente enfiou uma bola de almôndega na boca, retardando o inevitável, mas quando o seu senhor começou a respirar fundo com evidente impaciência, ele teve de admitir para si que não havia como escapar de tal pergunta, o jovem pôs a responder.
— Não acho que seria prudente mandá-la para muito longe, talvez para o campo, com meio-dia de viagem é suficiente, assim poderemos manter um olho nela.
Mas para o temperamento de Drakke, aquilo não era suficiente.
— Não, quero mandá-la para longe, não tínhamos propriedades em Nord Gales? Falou ele com certa urgência, mas Grannus sorriu como se aquilo fosse piada, porém, logo percebeu que para o ex duque não estava com humor para brincadeiras.
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A Guerra dos Arcanjos e a Princesa dos Demônios
FantasyEm um mundo distante, em terras remotas , havia um reino em ruínas chamado Hollietorn, um nobre falido busca limpar o nome da família apos seu pai ser acusado de insurreição. A casa da família Drakke se vê em declínio e para não deixar suas irmãs...