Jusalm

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Um dos homens sobe para cima das janelas num salto, deixo de o ver durante uns segundos, em cima do grande bicho, e depois percebo que deve tê-lo ligado. A máquina começa a vibrar, abana a areia à nossa volta, faz o meu corpo tremer ao ponto de deixar o meu estômago ao contrário. Aos poucos afunda-se pela areia, até só se ver as janelas, estas abrem como uma tampa para que entremos. 

Tento examinar a máquina, à espera de ver algo de diferente, mas toda ela está coberta pelo metal preto baço, a única coisa que nos deixa ver para dentro ou para fora serão as janelas.

Sigo o grupo e entro, saltando para um dos assentos só para depois sentar. Todo o veículo tem mais que lugares para todos, escolho um em frente, atrás do condutor, o único assento que está sozinho. Quem o ocupa é o Kiell, a pessoa que obviamente nos vai conduzir até lá. Ele é a última pessoa a entrar, parando para falar com os homens que depois das palavras se dispersam e nos deixam, novamente, sozinhos.

Com um pulo entra dentro do veículo, passando os dedos pelo assento de condutor como se houvesse alguma nostalgia, é possível que já tenha passado muito tempo numa máquina destas. Ele olha para nós, e aqueles olhos dizem-me que algo está mal, só não me contam o que é, eles saltam entre todos os presentes, para ter a certeza de que estamos todos, e depois de um dos seus silêncios típicos, decide mover-se.  

Com um clicar de botão a janela cai em cima de nós, fechando-nos dentro da barata enorme.

A máquina liga, mas só começa a fazer barulho quando começa a andar.

As janelas, feitas como um arco, deixam-nos ver para fora, para o céu brilhante, para as terras ao longe. E a outra metade do corpo mantém-se debaixo da terra, movendo-se rapidamente, sabe-se lá como.

Pergunto-me porque tem que estar uma metade escondida, e porque os vidros amarelos estão tão danificados, mas a ideia de que aquelas minhocas sejam mais comuns do que desejo vem-me à cabeça. Talvez seja uma questão de proteção contra esse tipo de criaturas.

Faço por relaxar, por meter o cinto, encostar-me no tecido preto macio como veludo e acalmar-me, mas agora parada, sinto as pernas dormentes outra vez. Sei imediatamente que não é cansaço, andamos muito e estivemos o caminho inteiro tensos, podiam ser dores de corpo apenas. Foram aqueles bichos, a força com que vieram ter comigo, envolvidos naquele tornado que me atirou com as pedras, tentando matar-me. Sei que fizeram estragos, e estas calças são demasiado apertadas para eu as ter vestidas.

Saio da minha cadeira e vou até às que se encontram mais atrás, em busca de alguma privacidade. Carrego no cinto e volto às minhas roupas normais e, com medo, levanto a camisola, escondida atrás de umas das cadeiras para que não me vejam. A marca roxa que tenho nas costelas assusta-me, tenho mais algumas nos braços que não são tão visíveis.

Se estou assim na parte de cima, imagino na de baixo, onde realmente me dói.

Arrisco e, com uma inspiração exagerada destinada a dar-me força, baixo as calças.

Não controlo o guincho de surpresa, as minhas coxas estão roxas, tenho as mesmas manchas, mas mais escuras, pisaduras enormes que ainda se estão a formar após apenas umas horas. Como é isto possível? Eu sei que levei com muita força na pele, mas não me acredito que se formaram estas marcas em tão pouco tempo, pensava também que o fato me ia dar mais proteção do que deu. Toco na pele e quase deixo sair outro barulho, dói, muito. Está muito sensível e pede por descanso. Não sei como fiz o caminho até ao barco, no barco e até aqui, sem me queixar.

Acho que a adrenalina só saiu do corpo agora.

— Foram os Jileongs? — Estou tão concentrada nas pernas que não reparo no corpo que tenho à frente. Subo a visão para o Kiell e tento cobrir-me o melhor que consigo. Demora demasiado tempo a notar na minha vergonha, mas após alguns segundos, as mãos caem-lhe na cintura e os calcanhares giram para me virar costas. — Desculpa.

Chasing RingsOnde histórias criam vida. Descubra agora