Capítulo 3 -

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Levantei o sol ainda não tinha aparecido

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Levantei o sol ainda não tinha aparecido. Peguei minha roupa no varal e me troquei depois de fazer minha higiene na agua fria da torneira. Sai da vila antes que todos se levantassem e fui procurar serviço no mesmo lugar de sempre. Fui ate o restaurante do seu madruga para ver se havia algo pra descarregar hoje. Ele não sabia que o gerente do restaurante me pagava as vezes pra descarregar o caminhão, se soubesse, talvez o impediria.

- Oi. Tem algo pra mim hoje? - Disse me aproximando do fundo do restaurante.

O gerente me olhou rapidamente.

- Não, descarregamos tudo ontem. Venha aqui na segunda, é quando as frutas e verduras chegam.

Balancei a cabeça positivamente tentando pensar onde eu conseguiria comida, ate meu olhar encontrar os sacos de lixo que ele retirava pra fora.

- Ah... Senhor Lucius. - Apertei minhas mãos uma contra a outra pensando se talvez eu devesse pedir algo para comer a e ele, mas depois me lembrei das minhas experiencias quando alguém que eu trabalhava descobria que eu era mendigo, todos sempre paravam de me chamar e as vezes ate me humilhavam e faziam eu trabalhar muito por 1, 2 reais.

- Sim?

- Ah... Nada não. Obrigada. - Balancei a cabeça o agradecendo e esperei ele entrar pra dentro, me certificando que ele não voltaria.

Entrei dentro do contêiner de lixo e puxei o saco que ele havia acabado de jogar. Não havia muita coisa ali, a grande maioria era papel sujo de manteiga, achei um pacote de pão que estava um pouco mofado. Limpei o mofo de uma das fatias mais limpas e sai de dentro do contêiner. Me afastei rapidamente do lixo para ninguém do restaurante me ver ali e continue caminhando pela calçada feliz enquanto comia o pãozinho.

Cheguei no centro da cidade, lá era mais fácil de encontrar algo para fazer.
Eu não tinha um centavo, as vezes eu comprava doces e vendia no farol. Mas os agiotais ultimamente estavam me seguindo e todos os dias que trabalhava e voltava pra vila com algum dinheiro eles me batiam e levava tudo, cada centavo. Por isso comer estava sendo quase impossível.

De longe vi o senhor Carlos tentando subir seu carrinho de pipoca pra calçada e atravessei a rua correndo para ajudá-lo.

- Bom dia Seu Carlos - sorri e peguei o carrinho de pipoca o puxando com toda força que eu tinha até que ele estivesse em cima da calçada onde o senhor Carlos costumava vender pipoca todos os dias.

- Bom dia Chaves - ele disse ofegante, cansado. Assim que ele estacionou adequadamente seu carrinho ele levantou o rosto me olhando e arregalou os olhos.

- O que houve? Está todo machucado.

- Ah... - forcei a continuar sorrindo. - Foi nada não seu Carlos. - Tenha um bom dia de trabalho. - Sai de perto dele antes que ele me fizesse mais perguntas.

Eu estava me esquecendo que estava com rosto todo machucado, seria difícil arrumar algo assim.
Passei a manhã e à tarde indo em todos os lugares que as vezes eu conseguia um bico. Mas não havia conseguido nada hoje. Tudo bem, amanhã era outro dia e quem sabe meus machucados estariam melhores e eu conseguisse alguma coisa. O pãozinho de hoje cedo já havia feito meu estômago dar uma sossegada durante o dia.
Assim que anoiteceu eu fui para a vila, era perigoso ficar andando por essas ruas a noite. Eu entrei no beco e me sentei no chão atrás do contêiner de lixo para esperar anoitecer um pouco mais antes de eu entrar na vila, pra não correr risco de encontrar ninguém. O inverno estava chegando e cada noite que passava estava mais fria, eu precisava conseguir roupas quentes antes da temperatura piorar mais. Assim que a maioria das luzes das ruas se apagaram eu entrei novamente pra vila, estava tudo quieto e silencioso, apenas o som de alguma televisão ou outra ligada dentro das casas aquecidas.

Fui até a mangueira atrás da vila, tirei minha roupa e tomei um banho galeado, aproveitando pra lavar minhas peças de roupa que realmente fediam a lixo por eu ter entrado no contêiner de lixo mais cedo pra achar o pãozinho. Minha boca salivou quando me lembrei do pão que havia comido mais cedo. Ainda com o corpo úmido. Vesti as outras únicas peças de roupa que tinha que consistia no blusão e na calça de saco de batatas, coloquei minhas peças de roupa no arame e assim que dei o primeiro paço escutei o barulho da minha calça se rasgando ao meio, se não fosse pela blusa que pegava quase nos meus joelhos sem dúvidas minhas partes íntimas estariam expostas.

- merda. - sussurrei. - eu teria que encontrar outro saco da baratas e uma agulha e uma linha e sinceramente isso era muito difícil, já que da última vez quem me emprestou havia sido o seu madruga, e isso já havia feito 4 anos.

Tirei a calça observando o rasgado, seria quase impossível remenda-lo.
Tampei minhas partes íntimas com a camiseta e atravessei o pátio silenciosamente até meu barril. Onde eu entrei e tentei me aquecer o máximo. Devia fazer uns 10 graus, e eu estava quase sem roupas. A vida as vezes me pregava algumas peças, e sinceramente eu estava exausto.
Encostei minha cabeça no barril e me ajeitei do jeito que pude.
A madeira fazia ficar quente, as vezes não deixava eu respirar normalmente mas eu estava acostumado, aquele tinha sido meu lar desde pequeno.

Eu não lembro exatamente quando fui deixado ali, mas por mais que eu não tivesse pais eu tinha amigos que eram quase uma família pra mim. Eles me educaram, me colocaram na escola, as crianças brincavam comigo, mesmo com todo bullying, ainda era minha família, meu lar. Mas não nos últimos quatro anos. Eu os perdi. Perdi os amigos, a família e agora tudo que eu tinha era um par de roupas que eu havia ganhado do quico antes de ele ir embora e meu barril, que já estava com as madeiras apodrecendo de tão velho, e eu tentei tantas vezes ter um emprego fixo, ser alguém. Estudar como os meninos fizeram.
A uns anos atrás eles disseram que me ajudaram a me formar, mas tudo isso mudou desde que eu deixei que eles me roubassem quando ia pagar o hospital do seu Jaime. Eles acharam que eu havia os roubado, mas eu nunca roubaria minha família.
Desde então eu nunca mais os tive, nunca mais tive nada, nem um lar.

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